terça-feira, 26 de julho de 2011

COMO ASSIM "CURIOSO"? EU HEIM?!


Como entendo lhufas de astrologia (e menos ainda de "curiosidade") sugiro que consultem post análogo, mas muito mais informativo (aqui).
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

QUASE TÃO BONS QUANTO OS ORIGINAIS (2)


Conforme prometido, segue o segundo post da série "quase tão bons quanto os originais". Devo dizer que é um bocado trabalhoso manter a promessa: requer que se ouça várias dezenas de versões até satisfazer os critérios da série ou achar aquela que se sabe ser a melhor mas não se encontra em lugar algum... Não reclamo; acho bom e prazeroso o resultado final e, afinal, como se diz alhures (e algures), quem quer moleza que vá empurrar bêbado em ladeira...

Na ordem da lista: com o famoso coro masculino inglês The King's Singers, versão à capella de Michelle (Lennon/McCartney). Não resisti e repeti Ray Charles, desta vez numa sensível interpretação de Yesterday (Lennon/McCartney). Aliás, em matéria de sensibilidade difícil superar Connie Evingson (aqui website oficial), cantora americana de jazz (de novíssima geração) cantando a fossa mccartneyana For No One (Lennon/McCartney). Na sequência (e de longe) a melhor versão de Here, There and Everywhere (Lennon/McCartney) depois dos próprios autores, pela voz e guitarra de George Benson. E que tal Let It Be (Lennon/McCartney) cantada como música de igreja (americana), pela indescritível voz da negona Aretha Franklin? Sérgio Mendes reinventa e transforma The Fool On The Hill (Lennon/McCartney) em bossa nova da melhor qualidade: show de bola! Já o grupo folclórico russo Baba Yaga (aqui para uma bio, aqui para ver no youtube) dá sentido inteiramente novo à expressão Back In The URSS (Lennon/McCartney): também sensacional! Segue versão cool de In My Life (Lennon/McCartney), no violão impecável de Kotaro Oshio (aqui website oficial): e não são vários violões mas o japa detonando no "fingerpicking" . Apenas voz e contrabaixo numa versão surpreendente de Blackbird (Lennon/McCartney), pela dupla italiana Petra Magoni e Ferruccio Spinetti (aqui o website oficial da cantora). Penny Lane (Lennon/McCartney) aparece com orquestra e violão clássico do virtuose sueco Göran Sölscher - aliás, um nada clássico violão de onze cordas (aqui para verem o estranho instrumento)... Stevie Wonder acelera o andamento de We Can Work It Out (Lennon/McCartney) e não é que fica legal? Pra terminar arrasando, o lendário guitarrista Jeff Beck tornando ainda mais emocionante a já arrepiante A Day In The Life (Lennon/McCartney) de Lennon (aqui para ver o vídeo).


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terça-feira, 5 de julho de 2011

DIRETO AO PONTO



Rss


ATUALIZAÇÃO (12/07/2011 às 16:55 hs.)


E para quem ainda não conheceu "alguém", acaba de ser lançado um site para traição (?) no Brasil (mais aqui). Segundo a vice-presidente do site, Lais Ranna, o cadastro para mulheres é 100% grátis, "porque elas precisam de vínculo afetivo"... Vínculo afetivo pra trair? rss


ATUALIZAÇÃO (20/07/2011 às 16:05 hs.)


"E a versão brasileira de site para traição bate recorde de cadastros comparada às de outros países" (mais aqui). Mas não se preocupem, não existe esse negócio de chifre... Isto é apenas coisa que querem pôr nas suas cabeças... rss
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ATUALIZAÇÃO.

sábado, 2 de julho de 2011

BARRA DO RETIRO

OU VILA DE SÃO SEBASTIÃO DO RIBEIRÃO PRETO.


Ou simplesmente Ribeirão Preto.

Não; ainda não tive o prazer de conhecer a famosa Capital do Chope, ou ainda a Capital do Café, a Capital Nacional do Agronegócio, a Califórnia Brasileira... Mas, pelas poucas pessoas que conheço, que lá residem, tenho sinceras simpatias pela cidade. E não conheço Antônio Palloci Filho!


Mas é impressionante a quantidade de notícias curiosas, estranhas e até mesmo bizarras que se originam daquelas plagas... As que reuni abaixo (e em relação às quais fiz breves comentários) são referentes apenas ao último mês de junho...


