segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

POLITICAMENTE ESTÚPIDO OU ESTUPIDAMENTE CORRETO?

Ok, não se deve mais chamar crioulo de crioulo nem negão de negão. O "correto" agora é afrodescendente. Ué, e os do norte da África, de origem árabe? E, afinal, não descendemos todos dos habitantes paleolíticos daquele continente?

Recentemente, comentei a comemoração do "Dia da Consciência Negra" no PG do MR (leiam aqui). Minhas opiniões estão lá registradas; continuo achando que discutir-se o papel da Princesa Isabel ou de Zumbi dos Palmares depõe contra a inteligência dos movimentos negros no Brasil. Discute-se assim, o acessório, o trivial, o chamado politicamente correto. Praga dos nossos tempos, nos obriga a chamar um negão de afrodescendente; mas não de deixar de discriminá-lo na escola, no trabalho, na vida... E um sujeito de origem alemã? Como seria politicamente correto chamá-lo?

Quero dizer que me repugna e enoja o preconceito e a discriminação, especialmente quando deriva das diferenças chamadas raciais. Mas não posso concordar com aqueles que acham que basta mudar palavras para mudar comportamentos. Uma palavra é uma palavra; uma agressão (ainda que verbal) é uma agressão. E uma agressão verbal é muito diferente de uma agressão moral (ainda que verbal) ou física.

Há intolerância, das mais variadas origens, no Brasil? Há. Há racismo no Brasil? Certamente há. Há mais tolerância e menos racismo que em outras partes do mundo, especificamente naqueles locais que tiveram colonização escravista de raiz africana? Também isto é verdade e não vou destrinchar longa referência bibliográfica porque não faria sentido neste espaço. Mas creio que todos conheçam...

O que não posso concordar é que mudanças de terminologia sirvam para algo mais que atualizar dicionários. E, mais grave, que a consciência e a palavra sejam policiadas por quem quer que seja, discriminado ou discriminador, oprimido ou opressor.

12 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. RM, moço bonito... e danado!

    Confesso que fico fu... csia (de cor) toda vez que discussões sobre este tema de preconceito racial vem a tona... Somos mesmo é mestiços...maioria de brancos não brancos e negros não negros, vermelhos amarelados e outras matizes variadas que não cabem na classificação das pretensas raças. Claro que somos um povo em busca de identidade que, naturalmente, deve valorizar suas raízes e entender para respeitar sua composição multicolor etc etc e etc. Mas já sabemos que o conceito de raça no sentido de categorias humanas socialmente definidas onde a cor da pele e origem social são valorizados só faz estimular o preconceito. Afinal, a chamada raça humana não é produto de miscigenação milenar?

    Ok, Afrodescendentes somos todos nós, considerando que a Mãe Àfrica foi o “berço” da humanidade...(“E eu a me perguntar Eu sou neguinha?” lalala...rs)

    Mineirim, essas denominações, como qualquer classificação sem qualquer fundamento científico, politicamente motivadas, têm variado ao longo do tempo... quem sabe os novos convertidos ao neologismo “afro-descedente” ou “afro descendente” ou “afrodescendente” (fiquei confusa com o dicionário) e suas ideologias simplificadoras se dêm conta logo - “oxalá, meu Preto Véio”, de que etnia, cor da pele e origem social não devem ser critério para avaliação das pessoas e ponto. E de que, como disse o Gil, o negro é a soma de todas as cores. No que o Caetano completou:- isso é lindo!

    Eu, de minha parte, inspirada no que sempre diz uma pessoa querida minha, odeio pretos, brancos, amarelos, azuis e verdes... prefiro os transparentes.

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  3. Ei Cora,
    você vai me acostumando muito mal, com o brilhantismo dos seus comentários...

    Eu tenderia a concordar integralmente com você, não fosse a realidade concreta de que há forte desigualdade no Brasil. E esta desigualdade tem um componente "racial". Na Carta Magna todos são iguais; no dia a dia alguns são mais "iguais" que outros...

