O relativamente baixo grau de interatividade desse bloguinho não me autoriza, mas vou arriscar um post sobre o assunto. E já explico: apesar de não ser muito fã da festa de Momo, gosto bastante de "música de carnaval". Mas pergunto: o que vem a ser mesmo "música de carnaval"? Se você acha que é aquele bate-estaca que se ouve na Marquês de Sapucaí ou a chamada (e insuportável) axé music, temos visões (e gostos) provavelmente muito diferentes...
Me perdoem alguma eventual incorreção os historiadores e especialistas, mas creio que o carnaval, tal qual o conhecemos, com grupos, ranchos, cordões, blocos e "escolas" brincando nas ruas, embalados por músicas (além dos confetes e lança-perfumes), é algo relativamente novo, coisa de pouco mais de cem anos.
O ritmo básico não é o samba, mas a marcha ou a "marcha carnavalesca", tradição herdada de Portugal. Muito diferente do primeiro, com andamento mais acelerado e um descompromisso temático bem mais apropriado ao clima da festa, com destaque para a critica dos costumes e a paródia política. Foi este tipo de música que fez a fama dos "antigos carnavais", em todo o Brasil, nos salões, nas ruas e nos desfiles de corsos e blocos; até meados do século passado.
Uma das primeiras marchinhas (brasileiras) de que se tem notícia é Abre Alas, de Chiquinha Gonzaga, ainda em 1899, mas só no final da década de 20 consolidou-se o gênero especificamente brasileiro. Foram grandes compositores do gênero, entre outros, Braguinha, Haroldo Lobo, Lamartine Babo, Alberto Ribeiro e João Roberto Kelly. Mas praticamente todos os grandes compositores populares brasileiros fizeram incursões nessa área (vejam aqui uma relação de marchinhas famosas e aqui uma seleção com as letras completas). A rigor, as indústrias fonográfica e radiofônica giravam em torno das músicas de carnaval e dos chamados lançamentos de "meio de ano" (com destaque para as músicas da festa de São João), até meados da década de 50.
Isto vale para todo o Brasil, tendo o Rio como difusor, exceto para a Bahia e Pernambuco, que desenvolveram ritmos próprios. Neste último o frevo, outro tipo de marcha (ainda mais acelerada), derivou-se do maxixe, tendo a capoeira como inspiração para os passos da dança. O exemplo eterno é Vassourinhas (Matias da Rocha/Joana Batista Ramos, 1909), mas o ritmo desdobrou-se em frevo-de-rua, frevo-canção e frevo-de-bloco (vejam aqui uma relação de compositores e frevos famosos). Já na Bahia, mãe de todos os ritmos brasileiros, o carnaval passou a ter características distintas com a criação do trio elétrico, em meados dos anos 50, por Dodô e Osmar e, mais uma vez, forte inspiração no frevo. Perdida depois, ao incorporar ritmos caribenhos e o chamado "brega"...
A longa introdução é só para poder falar que, dessa tradição, pouco resta. Nesses três centros de festas, turísticas, de carnaval o que menos importa é a música: os samba-enredos são horrorosos, o axé music enjoativo e o frevo, bem o frevo até hoje vive das "Vassorinhas". Tive notícia de que no carnaval em Ouro Preto ouve-se música eletrônica e tecno; faz todo o sentido...
Fiz uma pequena seleção, restrita pela base de dados do goear.com, com músicas que tem o carnaval como tema, mas não necessariamente reconhecidas "músicas de carnaval". O destaque fica com Manhã de Carnaval, de Luís Bonfá e letra de Antônio Maria, uma das músicas mais gravadas de todos os tempos. Para aqueles que gostam de googlear sugiro pesquisas com os termos "Mañana de Carnaval", "Black Orpheus" (nome do filme em que aparece a canção) e "A day in the life of a fool" (como ficou mais conhecida a canção em inglês). Espero que gostem.
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oi, rm
ResponderExcluira música que nos sugeriu no post (bloco da solidão)de ontem acabou me remetendo a um passado de um tempo que eu brincava o carnaval... tempo bom aquele...
hj dando continuidade, mas claro, como tudo que se empenha a fazer e o faz com tamanho perfeccionismo... me permitiu reviver um
outro tempo... mais distante ainda... de qdo menina e ouvia minha mãe cantando algumas dessas músicas...
que delícia...
ah... tempo bom, mto bom...
mas sem dúvida, da seleção que fez, a opção 3... nossa!!!