Mulher guardava 2 toneladas de lixo em casa Não; não era o lixo debaixo do tapete de Palocci, que deve ser bem maior...

Garota que chora sangue será examinada hoje Bem, conheço uma que chora chope (ou, ao menos, chora a falta dele). Do Pinguim... rs

Irmãos morrem no mesmo dia por causas diferentes em Ribeirão Ué, seria notícia se morressem em dias diferentes por razão igual?

Após dar à luz gêmeas, mãe foge de hospital em Ribeirão Preto Depressão pós-parto, certamente. E, nesse caso, depressão "dupla"...

AVA faz campanha para castração de animais pela metade do preço Caraca; perguntaram pros bichos o que eles acharam dessa redução de preços? rss

Homem morre atropelado pelo próprio carro em Ribeirão Preto  Isto que é auto-suficiência, heim? Só faltou ele mesmo se sepultar...

Polícia apura suspeita de gatos assassinados em Ribeirão Suspeita dos gatos? Vai ver eles fingiram estar mortos para não "aproveitarem" a redução de preços da "AVA"... rs

Filhos querem indenização por abandono da mãe Putz; abandonaram a mãe e ainda querem a grana da velha? Quanta ingratidão... rs

Homem leva filho de 13 anos para cometer roubo em residência Ora; um pai responsável, preocupado com a formação profissional do filho... Afinal. está muito difícil arranjar emprego para jovens aprendizes...

Blogueira entra em TPM por causa de eclipse lunar Rss.
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sábado, 21 de maio de 2011

HORA DO RECREIO









Vou ali ver o show do vovô Paul e volto segunda-feira.

Cliquem aqui para uma prévia do que deve acontecer no Rio...
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ATUALIZAÇÃO (23/05/2011 às 15:50 hrs.)


E a seguir um dos pontos altos do show, com o Engenhão indo à loucura...


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ATUALIZAÇÃO (26/05/2011 às 19:45 hs.)

E abaixo, em pleno Engenhão, pai e filho se divertem...



sábado, 16 de abril de 2011

QUASE TÃO BONS QUANTO OS ORIGINAIS


Sou obrigado a reconhecer que esse bloguinho é um bocado esquisito: seu autor, beatlemaníaco confesso, já fez vários posts sobre aquele bando de Liverpool, mas nunca os colocou para tocar aqui!? Ou são fakes ou músicas de suas respectivas carreiras-solo ou outras maluquices que ele inventa (cliquem na tag "beatles" para conferir). Para não fugir à regra, desta feita escolheu covers dos "Four Fab", mas de primeiríssima qualidade.

Algumas canções dos Beatles tem dezenas e mesmo centenas de versões, o que torna difícil e ingrata a escolha. Aqui estão algumas das quais gosto e o critério utilizado, além do gosto pessoal, foi o de terem acrescentado algo às composições, em princípio impecáveis... Na ordem em que aparecem na lista:

Com o fantástico guitarrista nova-iorquino Stanley Jordan, versão instrumental de Eleanor Rigby (Lennon/McCartney). Segue Nina Simone, numa versão cool (como a voz dela) de Here Comes The Sun (Harrison). Outro guitarrista de primeira, John Pizzarelli, transforma Oh Darling (Lennon/McCartney) numa "suingada" canção estilo old times.... Beto Guedes e a verdadeira The Voice, Milton Nascimento, enfeitam Norwegian Wood (Lennon/McCartney). Joe Cocker conseguiu proeza em With A Little Help From My Friends (Lennon/McCartney), tornando-a, talvez, mais conhecida que a própria gravação dos Beatles em Sgt. Peppers. Uma interpretação quase triste de Ticket To Ride (Lennon/McCartney) segue com os irmãos The Carpenters. Numa canção que ganhou versões de todos os vozeirões americanos, Lady Madonna (Lennon/McCartney), agrada-me a suavidade "bossanovista" da interpretação de Caetano Veloso. Não conhecia e adorei essa versão reggae de Because (Lennon/McCartney) da banda argentina de "ska", Satélite Kingston. Já a banda americana de R&B e funk, EarthWind & Fire, consegue pôr ainda mais balanço na já rebolante Got To Get You Into My Life (Lennon/McCartney). Na sequência a cantora e violinista americana Alison Krauss, lapida a joia I Will (Lennon/McCartney). Alguém me diga se o melhor da versão de The Long And Winding Road (Lennon/McCartney) é a voz de Ray Charles ou a orquestra de Count Basie! Pra fechar, The Mamas and The Papas, numa versão de I Call Your Name (Lennon/McCartney), chega a fazer pensar que os Beatles é que eram covers...