    Pra ficar na dupla baiana: "... são pobres e pretos. Ninguém, ninguém é cidadão..."


    (mas mudar o nome não muda em nada esta situação)

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  4. Primeiro uma constatação. A Cora tá precisando de óculos. Mas só por conta da primeira frase de seu comentário.
    Quanto ao termo afrodescendente, penso que é mais afrontoso ainda, pois implicitamente alude a um terceiromundismo, a algo primitivo, subdesenvolvido. Não temos utilização conotativa para eurodescendente, asiáticodescendente (existe isso?)e outros continentesdescendentes, até porque como bem disse a Cora, América é miscigenação de raças e Oceaniadescendência só se for alusão aos aborígenes.

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  5. Chorik,
    a beleza está nos olhos de quem vê... (toma, japa! rsss)

    E também concordo com o restante do seu comentário: não bastasse a patetice do politicamente correto, ainda escolheram um nomezinho ruim pra chuchu...

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  6. RM:


    Já que me citou (obrigado pela deferência), vou meter (ôps, esse verbo é perigoso) minha colher-de-pau para dizer que também não gosto das expressões "afrodescendente", "crioulo", "negão" e muito menos dos eufemismos "escurinho", "black", "neguinha", "moreno" e até o "bronzeado" (como o Berlusconi utilizou). O correto é dizer o que eles são, mas sem ficar valorizando muito esse negócio de cor da pele, que não significa nada: "negros" ou "pretos".
    Abraços,

    MR
    2/12 - 12:59

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  7. Sempre bem vinda a colher, MR,
    (o pau pode ficar procê mesmo... rsss)
    tô deduzindo que você assim procede por atribuir conotação pejorativa aos respectivos termos. Mas isto não é necessariamente verdadeiro: você acha que, por exemplo, chamar uma baiana de neguinha é algo pejorativo? Eu diria que é muito mais um elogio, algo que ressalta sua bela cor e por aí afora.

    Já um negro de dois metros de altura. Como você preferiria chamá-lo? Afrodescendente avantajado ou negão? rsss

    Veja, estamos já a discutir a entonação da voz: essa coisa é absurda, não tem fim...

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  8. Percebeu que hoje me enrasquei, não consegui checar nada, estou atrasadíssima...rsrsrs

    Com relação ao que é politicamente correto ou não, pintam incoerências interessantes. No Brasil você pode falar negro, mas não pode falar preto (por aqui o afrodescendente ainda não pegou, ainda bem!). Nos EUA ocorre o contrário. Black is beautiful, mas não se diz nigger, que soaria como um "crioulo". A não ser que cocê seja negro, conheço um norteamericano negão (negão também não pode, sorry...) que fala dele mesmo e trata o irmão como nigger... E um aqui no Brasil, super engajado na discussão sobre igualdade de oportunidades, que se autodenomina crioulo.

    Ou seja, tudo o que se diz depende do COMO se diz. Muita gente me chama de neguinha, de nêga. Sinto carinho e gosto do apelido. Me sentiria péssima se me chamassem de braquela (não haveria como me chamarem de branquinha rsrs). Sou morena, brasileira, um pé na África, outro no Xingu, mãos em Portugal, como todos nessa terra, varia são os tons do matiz.

    Não consigo lidar é com o policiamento. Dos preconceituosos eu fujo. Dos que me patrulham, mais ainda. Os que cagam (desculpe, quis dizer defecam) regras ignoro - e nem é solenemente... rsrs

    Beijos

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  9. Ei Luciana,
    como sempre seu comentário é capaz de fazer a diferença. Estava te esperando para postar uma espécie de continuação desse post.

    E desejo aprofundar.

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  10. Pois faça isso no verbo venenoso...rsrsrs

    Continuei meu comment lá...

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  11. Ah, menina. Só agora li esse novo comentário.

    Ok, vamos dialogando com o "verbo venenoso" e o "rm no verbo".


    (mas já vou avisando que tenho muita bala na agulha, heim... rss)

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