sexta-feira, 24 de outubro de 2008

QUASE UMA BALZACA

Para K, menina-moça quase chegando lá

“O ápice da vida amorosa de uma mulher”.

Foi o que disse Honoré de Balzac, em 1830, obviamente referindo-se àquelas jovens (?) nascidas pelos idos de 1800.

De lá pra cá muita coisa mudou, não? As tais senhorinhas, educadas (quando muito) para as tarefas do lar, já haviam tido uma penca de filhos, os mais velhos dos quais, provavelmente em vias de também se casarem e deixarem a sombra materna. O desgaste físico e as inevitáveis marcas do tempo, a plena maternidade, a ainda mais plena maturidade e as contradições do desejo e da cultura oitocentista são o veio básico no qual garimpava Balzac.

Zulma Carraud, amiga de Balzac, disse-lhe certa feita, em carta: “Você tem uma inteligência da mulher que nunca foi dada a nenhum outro homem... Ainda há algumas misérias desse pobre sexo que lhe escaparam; mas, decerto, nunca um homem conseguiu entrar mais fundo na existência delas...”

Será mesmo, Monsieur Balzac? Cerca de duzentos anos depois, creio que o célebre autor francês se espantaria: jovens e torneados corpos, melhor grau de instrução (na média) que os homens, profissionais fora do lar (ainda que pior remuneradas que aqueles) e, diferença mais notável, sem prole e solteiras. E muitas delas assim desejando permanecer...

Mas e no íntimo, por dentro mudou muita coisa também? Ou será que pouco importa e urgem as mesmas necessidades na vida dessas mulheres: casar, ter filhos, quem sabe, até netos. Ou será que mudou também a moral romântica? Produção independente, “ficante”, amante, amizade colorida, reserva de manutenção, homens casados (ops, tô dentro, rsss), homens bem mais jovens, ou velhos, celibato involuntário, outras mulheres?

Não me arvoraria em receber carta de igual teor de alguma Madame Carraud, mas intuo fortemente que, aos poucos, aparece uma “nova” mulher, mais ou menos na faixa dos trintinha que, entre outras características, se expõe muito mais que aquelas de gerações anteriores. E algumas delas ainda escrevem bem pacas...

A trilha musical tem mais de trinta anos e foi composta pelos irmãos Marcos e Paulo Valle, numa época em que “juventude” significava bem mais que uma calça jeans, velha e desbotada e algumas mulheres ainda queimavam sutiãs.

 Claudia - Com Mais de Trinta - Claudia - Com Mais de Trinta


Não confio em ninguém com mais de trinta anos/Não confio em ninguém com mais de trinta cruzeiros/O professor tem mais de trinta conselhos/Mas ele tem mais de trinta/Não confio em ninguém com mais de trinta ternos/Não acredito em ninguém com mais de trinta vestidos/O diretor quer mais de trinta minutos/Pra dirigir sua vida/Eu meço a vida nos coisas que faço/E nas coisas que sonho e não faço/Eu me desloco no tempo e no espaço/Passo a passo faço mais um traço/Faço mais um passo traço a traço/Sou prisioneiro do ar poluído/ O artigo trinta conheço de ouvido/Eu me desloco no tempo e no espaço/Na fumaça um mundo novo eu faço/Faço um mundo novo na fumaça.
..
Ah, como sempre faz a gatíssima (e talentosíssima) blogueira K: e vocês, confiam em quem tem mais de trinta? Na K eu confio...

7 comentários:

  1. to chegando quase lá... e mesmo sem a conjuntura de outrora, em estrutura a mulher é a mesma!
    belo post!
    beijos
    *áh... tenho uma florzinha no pulso, uma estrela no ombro e uma lua no lado esquerdo da lombar. quase um álbum ded figurinhas, rsrs!
    beijos, quase Balzaqueanos, novamente!

    ResponderExcluir
  2. Ei Ju,

    na minha opinião você está entre aquelas que, preservando a estrutura, representam talvez uma mulher que muda as estruturas. Sem alarde, sem sutiãs queimados, com todas as contradições, mas se expondo um pouco mais e sabendo se expressar.

    Olha, eu confesso que fiquei muito interessado nas outras tatuagens...
    Apenas do ponto de vista artístico, claro... rsss

    ResponderExcluir
  3. hahahaha... do ponto artístico te mando as fotos depois!
    ;-)
    beijos, querido!

    ResponderExcluir
  4. 30??? Já faz um tempinho que comemorei...rsrs

    Óbvio que tudo muda, mas digo que aos trinta eu tinha dois filhos pequenos, marido, casa, muitos afazeres... Hoje vejo que o tempo passou rápido e ficaram os "fragmentos do passado na memória" (acho que o Todo Prosa falou algo parecido com isso hoje..rs)...

    Diria que eu sou muito mais leve e solta hoje do que com 30.. acho até que fiquei mais jovem..rsrsrs E passei a me importar muito menos com coisas que pareciam tão grandes naquela época...

    Filosofando em blog alheio? rsrs Não não, apenas querendo dizer que precisamos viver intensamente cada fase de nossas vidas.

    beijos pro erreemezinho queridíssimo e pra K lindona (e quase trintona..rs)

    Maroca

    ResponderExcluir
  5. Ei Maroca, gatona titular da (minha) confraria,

    ninguém tem dúvida de que você melhora (ainda mais) a cada fase, mantidos intocáveis o charme, a elegância, o bom humor e o alto astral.

    Mas aqui nesse postinho a senhora deu uma bela subida no muro, heim?
    (rsss)

    E mais: quando faço referência à faixa dos 30, é apenas uma simplicação. A coisa não tem exatamente a ver com a idade, mas com o comportamento. Assim, sinta-se também atingida pelos venenos (inofensivos) deste postinho e volte aqui, comentando e descendo do muro... rsssss

    ResponderExcluir
  6. Bela tentativa meu caro.

    Sei que esse post foi uma estratégia, digamos um ato de bondade, para que eu me sinta bem com meus quase 30...

    Percebi tudo... tudinho....

    :)

    Brincadeiras à parte, ahhhh, só você mesmo para me fazer quase feliz de estar chegando aos 30.

    E pensando no que você escreveu, acho que a moral romântica permanece a mesma... continuamos todas (inclusive as 'novas' mulheres) a fazer aquela cara de boboca quando vê um baby, ou um cachorrinho, etc, etc... iguaizinhas. Talvez mais exigentes...rs. (vai ver que é a memória genética..rs) mas, ainda assim, românticas. E que bom que é desta forma.

    Quanto a confiar, bem... tem sempre aquela piada feita por Marx que ria de não se dignar a pertencer a um clube que aceitasse alguém como ele de sócio...

    rs rs rs

    acho que esse é o caso.! essa confraria é suspeita! rs

    BEIJOSSSSSSSSSSSSSSS, obrigado.

    adorei a homenagem e já estou ótima! (até o dia 11 de dezembro ainda terei vintes e poucos..rs)

    depois também
    rs rs rs rs


    beijos.

    Gatésimo, não confie em mim! eu não confio!!!!

    ResponderExcluir
  7. Querida,

    claro que é uma brincadeira, né? Fosse sério não estaria escrevendo nesse bloguinho de venenos e sim num blog "sério" (rsss), comandado por mulheres, profissional e inovador... rsss

    Mas a pequena homenagem (ménage?) é sincera e acho que você (em especial) e as outras gatas listadas aí à esquerda (além de muitas outras, claro) representam bem essa "quase balzaca", moderna, contemporânea.

    (e nessa confraria, quem matou menos foi o Al Capone... eu devo ser o menos venenoso de todos... rsss)

    ResponderExcluir