Bem, reuni material para mais um ou dois posts. Se vocês gostarem...


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domingo, 10 de abril de 2011

DOIS DISCURSOS E UM FUNERAL

Os autores são dois senadores da República e os discursos pronunciados no mesmo dia, quarta-feira passada. A primeira, senadora Kátia Abreu (DEM-TO), tem exatamente a minha idade, é psicóloga pela Universidade Católica de Goiás e tornou-se pecuarista depois da morte do marido, em 1987. Foi presidente do Sindicato Rural de Gurupi, da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins e é a atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Elegeu-se deputada federal em 2002 e senadora em 2006, consolidando o papel de líder da bancada ruralista no Congresso. Por sua filiação partidária e ideológica tornou-se uma espécie de antípoda das esquerdas que assumiram o país a partir de 2002. Colecionou adversários entre os setores defensores da reforma agrária e contrários ao chamado "agronegócio", além de, mais recentemente, dos ambientalistas (que a chamam de "Miss Desmatamento")..


O outro é o senador Aécio Neves (PSDB-MG), dois anos mais velho que a senadora e economista pela PUCMinas (coincidentemente da mesma turma do blogueiro). Ao contrário da primeira, nasceu para ser político: neto de Tancredo Neves e de Tristão da Cunha e filho de Aécio Cunha, é herdeiro biológico de uma verdadeira linhagem política. Ainda em 1982, quando mal estráramos na universidade, foi ser secretário particular do avô, então eleito governador de Minas. Com sua morte ocupou a diretoria de loterias da Caixa (cargo até hoje muito cobiçado) e elegeu-se deputado federal sucessivas vezes, chegando à liderança do partido e à Presidência da Câmara. Perdeu uma eleição para a prefeitura da capital e ganhou duas para o governo do Estado. Desde a primeira eleição para governador teve uma posição de proximidade e até de parceria com Lula; "namoro" cujo resultado mais concreto foi o apoio de ambos à candidatura do atual prefeito de BH. Mas durante um bom tempo supos-se que pudesse ser uma alternativa de composição na sucessão de Lula, sem confrontá-lo. 


Pois muito bem, a senadora, que aparentava ser a inimiga número um do "lulopetismo", anunciou sua adesão a um partido que apoiará o governo Dilma! E o senador, que tanto flertou com aquele, informou que liderará a oposição a este mesmo governo! Ora, será algum "samba do político doido"? Ou apenas mudança por conveniência dos respectivos projetos eleitorais? No afã de esclarecer passo, na sequência, a analisar amiúde trechos dos dois discursos: o que, enfim, estará nas entrelinhas dos pronunciamentos? Ou: será que há vestígios de racionalidade e coerência?  




Disse a senadora (aqui íntegra do discurso): 


"Não há discordância ideológica substancial entre o PT e o PSDB. Ambos são de esquerda e buscaram alianças conservadoras para chegar ao poder. Mas as alianças nunca foram doutrinárias e o ideário liberal ficou em segundo plano."
E o partido do Kassab, com seu "rigoroso" arcabouço ideológico, será a salvação do pensamento liberal no Brasil? Que gado é esse, senadora? rss


"Hoje, os partidos são identificados não pelo que propõem, mas por sua posição em relação ao governo: oposição ou situação. Aos primeiros, cabe dizer não; aos segundos, dizer sim. Não há democracia que se consolide em tal quadro."
Ué, é assim no mundo todo! Só aqui a oposição quer apoiar (e receber do) o governo e os governistas, por disputa de espaço, lançam "fogo amigo" nos próprios aliados... Democracia não se consolida é onde governo e oposição se misturam.


