quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A CRISE: ÓPERA BUFA - 2º ATO (2/4)

O PATIFE E O CANALHA

Mais uma vez contra a corrente; não se preocupem, já estou acostumado: nos últimos dias, os principais telejornais noturnos destacaram os "sinais positivos" da economia brasileira. Há duas hipóteses do ponto de vista estritamente lógico: a estratégia marqueteira do governo funcionou mais uma vez ou, de fato, a "crise" não é tão feia quanto pintada. Eu penso que a primeira hipótese é bastante mais provável que a segunda (e os riscos associados são meus).

Gostaria de restringir-me à análise dos argumentos, mas impossível não incluir algumas informações de caráter pessoal, até para que os prezados leitores saibam de quem tratamos. Duas declarações de "especialistas" em economia foram fortemente retumbadas pela imprensa brasileira nas últimas semanas; mas um dos "especialistas" é contador e o outro advogado. São figuras respeitáveis, com longa biografia e tem o direito "constitucional", como todos, de falar asneiras e bobagens, especialmente depois dos exemplos vindos de cima.

Mas não creio que as declarações sejam tão inocentes: num caso é algo que chamo de patifaria; noutro, de canalhice mesmo. Claro, refiro-me ao papel operístico desempenhado por suas excelências, não às pessoas físicas, que sequer conheço pessoalmente. Para constar:

a) patife. Adj. e s. m. Desavergonhado, descarado, insolente.

b) canalha. S. F. Vil, infame, reles, velhaco.

No complexo raciocínio do contador (e "palestrante motivacional") Stephen Kanitz, o Brasil vai sair primeiro de uma crise que nunca existiu... Já na visão meta-dialética do assessor econômico "informal" de Lula (e presidente do Palmeiras), o advogado Luis Gonzaga de Mello Belluzzo, havia forte risco de recessão, condicionada à ação do governo (principalmente do Banco central), que estava equivocado; o governo nada fez, mas o risco passou...


Stephen, O "patife"

"O Brasil se recuperou, nesse sentido. No Brasil a crise, pra mim, acabou. Não há crise. O que nós temos agora é (sic) problemas. Não pode mais usar a palavra crise. Porque o único problema que nós tínhamos era do setor automobilístico. Não tínhamos problemas de subprime, nem falência de bancos."

"Nós podemos crescer, basicamente, com o mercado interno" . "Um problema que não é nosso é justamente o setor de exportação. Eles [outros países] estão em crise. Mas não vamos dizer que estamos em crise por causa disso. A crise sempre é deles."

Estas declarações foram dadas no último dia 10 do corrente, no programa Entre Aspas, da Globonews (vejam o vídeo aqui) e em entrevista, alguns dias depois (aqui).

Bem, houve um recuo da ordem de 10% do crescimento econômico do 3º para o 4º trimestre no último ano, já que crescíamos à taxas de 8% ao ano e, tudo indica, houve queda do produto no último trimestre. Só o setor automobilístico? Espero não ter que usar os serviços de contabilidade desse senhor...

Subprime? Com as maiores taxas de juros reais do planeta? Do que esse cara tá falando, heim?

Não temos falência de bancos, por enquanto e graças a Deus (e ao programa de reestruturação bancária do governo FHC, que teve, sempre, as críticas mais ácidas do partido do presidente, hoje no Planalto).

Quanto ao "mercado interno potencial", é o que se dizia (e se esperava) desde os anos 50. Mas não creio que se possa discordar que o crescimento econômico brasileiro, nos últimos 2 anos, foi produto, basicamente, do crescimento das exportações e do crédito interno. Como o setor de exportações "não é problema nosso", imagino que teremos crédito fácil, farto e barato. Isto com todo o mercado interbancário mundial parado... Bem, acho que como contador, esse sujeito é um excelente "palestrante motivacional"...