:)
RM!!!!
ResponderExcluirADoooorei!! Tive que ser enfática na quantidade de "O's", (eu não sou emo, nada contra que é) mas é porque gostei muito do texto.
Então... tive um probleminha no blog e acabei apagando sem querer a postagem da música no Noel... Mas voltarei a fazer uma pequena homenagem a ele... Um jovem de bom gosto!
Gosto de carnaval, como você! Tudo bem, nasci aqui com o samba no pé... Mas abusa muito aquele axé que não diz nada! E também não me agrada muito o estilo dos sambas enredos.
Sei que tenho que estudar um pouco sobre a essência do carnaval... E tbm quero entender pq as mulheres sambam peladas?
Até hoje ninguém soube me responder! É curioso.
Enfim... sei que talvez o Carnaval dos meus sonhos seja utópico!
Saudações da baiana
Teresa,
ResponderExcluiragradeço o simpático comentário e claro, o "bloco na rua" tem que ser de camisinha (amarela, pra combinar com a música 5, um clássico de Ari Barroso, escrito no feminino, num tempo em que o Chico Buarque nem havia nascido...).
Calila das Mercês,
se não for pseudônimo, quero felicitar seus pais: o nome é lindo!
Agradeço o simpático comentário, também não sei as razões da peladagem feminina, mas não tenho nada contra... rss
Este é meu nome mesmo...
ResponderExcluirAgradecida...
Meu nome é árabe, deriva de 'kalil' que significa amiga íntiga, confiável. E tem significados... Tem um Deusa (indiana, eu acho), Deusa Kalee, que é uma deusa muito forte para os indianos...
Enfim... Tbm gosto do meu nome, da sonoridade que ele traz, diferentemente de Camila... o 'M' ameniza, acalma... E já o "L" é forte.
Não tem porque agradecer, virei sempre aqui... ler o que escreve e aprender um pouco mais.
E sobre as mulheres... sabia que não ia achar ruim!! [rs]
Saudações da baiana
Ei Calila,
ResponderExcluirentão reitero os parabéns aos seus pais. E não só o prenome, mas a combinação Calila das Mercês, ficou muito bonita.
Continuo sem conseguir comentar no seu blog. Se você não tiver muito medo de spam, sugiro que simplesmente elimine a ferramenta nas suas configurações...
Agradeço muito... Fico feliz que gosta.
ResponderExcluirÉ que pretendo utilizar esse nome como jornalístico... Vc acha que fica legal?
Acho que agora dá pra postar!
Beijão RM!
Acho sim e finalmente consegui postar um comentário lá.
ResponderExcluirOutro, querida!
Estou aqui há horas me deleitando com essas preciosidades que você, generosamente, pesquisou prá compartilhar com a gente!
ResponderExcluirE essa Noite dos Mascarados com a Elis?! Que surpresa! Não lembro de ter ouvido antes.
Acho que tinha um vinil onde o Chico cantava com a Cristina.
...e você preocupado com interatividade! "bloguinho"? qué isso? crise de auto-estima?
Não vai dizer que vai embora de novo, né?
Rm, prezado... longo recado pra vc no post do Aecinho em meu blog... abraço de pós carnaval
ResponderExcluirEi de novo, Udi,
ResponderExcluiragradeço o gentil comentário.
Também não conhecia essa versão com a Elis e confesso que achava que a gravação original era com Nara, mas acho que você tem razão. Eu tenho o disco, mas tô com preguiça de procurar esta hora da noite...
Mas veja você: cheguei a fazer uma segunda seleção, mas como faltou interatividade preferi não postar... O fato é que a única coisa de nova (e muito legal) dessa mídia é a possibiidade de interagir, em real time...
Bloguinho porque é despretensioso e muito mais frequente eu ser chamado de arrogante que "humilde". Tomei como elogio... rss
Ricardo,
vou lá ler.
Você não vai postar a segunda seleção por falta de quem ouça/comente, é isso?
ResponderExcluir...ah! se ficar em dúvida, sempre será um elogio, ok?