"Considero que a parceria que nos uniu [o DEM e o PSDB] chegou ao fim. Não mudei de ideias ou de identidade, mas já não vejo meios de implementá-las de onde estava. Perguntam-me se o PSD fará oposição ou se fará parte da base do governo. Não é assim tão banal. Se fosse, não seria preciso criá-lo. É evidente que as forças políticas que sustentam o atual governo filiam-se a uma corrente de pensamento distinta da minha. No essencial, divergimos, o que não impede que possamos convergir."
Puxa! Ser fiel aos princípios liberais e apoiar Dilma deve ser complicado mesmo... rss


"Nosso ideário consagra a defesa da economia de mercado. Não cremos no Estado-empresário. Mas não só. O que vemos como urgência é a defesa da liberdade individual, da liberdade de pensamento, liberdade para fazer suas escolhas. Liberdade de pensamento é o convívio civilizado com as ideias com que não concordamos, mesmo com as que eventualmente abominamos, nos limites da lei."
Peraí, este discurso é o da Kátia ou o do Aécio? Ou será que ambos foram escritos pelo mesmo "fantasma"?


 preciso nitidez de compromissos. O capitalismo no campo é o mais eficaz fator de erradicação da pobreza neste país."
Então não seria o caso da senadora tornar-se ministra do Desenvolvimento Social do governo Dilma? rss


"As entidades representativas da sociedade civil não podem monopolizar ou tutelar o debate. As minorias, ambientalistas ou produtores rurais não são segmentos isolados, com interesses que devam se sobrepor ao conjunto do qual fazem parte."
Finalmente algo faz sentido no discurso da senadora: o que ela diz, em entrelinhas garrafais, é que não se importa de apoiar o governo Dilma, desde que seus interesses setoriais - mais precisamente, sua disputa com os ambientalistas - sejam atendidos. Haja ética!    




E disse o senador (íntegra do discurso aqui): 


"Não confundo agressividade com firmeza. Não confundo adversário com inimigo."
Espero que também não confunda tibieza com covardia, nem omissão com traição!


"Farei a política que sempre fiz, aquela que entende que, neste campo, brigam as ideias e não os homens. Estarei onde sempre estive..."
Ah, já sei: No Rio! rss



"Por mais que queiram, os partidos não se definem pelo discurso que fazem, nem pelas causas que dizem defender. Um partido se define pelas ações que pratica. Pela forma como responde aos desafios da realidade."
Impressionante a complementaridade com o discurso da senadora, não? O que ela jurou de pés juntos, ele negou três vezes antes do sol raiar...


"Sempre que precisou escolher entre os interesses do Brasil e a conveniência do partido, o PT escolheu o PT. Reconheço avanços no governo Lula. Acredito que os governos Itamar, Fernando Henrique e Lula sejam um só período da história do Brasil, de estabilidade com crescimento, sem rupturas."
Agora o senador corrobora a principal tese da senadora, a de que o PSDB e o PT são iguais. Então para que oposição?


"O Brasil cor-de-rosa vendido competentemente pela propaganda política -- apoiada por farta e difusa propaganda oficial -- não se confirma na realidade.  O desarranjo fiscal, o grave risco de desindustrialização e a grave doença da inflação... Não há razão para otimismo quando comparamos a nossa situação com a de outros países."
Se é assim, por que o senador quer fazer uma oposição rosinha? Modus in rebus, senador!


"Em 2010, a nossa carga tributária atingiu 35% do PIB. A carga tributária das famílias com renda mensal de até dois salários mínimos passou, segundo o IPEA, de 48,8%, em 2004, para 53,9% da renda em 2008."
E como será que o senador explica o apoio de Anastasia - espécie de "Dilma" do Aécio -, à volta da CPMF?



"Temos como obrigações básicas: fiscalizar com rigor; apontar o descumprimento de compromissos assumidos com a população; denunciar desvios, erros e omissões; e cobrar ações que sejam realmente importantes para o país."
É lamentável; mas nem esse "básico" a atual autodenominada oposição está conseguindo fazer... Tá bem: se o senador conseguir já será um avanço...




"É nosso dever contribuir para que a travessia iniciada -- e empreendida por muitas mãos -- avance na direção do pleno desenvolvimento. A oposição que defendo não é a de uma coligação de partidos contra o Estado ou o país, mas a da lucidez da razão republicana contra os erros e omissões do poder público."
Ué, ele vai para o mesmo partido da senadora?





Bem, o atento leitor desse bloguinho deve estar se perguntando: o blogueiro falou falou dos discursos mas nada do funeral... Queridos leitores, sinto informar que a oposição morreu!
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quinta-feira, 24 de março de 2011

FUX DEU...







... Luiz FUX DEU o voto decisivo contra o Ficha Limpa. Aliás, FUX, DIAs Toffoli, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Celso Mello e Peluso foram os 6 votos que invalidaram a execução da lei para as eleições de 2010 (mais aqui). Do outro lado do balcão um milhão e seiscentas mil assinaturas populares frustradas...