Por que chamo de patifaria? A bem da verdade o ilustre articulista de VEJA vem falando a mesma coisa desde o início da crise (leiam aqui e aqui). Ao menos não pode ser acusado de oportunismo, mas o fato é que ele vive de "vender otimismo"; é a profissão dele, declarada. E, de forma desavergonhada, o que ele tem feito é auto-publicidade do seu ganha-pão.


Gonzaga, O "canalha"

"Apesar de estar hoje em uma posição diferente, se comparada com com sua situação nas crises anteriores, o Brasil ainda não está livre de uma possível recessão em 2009. Nossa capacidade de reação muito superior à de antigamente não impede que a crise nos atinja: a recessão faz parte do leque de possibilidades para 2009, tudo depende das próximas atitudes político-econômicas do governo". Declaração dada em 19/11/08 (aqui).

Ué, concordo com tudo o que ele falava no final do ano passado!

"As medidas exigem ação rápida. Muitos, no governo e fora dele, viam o quadro como uma flutuação cíclica, para a qual seria desnecessária o corte na taxa de juros. Não se trata de uma crise da balança de pagamentos. Francamente, há limites para a burrice e para a estupidez. Lidamos com uma reversão brutal da confiança do mercado, há um colapso dos gastos em consumo e nos investimentos. O país precisa de gastos na veia e o governo terá que brigar com disposição." Em 13/01/09 (aqui).

Ôpa, parece que a situação havia piorado bastante em janeiro mas... o ilustre professor e respeitado intelectual mudou de opinião. Perdi grande parte da última noite, inutilmente, tentando localizar declaração dele, dada há cerca de uma semana atrás (a um noticiário da Globonews), na qual afirmava enxergar sinais de reação em determinados setores, ainda que de forma modesta.

Bem, esse é um caso tiquinho mais grave que o anterior. Apesar de sua formação e de uma evidente dificuldade de raciocinar com números, Belluzzo sabe do que está tratando e é um dos mais influentes e respeitados economistas brasileiros (e é assessor do presidente da República!).

Não é apenas picaretagem, há dolo! Não tenho qualquer simpatia por Meirelles, mas o que estava em disputa era a Presidência do Banco Central, não a do Palmeiras. Lula, o principal eleitor de Belluzzo, não conseguiu emplacá-lo. Azar do Palmeiras...

Perguntinha que não quer calar: se estava (está) tudo sob controle, para que mudar o presidente do Banco Central? Hã? Heim?
.

13 comentários:

  1. RM,

    Parece que toda a gente tá coçando o próprio umbigo e se danando para a política brasileira.

    Mudar de Presidentes de Bancos Centrais é normal em qualquer democracia: aquele que sai fica com uma reforma choruda e o que entra fica com um vencimento de príncipe.

    Trata-se, invariavelmente, de uma operação cosmética: renova-se a face do poder, mas o poder continua o mesmo. É como quando as gurias pintam os lábios de vermelho, de rosa, de violeta, etc, mas os lábios são os mesmos, e, por isso, os beijos são iguais, entende?

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  2. Grande Mr Portuga,
    não sabia que vossa lusonia era também especialista em economia... Saúdo-vos, pois!

    Bem, em alguns países trata-se de cargo tão estratégico, que seus presidentes e diretores chegam a ter mandatos, que não coincidem com os dos governantes...

    Mas é, de fato, uma possibilidade a interpretação dada, bastante otimista (o caboclo também é palestrista motivacional"?). Há outras duas, menos otimistas: a crise é muito séria e cogitou-se dar rumo inteiramente novo (e, de certo modo, imprevisível) à política econômica. Ou: a crise é muito séria e estamos completamente sem rumo...

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  3. Direito de resposta:

    Interceptamos o post do RMau para a transmissão do direito de resposta do H-omem.

    Ele, o H-omem, se pronuncia:

    http://www.youtube.com/watch?v=Y8h2AkEkuco


    Oops... em reprise:

    http://www.youtube.com/watch?v=9y-yb9fzx18


    O pronunciamento do Excelentíssimo Senhor Presidente:

    http://www.youtube.com/watch?v=OuU6qomfCQY


    Ô implicância, sô! “A maneira certa é a melhor maneira”...rsrs

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  4. Muito bem, Cora!

