Para Udi Tarora: minha terra não tem Palmeiras, tem Santos,
mas sou mesmo é corinthiana...
mas sou mesmo é corinthiana...
Uma das mais conhecidas criações do romantismo brasileiro, considerado um dos textos fundadores de nossa identidade e cultura, a "Canção do Exílio" (1843), do maranhense Gonçalves Dias, também é um dos textos mais citados, reescritos e parodiados da literatura brasileira.
Esta série de postagens tem o objetivo de apresentar algumas dessas reinterpretações, ao par de modestas observações deste escrivinhador, provocado por textos publicados no RM NO VERBO (leiam aqui) sobre o tema da saudade. Não há qualquer originalidade nessa abordagem, caminho percorrido por diversos autores (e, de certo modo, mesmo pelos que usaram os versos originais como inspiração). Para uma visão mais histórica e sociológica recomendo o artigo da historiadora Beatriz de Moraes Vieira, "Onde canta o sabiá", publicado na Revista NOSSA HISTÓRIA, ano I, n.5, mar/2004. Para uma análise literária recomendo "O poema e a metáfora", de Wilton José Marques (disponível aqui).
Os versos originais foram escritos depois de longos 5 anos de permanência do autor em Coimbra, onde cursava Direito.
Canção do exílio
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Conheces o país onde florescem as laranjeiras?
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!
Goethe (tradução de Manuel Bandeira)
Ardem na escura fronde os frutos de ouro...
Conhecê-lo? Para lá, para lá quisera eu ir!
Goethe (tradução de Manuel Bandeira)
"Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
Ainda que possam ser considerados simplórios, mesmo belos, não há versos mais influentes e duradouros na literatura e cultura brasileiras. Como mencionado, várias dezenas de autores escreveram a partir deles (aqui um site especializado em registrar essas versões) e os divido em 3 categorias, nas quais afloram, respectivamente: a) o sentimento nativista e a busca da identidade nacional; b) a idéia do "país do futuro" e a construção dessa identidade, frente nossa herança histórica e as transformações de um país em rápida modernização; e, c) o exílio "de fato", correspondente a períodos ditatorias da história política brasileira (marcadamente o regime de 64) e a idéia de "futuro interrompido". Grosso modo as 3 categorias correspondem aos períodos: a) dos 100 primeiros anos após a Independência; b) da década de 1920 à de 1960; c) das décadas de 1960-70 e 1980.
Nas próximas postagens abordarei cada categoria em particular e tentarei caracterizar as mudanças ocorridas nas últimas duas décadas.
Sabiá Laranjeira
.
Ter amigo culto é bão demais!!
ResponderExcluirAguardarei ansiosa pelas suas próximas abordagens sobre as referidas etapas... Basta que sejam do nível desta, e dar-me-ei por satisfeita!
"Saudade" é uma das minhas palavras prediletas e só a sentimos por quem amamos... Costumo dizer que a saudade é o alimento do amor!
Beijos!
Helô
Refiro-me as várias formas de amor, evidentemente!
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEncanta-me as minúncias de tuas pesquisas...
ResponderExcluirPara um Economista, tu es um excelente pesquisador...rs
Dá prazer em ler!
Beijos
...................................
Minha terra tem o Rio São Francisco
Que traz dourados e surubins
E as águas calmas que escorrem
Só não traz voce pra mim...
Depois de um carregamento extra vindo direto do México...
Eita, que um finalzinho de feriado faz coisa! rs
Tá vendo só, a despeito de tudo, ainda posso versejar...
Mesmo assassinando o portugues...rsrs
Ah Helô,
ResponderExcluirassim eu fico até envergonhado (mentira pura! rss)...
Esse postinho saiu de uma sugestão da dona japinha Udi, no RM NO VERBO, mas acabou virando um "postão" enorme. Assim resolvi dividi-lo em três.
E o conteúdo é mesmo o caráter dessa palavra que só existe na língua portuguesa...
Ava,
em compensação, como pesquisador sou um ótimo economista... rss
E você verseja bem, independente da tequila ou de rigores formais...
RM:
ResponderExcluirTambém gostei de ver que meu amigo é especialista também em Gonçalves Dias e Canção do Exílio, além de Beatles, rock'n roll dos anos 70, economia e... mais o quê? Ah... mulheres!
O cara tá com tudo e não tá prosa!
Abraços
MR
7/9 - 19:29
Érre parceirim querido!
ResponderExcluirCá estou em lágrimas...
lembrando das "Saudades do Brasil" que deram início a esta "saga" (thanks God que este ainda é o 1º de uma série de 3!).
"Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá."
...a repetição desses versos toca lá no fuuundo e (ai!) que saudades do Brasil que sonhamos um dia! ...lágrimas, amiguim parceirim!
o futuro interrompido... e agora?!
voltarei menos emotiva para tentar fazer um comentário mais à altura deste post-tratado (você é incrível!)