A tese vencedora foi a baseada no princípio da anterioridade, que prediz um prazo mínimo para a vigência de determinadas leis. É o caso, por exemplo, das leis que criam tributos ou impostos e o sentido é permitir ao contribuinte um mínimo de previsibilidade. Não afirmo mas também não duvido que este dispositivo se tenha derivado do direito consuetudinário inglês, baseado na idéia de que o cidadão (contribuinte) deve ser protegido do Estado (Fisco).

Nada disso se aplica ao presente caso: nada foi "imprevisto"; o Congresso discutiu, por meses a fio, e votou a lei antes das eleições. Os órgãos de comunicação cobriram à farta os acontecimentos. Os tribunais, inclusive o Superior Eleitoral, sinalizaram, através de suas decisões a legitimidade e a constitucionalidade da lei. O "previsível" era que a lei tivesse vigência plena, o que chegou até a desestimular candidaturas de alguns "fichas sujas". Ao contrário, seria pouco crível a alegação de que a lei pegou alguém com as calças (ou cuecas) nas mãos (ou cheias de dólares). Enfim, se o princípio da anterioridade fazia muito sentido nos tempos vitorianos, em que as dificuldades de comunicação e transporte implicavam em muitos meses de defasagem entre decisões legais e o seu conhecimento efetivo; em nada combina com a comunicação instantânea dos tempos da internet. Só mesmo declarando-se cego, surdo e mudo...

E o que dizer da idéia, implícita, de que o cidadão precisa ser protegido da sanha do governo ou dos legisladores? Ora, no caso em questão é precisamente o contrário: o sentido da lei é o da proteção do cidadão (eleitor) diante das lacunas e vícios legais que permitem a notórios bandidos candidatarem-se e, dessa exata forma, livrarem-se da justiça. O cidadão não foi protegido de nada com a decisão tomada; ao contrário, foi desprotegido contra malufs, jáderes e outros tantos mensaleiros...

Resta o princípio, ainda mais geral, da necessária "segurança jurídica" a lastrear a idéia, falsa, da não-observância do princípio da anterioridade. Mas quem precisa dessa "segurança": o político ou o eleitor? Não é o político que deve servir ao eleitor? Pois este apôs 1.600.00 assinaturas na lei aprovada no Congresso... E ademais, um Supremo que não conseguiu decidir-se sobre a extradição de um comprovado bandido italiano e sofre reiteradas críticas de aparelhamento; não tem muita moral para reclamar de segurança jurídica. Ou alguém sabe que resultados podem sair do julgamento do Mensalão, o mais escandaloso e documentado caso de corrupção no Brasil? Ou sabe-se sequer se haverá julgamento?

Em setembro do ano passado escrevi sobre esse assunto (aqui para quem se interessar). Dizia lá o que acabo de repetir, mas também reconhecia a dificuldade para que a lei alcançasse crimes cometidos antes da sua vigência, reafirmado por FUX, em aDENDO. Quanto ao princípio da não-retroatividade parece-me pacífico que a Lei da Ficha Limpa só pode penalizar "para frente" e não "para trás", o que, na prática, resultaria no mesmo decidido ontem pelo Supremo... Mas há algo muito mais tenebroso à vista: votos de vários ministros sinalizaram para a aplicação, ortodoxa, do princípio da presunção de inocência (mais aqui). Uma das "inovações" da Ficha Limpa foi sua aplicação a partir de uma decisão judicial colegiada, ou seja, antes de percorrer todas as instâncias cabíveis. Se prevalecer o entendimento tradicional, isto significa que, na prática, a lei não será aplicada; pois há tantas instâncias e recursos em cada delas, que os processos durariam anos ou mesmo décadas...

Está se untando o forno para assar a maior pizza de todos os tempos: a pizza da Ficha Limpa! Ao Supremo cabe a prudência de não transformar as 1.600.000 assinaturas em 16 milhões e a ficha de políticos em juízes fichados. Aí não adiantará mostrar-se o novo ministro FUX arrepenDIDO...
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domingo, 20 de março de 2011

"Pega, mata e come"


Entre tsunamis, inflação descontrolada, guerras e emergência atômica - o assunto da semana na twitteresfera brasileira foi o "blog milionário" da cantora baiana Maria Bethânia. A notícia (leiam aqui) provocou candentes e apaixonadas reações, a maioria contrária ao projeto e até mesmo hostil à artista (veja-se, por exemplo, aqui e aqui).