    O que prova que esse é um espaço verdadeiramente democrático...

    Agora, aquele H-Man é meio boiola, não? Eu, heim? rsss

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  5. acho que ninguém entendeu a mensagem...
    Enquanto os desmandos do país forem patrocinados pelo imposto que pagamos, nunca haverá crise no Brazil!
    Por isso pagamos imposto!A gente 'é brasileiro e não acaba nunca!Esperimenta cortar ou diminuir os impostos que pagamos e vamos ouvi-los falando de crise!
    A crise existe só na cabeça do assalariado que paga os impostos...enquanto pagarmos, o mundo pode explodir pra eles...

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  6. Ei Dona Pimenta,
    seja bem vinda.

    Eu até iria discordar da senhora (só pra dar direito de resposta), mas depois de ler sua versão de "Jogos Mortais" acho que concordo com tudo que a senhora falou... rss

    E ainda bem que pelo menos uma entendeu a mensagem!

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  7. crise, que crise? o brasil está em crise?! nada... é assim não...

    :(

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  8. Ei Teresa,
    pelo que deduzo, você concorda com a Patty e o Ricardo Soares... rss

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  9. política em nosso país (problema que não se percebe só aqui, claro! isso parece mais virose internacional!!) é que todo mundo nega a crise, por mais evidente que esteja, mas não pronunciá-la significa dizer que as coisas estão funcionando... para eles (os mais)...
    tipo coisa de esconder pó debaixo de onde, não sabe?

    rm... todos os dias milhares de brasileiros morrem de fome, adoecem porque não houve promoção da saúde, são violentados, assaltados e assassinados, são despedidos e despejados.

    não acredito mais nem em política, nem em políticos.

    o ricardo postou matéria hj, fresquinha sobre a candidatura do aécio, como se ele fosse nossa salvação... pelo pedigree... talvez, mas não só isso, o cara é bom mesmo, admito, mas infelizmente ainda acho que até lá ele se corrompe, assim, como o lula, o garotinho...

    a realidade é esta.

    :(

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  10. Teresa,
    agradeço o comentário e respeito sua opinião, claro. Mas não acreditar em políticos e política também não me parece uma solução para os problemas apontados. Aliás, quero crer que quanto menos se dê importância à política (e aos políticos, no sentido de cobrança) mais longe estaremos de resolver ou atenuar os problemas...

    Não creio que o Ricardo Soares, meu amigo, tivesse esta intenção com o post. Ao contrário, ele parece ter destacado eventuais "defeitos" do governador mineiro. Eu comentei lá no blog dele...

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  11. rm,
    não tive a intenção de criticar, no sentido negativo, o post do ricardo, nossa! nem tenho embasamento pra isto!! só citei como exemplo.

    não acredito em governo e governantes, sinto muito, mas não acredito, nem acredito na boa fé deles, nem compromisso com o POVO (enqto povo que sou!).

    perdi o amigo(s)?!

    não foi minha intenção magoar, ofender, criticar ou desmerecer tanto o seu trabalho, ou de quem quer que seja, mesmo porque acho o nível do seu blog um dos melhores que temos por aqui.

    de qq forma, perdoe-me.

    ...

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  12. Teresa
    é claro que não ofendeu nem desmereceu ninguém, de modo algum. Só posso falar por mim, mas tenho certeza de que pensam o mesmo o Ricardo e a Patty, para ficar nos citados.

    Vejo isso aqui como uma conversa entre amigos e você tem todo o direito à sua opinião. E eu a respeito, apesar de discordar...

    Ao contrário, expressando sua opinião, acho que nos tornamos mais amigos, à medida em que nos conhecemos mais e melhor. Desencana, nega! rsss

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  13. ...além do mais... a gente só perde aquilo que tem, né?

    !!

    a respeito de "com jeito vai"... foi censurado!!

    !!

    é um estado de putez mórbida!

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