terça-feira, 24 de novembro de 2009

VALE-CULTURA

OU QUANTO VALE UM CRETINO NO MINISTÉRIO DA CULTURA


Peça publicitária, feita com dinheiro público e distribuída no Congresso.

Os ilustrados e atentos leitores desse chalezinho hão de perguntar: ora, senhor blogueiro, um projeto que beneficia o setor cultural não merece apoio ou é só mais uma rabugice de vossa senhoria? E eu responderei: não, meus amáveis leitores; não é (só) rabugice... Acompanhem o raciocínio:

Primeiro; o que vem a ser esse tal "vale-cultura"? Trata-se de um projeto de lei (PLC 221/09), de iniciativa do Executivo, que pretende criar, para a área da cultura, instrumento análogo ao que já existe para o transporte e a alimentação dos trabalhadores, ou seja, aos vale-transporte e vale-alimentação. Nos seguintes termos: a concessão de um crédito mensal, no valor de R$ 50, para trabalhadores que ganham até 5 salários mínimos (atualmente o equivalente a R$ 2.325,00), a ser gasto em "bens culturais". Como não existe almoço grátis, a conta será dividida entre o governo, a empresa e o trabalhador, sendo que o grosso do custeio virá de renúncia fiscal (estimada em R$ 3,7 bilhões), ou seja; "do seu, do meu, do nosso..."(aqui para ler a íntegra do projeto original)

Segundo: em que argumentos se apóia a proposta? De acordo com o ministro da Cultura, com base em dados do IBGE, "menos de 14% dos brasileiros vão ao cinema com frequência de uma vez a cada mês. Parcela acima de 90% nunca visitou museus. Outros 93% nunca viram uma exposição de arte e somente 17% compram livros" (citação daqui). Ou seja, o "grande intelectual" baiano, Juca Ferreira, constatou o óbvio: o restrito mercado de "bens culturais" no Brasil. E pretende, ao que parece, "criar" mercado por decreto, subsidiando o consumo. Ora, por que o ministro não propõe que se conceda o tal abono de R$ 50 aos trabalhadores e deixa que estes resolvam como gastá-lo? Evidente: eles não seriam gastos com bens culturais. E o que isto significa? Que a premissa é falsa: não falta mercado por escassez de recursos, mas por falta de preferência - grande parte dos beneficiários preferiria gastar os recursos em outros bens. No caso da cultura, mais que em outros mercados, é preciso formar consumidores... O ministro deveria estar preocupado era com a qualidade da educação brasileira, que cria, a cada dia, menos leitores.

De todo modo só um completo idiota pode esperar que cinquentinha se transformem em visitas a museus ou a exposições de arte ou mesmo em compra de livros. Talvez faça sentido esperar certo crescimento da venda de CDs e DVDs e, quem sabe, de bilhetes de cinema e só. Será que isto vale R$ 3,7 bilhões de dinheiro público?

Mas não ficam apenas aí os defeitos da proposta. De saída o ministro exclui 50% dos trabalhadores brasileiros, que estão na informalidade e não tem vínculo empregatício. Outras categorias, como aposentados e estudantes (tradicionais consumidores desse mercado) também ficam de fora. E mais: todo subsídio concedido carrega implícito certo desalinhamento de preços relativos, vale dizer, produtos culturais economicamente inviáveis (ou de qualidade duvidosa) podem ser beneficiados e em detrimento de outros. Por exemplo, no caso de uma hipotética compra de um CD, qual escolha terá maior probabilidade de ocorrer: de funk ou de música erudita? No caso de um livro, quem tem mais chance de sair da prateleira: Drummond ou Paulo Coelho?