Não tenho qualquer predileção pela cantora em questão, apesar de reconhecer seu talento e merecido sucesso (aquiaqui se alguém desejar saber o que penso das cantoras brasileiras), mas sinto que, bode expiatório, tem sido vítima de linchamento moral e "macarthismo" e de ambos os lados do espectro ideológico. A mim me incomodam mais as críticas que vem dos setores incrustados no aparelho do estado desde 2003, sobretudo porque, demagógicas, buscam alcançar objetivos inconfessáveis (essa turma ligada à "cultura" já havia sido objeto de duras reprimendas deste bloguinho aqui e aqui).

Creio que o grosso das críticas decorre de vasta desinformação ou ignorância dos mecanismos legais utilizados para financiar projetos culturais no Brasil. O ponto de inflexão é o governo Collor: antes dele um conjunto de mecanismos estatais (Fundos, empresas e outros organismos estatais do setor cultural) de apoio; depois a chamada Lei Rouanet - entre os dois um vácuo que praticamente extinguiu as atividades culturais no país... Qual era a lógica? O que era estatal era considerado ineficiente, caro e corrupto. Deveria, pois, ser substituído pelo setor privado. O mecanismo pensado para fazer essa substituição foi a lei que ganhou o apelido do importante intelectual (Rouanet); através de incentivos fiscais às pessoas físicas e empresas que investissem em cultura. A idéia-chave era entender a cultura como atividade econômica e usar o marketing cultural como chamariz para as empresas.

Ao longo dos últimos 20 anos este foi o mecanismo responsável por financiar cerca de 70% de toda a atividade cultural brasileira (o resto, cerca de 30%, é financiado diretamente pelo governo) em âmbito federal. Significa algo como R$ 1 bilhão por ano. É, portanto, um estrondoso sucesso! Tanto que a experiência repetiu-se em escala estadual e municipal. Será que há imperfeições na lei? Certamente! Será que houve desvio de propósitos ao longo dos 20 anos de existência do mecanismo? Muito provavelmente! Mas o que revela a repercussão do caso Bethânia vai muito além da chamada "crítica construtiva". De um lado os velhos opositores da influência do mercado no setor cultural; estes que, ao longo dos últimos 8 anos, tentaram sem sucesso (e por incompetência) acabar com a Lei Rouanet. De outro, setores contrários ao atual governo, que vêem no episódio uma chance para tirar uma "casquinha", sem atentarem para o fato de que fazem o jogo dos que endeusam o Estado...

O que está em questão não é o mérito da cantora, nem muito menos o seu projeto um tanto canhestro. O que está em questão é o financiamento da atividade cultural com alguma interface com o setor privado ou inteiramente dependente do Estado. Não há outras alternativas colocadas à mesa. Nesse caso eu me alinho aos que defendem o mecanismo de incentivo fiscal em detrimento da ingerência estatal.


Passemos então às principais críticas apresentadas que, repito, derivam basicamente da desinformação, demagogia ou má fé de seus autores. Considero que a grande maioria se enquadra no primeiro aspecto; deixarei claro quando não for o caso:

1. A cantora, bem sucedida, não precisaria de incentivos
A premissa é falsa, a lei não distingue entre bem ou mal sucedidos; vale para todos, democraticamente. Imagino que quem compartilhe desse argumento também concorde que os "ricos" não tenham devolução do imposto de renda, afinal eles "não precisam"...

2. A famosa cantora compete com novos "talentos"
Esta a idéia central que norteou a (falta de) política cultural nos anos Lula e o argumento da mais pura má-fé! O mercado (leia-se a Lei Rouanet) só se interessaria por gente famosa. do eixo centro-sul. Bethânia representa bem o estereótipo. Mas quem deve dizer o que é um "talento"? O governo ou o mercado? Por que um empresário (ou empresa) financiaria um projeto definido pelo governo e não por ele? E por que haveria de financiar o "grupo de forró de Quixeramobim" ao invés da cantora de primeira linha?