(e queria muito ler o prometido post da Teresa sobre mulheres maduras, auto-estima, sexualidade, etc)
Muito instrutivo! Curiosamente, citei também o Bloco da Solidão no meu bloguinho, em 04/02 do ano passado. Vai lá ver, se tiver saco! rs
ResponderExcluirhttp://blogdochorik.blogspot.com/2008/02/sonhei-que-eu-era-um-dia-um-trovador.html
Udi,
ResponderExcluiré né? (Ou talvez eu crie uma "Rádio RM". O que você acha?)
A Teresa concordou e o blog está inteiramente aberto. Assim que ela quiser (e vale pra você também).
Japa,
eu roubei sua ideia! rss
Pareceu-me que seu gosto musical é muito parecido com o meu e com um intrigante (instigante?) ingrediente de ser complementar (e eu juuuuro que isso não é nenhuma analogia com segundas intenções), você se lembra de canções das quais eu estava completamente esquecida.
ResponderExcluirEntão, se depender da minha audiência, eu acho que uma "Rádio RM" seria um grande sucesso.
...quanto ao espaço aberto, você é mesmo um gentleman e muito generoso, mas a Teresa tem bem mais desenvoltura prá tamanha responsa.
thanks much!
:)
Não é uma analogia com segundas intenções, não? Ah... que pena! rss
ResponderExcluirrm,
ResponderExcluirpoderíamos tentar escrever o artigo à quatro mãos, sugira a udi para entrar em contato comigo... tenho umas ideias e acho que poderíamos fazer um trabalho bem legal!
e-mail: tecnenfermaginando@globomail.com
Sugestão feita!
ResponderExcluir(e, pelo visto, as duas são ambidestras... rss)
Erre Eme:
ResponderExcluirnote que, pela primeira vez, estou te chamando pelo nome, e inteiro (sabe mãe quando chega prá uma conversa séria e diz "dona Maria de Lourdes"?)... tudo isso só prá te dizer que minhas intenções não são segundas (vixi! ...saiu assim, de repente...risos!)
afffe! o que acontece que sempre dá algum problema na hora de postar o comentário?
ResponderExcluir...de novo:
super-consideração da Teresa se propor a escrever junto comigo.
Erre (pode ser assim, mais íntimo? ...risos!): você, por acaso digita com uma mão só?
Udi,
ResponderExcluirsegundas ou primeiras (rss), seja sempre muito bem vinda!
Pode ficar tranquila, apesar de maneta acho que digito bem... rss
Manhã de Carnaval - Com Baden Pawell é maravilhoso:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=g8tyya8HPQc
Você citou marchinhas e não fez referência à Pequena Notável no centenário de seu nascimento? ...tsc tsc, imperdoável :)
Mamãe eu quero, Eu dei, Ta-hi, Alô...alô? e tantas outras memoráveis na voz de Carmem Miranda. Ouça aqui:
http://carmen.miranda.nom.br
Ops...imperdoável é grafar errado o nome do violonista Baden Powell de Aquino.
ResponderExcluirMenina! Você não dorme nunca?
ResponderExcluirThanks, tirou a minha deixa pro post que ia fazer tratando do incrível violão brasileiro do Baden... rss
Não citei porque não precisa: todo mundo tá careca de saber da importância da portuguesa para o carnaval e a música brasileiros; ainda mais em ano de centenário, com ultra-exposição de mídia. Mas citei alguns dos compositores que escreveram marchinhas pra ela cantar. Rá!
Tirei nada! Você o faz com mais propriedade.
ResponderExcluirAliás, andei recebendo uma aula muito boa de um certo mestre sobre a música; deve ser por isso a minha empolgação...rs
"Ó abre alas que eu quero passar.." Sou suspeita para falar em marchinhas levando em consideração que fui criada numa cidadezinha interiorana do Goiás (hoje Tocantins) onde a tradição é manter a tradição: lá o carnaval tem a cara de carnaval! Temos até uma marchinha feita especialmente para o nosso...
ResponderExcluir"Carnaval chegou, cada arraiano é um folião, cada madame é uma colombina, com água na rua, no salão a serpentina! A mocidade é o pierrot que pula e grita cantando seu amor..." (Arraias-TO)
Bela gentileza, RM!
Agradeço o simpático comentário, Capitu.
ResponderExcluirA "tradição de manter a tradição" é algo que anda muito em falta no resto do brasil, infelizmente...