Em outras palavras, trata-se apenas de mais uma medida demagógica, destinada a promover a popularidade desse governo incompetente e manipulador. Tratar-se-ia, melhor dizendo, por que o que se viu hoje no Senado Federal expôs claramente o quilate do ministro da Cultura e de seus assessores: depois de produzir um folder de apoio à proposta, no qual constrangia eventuais opositores; o ministro mentiu aos senadores, afirmando que seu ministério nada tinha com a peça publicitária (mais aqui). Vale dizer, estamos diante do artigo 171 do Código Penal, tanto para a proposta quanto para os que a defendem.
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17 comentários:

  1. De fato, você tá muuuito rabugento...afe!

    ... o pior é que eu gosto...rs

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  2. Corinha,
    já vi que você "não acompanhou o raciocínio..." rss

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  3. RM, eu não me surpreendo com mais nada. Quiserem criar até a bolsa celular. Ô ano pré eleitoral!

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  4. Ei AP,
    sumida, nega!

    Olha, eu até já tô defendendo que se crie a "bolsa-boiola" para beneficiar o ministro da Cultura e ver se ele deixa o dinheiro público em paz... rss

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  5. Ainda vamos ver mais do mesmo tipo!!!

    Bjinhos
    Anne

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  6. Em Sampa, já há alguns anos, temos vivido a experiência da Virada Cultural - 24 horas de eventos culturais (principalmente musicais) com custo zero. Montam-se palcos pelo centro velho e abrem-se portas de alguns teatros para que todos assistam gratuitamente a shows que vão desde Wando até jam sessions jazzisticas, passando por Gal Costa, Lenine, Zeca Baleiro e nomes que despontam na cena musical.
    Mais gostoso que desfrutar dos shows é observar como a população "inculta" se deleita com as exibições de músicos de jazz, provando que não existe diferença no gosto cultural quando o se oferece cultura de qualidade.
    Se querem "dar" circo, que deêm... a fórmula que funciona já existe.

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  7. Piada, isso.

    Vale-cultura onde o Sistema de Educação é um caos, como se fosse possível "consertar" as coisas mantendo a base podre.

    RM, se isso é rabugice, saiba que não está sozinho.

    ℓυηα

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  8. Anne,
    brinca não, nega! Não tô aguentando mais esses cretinos no poder...

    Udi,
    aqui em Minas há um programa de popularização do teatro, já com quase 30 anos, que oferece todos os principais espetáculos do ano a preços bem baixos (acho que 5 reais). No entanto, quem o frequenta são os mesmos, ou seja, de popularização mesmo não tem nada... rss

    Luna,
    a turminha fala que eu persigo esses idiotas do governo, mas leia só o que o ministro da (falta) de Cultura acabou de declarar:
    "Meu pinto, meu estômago, meu coração e meu cérebro são uma linha só." rss

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  9. Não entendi lhufas do post. "Vale- cultura"?

    Cultura de quê, de quem, para quem?

    Dá pra ir num show sem pagar?

    E em termas? Dá pra fazer umas termas inter-culturais?

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  10. Portuga,
    não o recrimino; difícil entender mesmo...

    Em termas com o ministro? Tô fora! rss

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  11. Por falar em entender, acho que ex-ministra da saúde da Finlândia entende:

    http://www.youtube.com/watch?v=JpOB4xkpjgQ

    Bom dia! Let's go work!

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  12. Quaquaqua

    Essa é mais maluca que você, heim Portuga?

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  13. RM,

    Hummmm...tá explicado, então, porque as "coisas" se invertem, e aparecem esses resultados incríveis.

    Cada uma...rs.

    ℓυηα

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  14. Ei gauchinha,
    esta a verdadeira etmologia da palavra perverso: pelo verso (e não é poesia)...

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  15. Parceirim,
    a grande diferença é que a Virada é "de grátis" e não requer nenhuma ação além de estar passando pelo local. Isso muda muita coisa. 5 reais - prá mim, prá você ou prá quem tá duro mas gosta de teatro - parece pouco. Mas no dia a dia do trabalhador de salário arrochado pode significar umas 3 conduções de casa para o trabalho ou vice versa.

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  16. Pois é, Udi. Mas mesmo se fosse de graça eu duvido que faria muita diferença...

    Apesar de ser mais "democratizante", também duvido que a experiência aí em Sampa forme público. Acho que o sujeito que viu o show na rua não passará a frequentar as casas de espetáculo apenas por isso...

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