3. O dinheiro é "público"
Aqui, além da desinformação, há clara conotação demagógica. Em primeiro lugar ele só seria público se fosse efetivamente recolhido aos cofres e não há nenhum motivo concreto para supor que o fosse. O sistema tributário mais escalafobético do planeta permite um sem número de manobras e jeitinhos que até criou uma nova ciência: a administração tributária. Segundo, a renúncia não é da totalidade dos recursos empregados, mas de 40% das doações e 30% dos patrocínios (uma simpática leitora corrigiu-me quanto às variações da lei - vejam abaixo no comentário de Lana Coluccine), sempre restrito ao limite de 4% do imposto devido (no caso de pessoas jurídicas). Terceiro, esses recursos competiriam com outras demandas mais "nobres": educação, saúde, moradia... Ora, os recursos totais da Cultura representam algo em torno de 1% do Orçamento Federal... Mas o mais curioso: por que não reclamam com a mesma ênfase dos recursos subsidiados pelo Tesouro e emprestados pelo BNDES à grandes empresas? Esses são públicos mesmo!

4. Em outros países a cultura gera impostos ao invés de consumi-los
Apenas nos EUA isto é parcialmente verdadeiro; em todo o resto do planeta - inclusive nos países mais ricos e desenvolvidos - a cultura depende, em grande medida, de subsídios diretos ou indiretos. E desde sempre: basta lembrar da estreita relação entre arte e poder ao longo dos tempos. Por exemplo, não fossem os mecenas (e a Igreja) e a Renascença ainda estaria por acontecer... 

5. Há falta de "critérios"
Variação pretensamente sofisticada do argumento 2 acima, busca uma cartilha para o eminentemente subjetivo: o que e quem deve merecer incentivo! Não há resposta para a questão; a lei, democrática, deve ter validade universal e quem define o mérito é quem financia o projeto, garantidos (aí sim) os critérios técnicos e legais correspondentes. Ora, da forma como está é o mercado quem escolhe, depois do aceite técnico do Minc. Foi o que ocorreu com o projeto da cantora e com outros milhares que devem também ter sido aprovados nesse período...

6. Os valores requisitados são "absurdos"
Aqui uma inversão na relação de causalidade. Parte-se do pressuposto de que o projeto esconde algum tipo de fraude ou malversação. Se a Comissão Avaliadora aprovou é ela quem deve se responsabilizar pelos termos da aprovação. E se houver, de fato, algum tipo de fraude ou malversação, compete aos mecanismos de controle estatal (Ministério Público, Tribunal de Contas, Controladorias, etc.) fazerem o seu trabalho. Isto é muito diferente da rejeição subliminar do projeto!

7. O mérito do projeto é discutível 
O fato de o projeto cingir-se a uma mídia virtual e versar sobre poesia parece ter tido forte impacto na reação dos críticos. Voltamos aqui ao âmbito subjetivo do valor artístico: aparentemente as pessoas valorizam pouco o tema e o formato (eu mesmo usei nesse bloguinho a expressiva voz da cantora recitando os versos de Pátria Minha, de Vinícius de Morais: aqui) . Ora, o mercado (financiador e consumidor) rejeite o projeto e estamos conversados...

8. Há jogo de cartas marcadas e concessão de privilégios
Não há o que discutir: faça-se a denúncia formal ou cale-se o bico! De todo modo ficará bem mais fácil armar novos jogos de cartas marcadas e farta distribuição de privilégios, se a coisa se resolver apenas no âmbito do governo. Sem falar no risco efetivo de controle da liberdade de consciência e expressão!


Há também os que defendem a cantora e seu projeto, mas mesmo estes o fazem com ressalvas à lei de incentivo cultural, considerando-a um estorvo ou uma humilhação à qual estariam submetidos os "artistas". A Lei Rouanet virou, de repente, a Geni da música, recebendo bordoadas de todos os lados. Seus algozes assemelham-se um pouco ao carcará (Polyborus plancus), também conhecido como águia-brasileira. A rigor não é propriamente uma águia, mas um falcão. No entanto, diferentemente deste, não é um predador especializado e sim um generalista e oportunista. Na verdade está mais para urubu:

sábado, 5 de março de 2011

MÚSICA E POESIA (10)

"As três graças do Brasil tem a cor da formosura."




























Resolvi dar seqüência a duas séries que não atualizava faz tempo: sobre grandes letristas da MPB e sobre música de carnaval. A primeira, como sabem os amigos mais antigos desse bloguinho, é sobre um fantástico "segundo time" de letristas, que só não é do primeiro time porque o blogueiro acha Noel, Vinícius, Chico e Caetano incomparáveis. Os anteriores: Abel Silva, Orestes Barbosa, Cacaso, Vítor Martins, Márcio Borges, Aldir Blanc, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Paulo César Pinheiro -, podem ser lidos (e ouvidos) na tag "música e poesia".