...tentarei resgatar a brasilidade mais corinthiana (...risos!) e, quem sabe, possa fazer um comentário mais bem humorado e esperançoso... sem tanta saudade!
obrigada por todo o trabalho! mais uma vez somos presenteados pela sua dedicação e cuidado.
beijo
...e não haveria data melhor que o sete de setembro para um post como este.
ResponderExcluirDom decano MR,
ResponderExcluirelogio de amigo não vale... E você bem sabe que eu só entendo mesmo é de mulher... rss
Parceirinha,
ah, não gostaria de vê-la triste...
Mas acho, sinceramente, que vivemos, após 20 anos da redemocratização, uma espécie de exílio do sonho. O futuro chegou e não chegou com ele a nova civilização sonhada por muitos...
Bem, tentarei desenvolver este argumento, entre outros, nas próximas postagens da série.
Reflexões de Carlos Drummond de Andrade:
ResponderExcluir- Nova Canção do Exílio
"(...)Chega!
Meus olhos brasileiros se fecham saudosos.
Minha boca procura a "Canção do Exílio".
Como era mesmo a "Canção do Exílio"?
Eu tão esquecido de minha terra...
Ai terra que tem palmeiras
onde canta o sabiá!"
***
- Hino Nacional
(...) Precisamos adorar o Brasil!
Se bem que seja difícil compreender o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram e qual a razão
de seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é no outro mundo. Este não é o Brasil.
Nenhum Brasil existe. E acaso existirão os brasileiros?
Ei dona Corinha,
ResponderExcluirmelhorou dos probleminhas de saúde? Espero que sim...
Bem, agradeço por adiantar alguns dos versos que analisarei nas próximas postagens. Assim o pessoal já vai se acostumando... rss
Não resisti ao 7 de Setembro...rs
ResponderExcluirPra abrilhantar ainda mais a sua postagem, deixarei um poema de Neruda, que considero um dos mais bonitos sobre o tema "Saudade" ...
ResponderExcluirDiante do exposto um belo de um dia "à la Neruda" !! rs
Beijos meus
Helô
Saudade
Saudade é solidão acompanhada,é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já ...
Saudade é amar um passado que ainda não passou, é recusar um presente que nos machuca, é não ver o futuro que nos convida...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade: aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido ...
Pablo Neruda
Cora,
ResponderExcluiro Pedro (I do Brasil e IV de Portugal) também não resistiu... rss
Helô,
belíssima saudade chilena.
Thanks! (e afinal você devolveu o Neruda que leu... rss)
Pedro?
ResponderExcluirAquele impulsivo, corajoso, apaixonado, contraditório, incoerente e canastrão? - Admirável um dos meus favoritos... rs
Pois não, querida, eu sei que tem gosto pra tudo...
ResponderExcluir(e gosto é igual... ah, you know, you know...)
Oba! Eu também cursei Direito em Coimbra!... Bons tempos aqueles! Marcava gols de escanteio, sabia?... Rsss... E fazia hacktriks, fourtriks e fivetriks!..
ResponderExcluirWell, saudades e saudades de Coimbra, dá fado de Coimbra:
http://www.youtube.com/watch?v=mrk-6K5k_1M&feature=related
PS:
ResponderExcluirO fado de Coimbra é um fado único no mundo, de raiz estudantil. O video que ouviram tem algo muito errado: as palmas, os aplausos.
Não se bate palmas nem se aplaude o fado de Coimbra: é considerado ofensa aos estudantes e eles ficam bravos, muito bravos com aplausos. A atitude correcta de aprovação é tossir.
http://www.youtube.com/watch?v=hfKU5pA-CRI&feature=related
Amigo
ResponderExcluirMaior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
...
Traz outro amigo também...
Que bela canção!
Bem, Portuga,
ResponderExcluirsó espero que você não tenha a mesma sorte no amor que teve o poeta maranhense... Foi-lhe recusada a mão de seu grande amor, Ana AMÉLIA Ferreira do Vale, apenas pelo fato de ele ser mestiço, ou seja, brasileiro...
Muito lindo o fado, com características acentuadamente flamencas...
E no Porto, como se faz? Arrota-se? rss
Guri "iguinoranti",
ResponderExcluirNo Porto o fado é outro. É à desgarrada.
Corinha,
Sabia que essa cantiga dá para cantar no feminino?
"Amiga
Maior que o pensamento
Por essa estrada amiga vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
...
Traz outra amiga também..."
Não trago amigos: sou muito ciumento!
"no porto arrota-se?" rssssssssssssssssssssssssssssss!... pelo menos será mais higiénico, pois o arroto não propaga h1n1. e "arrotar à desgarrada" cria uma imagem bem mais animada que uma cambada de perdigotos e gafanhotos (os estudantes devidamente FARDADOS).
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