Já a série (que sequer assim se pretendia) sobre música de carnaval acresceu-se por corolário, já que o letrista em tela, Fausto Nilo, é dono de uma espécie de "lírica da folia". As demais postagens sobre o tema encontram-se na tag "música de carnaval".

A exemplo de outros letristas de sua geração (é nascido em 1944, em Qixeramobim, Ceará) Fausto Nilo vem do meio universitário, onde se formou arquiteto, profissão que ainda exerce atualmente e com sucesso - e da luta contra a ditadura militar. Integrante do grupo que ficou conhecido como o "Pessoal do Ceará" (Amelinha, Ednardo, Fagner e Belchior, entre outros) começou compondo para seus conterrâneos, principalmente com Fagner, no início dos anos 70. A parceria com Moraes Moreira e as canções para novelas da Globo, ambas iniciadas em meados dos 70 deram grande destaque ao poeta, que somou mais de 300 obras gravadas (aqui e aqui para biografias sumárias).

Do repertório carnavalesco destacam-se "Chão da Praça", "Bloco do Prazer", "Coisa Acesa", "Zanzibar", "Coisa Acesa", "Eu Também Quero Beijar", "Diga Aí Rei" e "Vida Boa", a maioria em parceria com Moraes Moreira e Armandinho.

Gosto muito de Três Meninas do Brasil (Moraes Moreira/Fausto Nilo)

Três meninas do Brasil, três corações democratas
Tem moderna arquitetura ou simpatia mulata
Como um cinco fosse um trio, como um traço um fino fio
No espaço seresteiro da elétrica cultura

Se a beleza não carece de ambição e escravatura
E a alegria permanece e a mocidade me procura
Liberdade é quando eu rio na vontade do assobio
Faço arte com pandeiro, matemática e loucura

Serenatas do Brasil, eu serei três serenatas
Uma é o coração febril, a outra é o coração de lata
A terceira é quando eu crio na canção um desafio
Entre o abraço do parceiro e um pedaço de amargura

Se eu ganhasse o mundo inteiro, de Amélia a Doralice
De Emília a Carolina, e os mistérios de Clarice
Se teu nome principia, Marina no amor Maria
Só faria melodias com a beleza das meninas

Quando o povo brasileiro viu Irene dar risada
Clementina no terreiro restaurando a batucada
Muito além de um quarto escuro, nos olhos da namorada
Eu sonhava com o futuro das meninas do Brasil

Deus me faça brasileiro, criador e criatura
Um documento da raça pela graça da mistura
Do meu corpo em movimento, as três graças do Brasil
Têm a cor da formosura


Mas minha preferida é: Flor da Paisagem (Robertinho do Recife/Fausto Nilo)

Teu zói é a flor da paisagem
Sereno fim da viagem
Teu zói é a cor da beleza
Sorriso da natureza

Azul de prata, meu litoral
Dois brincos de pedra rara
Riacho de água clara
Roupa com cheiro de mala

Zóim assim são mais belos
Que renda branca, que renda branca, que renda branca na sala
Quem vê nêo enxerga a praia
Nóis no lençol, nóis no lençol , nóis no lençol de cambraia

Teus zói no fim da vereda
Amor de papel de seda
Teus zói que clareia o roçado
Reluz teu cordão colado


Na lista: com Simone, Pequenino Cão (Caio Sílvio/Fausto Nilo), Pão e Poesia (Moraes Moreira/Fausto Nilo) e Você é Real (Piska/Fausto Nilo). Com Nara Leão, Amor nas Estrelas (Roberto de Carvalho/Fausto Nilo). Com A Cor do Som, Zanzibar (Armandinho/Fausto Nilo). Com Moraes Moreira, Três Meninas do Brasil (Moraes Moreira/Fausto Nilo). Com Fagner, Flor da Paisagem (Robertinho do Recife/Fausto Nilo). Com o Flor Amorosa, Espinha de Bacalhau (Severino Araújo/Fausto Nilo). Com Caetano Veloso, Coisa Acesa (Moraes Moreira/Fausto Nilo). Com Zeca Baleiro, Eu Também Quero Beijar (Pepeu Gomes/Fausto Nilo). Com Geraldo Azevedo, Dona da Minha Cabeça (Geraldo Azevedo/Fausto Nilo). E com Todos Juntos, Bloco do Prazer (Moraes Moreira/Fausto Nilo).


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