terça-feira, 9 de março de 2010

MÚSICA E POESIA (9)

"Só uma palavra me devora..."
























Apesar de compartilhar a mesma geração com Chico, Caetano e outros grandes letristas, Abel Silva (Cabo Frio, 1943) só começou a compor em 1975. Antes disto foi professor de Literatura Brasileira na UFRJ e na PUC-Rio. Nesse período publicou "O afogado" (RJ: Ed. José Álvaro, 1971), "Açougue das almas" (SP: Ed. Ática, 1974) e  "Asas" (RJ: Ed. Muro, 1975), respectivamente romance, contos e poesia, cujos títulos guardam curiosa relação com as datas de publicação... Foi também editor de cultura do jornal "Opinião" e lançou a revista "Anima". Atualmente é diretor da União Brasileira de Compositores.(aqui e aqui para biografias resumidas)

A partir daí teve profícua carreira, com centenas de letras produzidas com variados parceiros e gravadas por quase todos os grandes intérpretes da mpb. Compôs com Moraes Moreira, João Donato, Dominguinhos, João Bosco, Roberto Menescal, Ivan Lins, João do Vale, Nonato Luiz, Jards Macalé, Zé Renato, Cristóvão Bastos, Tunai; entre outros, e foi importante parceiro de Sueli Costa e Fagner. Sua primeira canção, Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva) explodiu nas vozes de Simone e Fagner, Raios de Luz (Cristóvão Bastos/Abel Silva) chegou a ser gravada por Barbra Streisand e Festa do Interior (Moraes Moreira/Abel Silva) teve mais de 20 gravações fora do Brasil. (aqui para uma seleção de suas obras)

Como já falei em outras postagens da série (cliquem no label "música e poesia" para ver os anteriores), não tenho a menor competência para analisar as obras dos letristas-poetas aqui apresentados, mas tão somente de nelas reconhecer o brilho. Mas talvez pudesse afirmar que a principal característica no presente caso seja a universalidade dos versos, certa flexibilidade que valeria para diferentes ritmos e temas, como são variados seus parceiros. Para os que desejem aprofundar na análise de sua obra sugiro a leitura de entrevista do autor ao pesquisador e historiador da música popular brasileira Carlos Didier, que publico abaixo:



De dezenas de letras a que mais gosto é Música, Música (Sueli Costa/Abel Silva) e suponho que só os que tem "alma de músico" comigo concordem:

"Música, Música
Companheira do quarto dos rapazes
Entre revistas e fumaça
Confidente do quarto das meninas
Entre calcinhas e sandálias
Música, música
Farol na cerração dos grandes medos
A força que levanta os bailarinos
Elétrica guitarra entre os dedos
Aflitos e quentes dos meninos
Música, música
Irmã, imã, irmã
Feroz como a ira do Irã
Ou mansa como o último carinho
Quando já chega a manhã
Música, Música"



Da lista: com Nana Caymmi, O Amor quando Acontece (João Bosco/Abel Silva) e Voz e Suor (Sueli Costa/Abel Silva). Com Rosa Passos, Desenho de Giz (João Bosco/Abel Silva). Com Gal Costa, Festa do Interior (Moraes Moreira/Abel Silva). Com Zélia Duncan, Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva). Com Dihelson Mendonça, Brisa do Mar (João Donato/Abel Silva). Com Pedro Mariano e César Camargo Mariano, Acaso (Ivan Lins/Abel Silva). Com Simone, Música, Música (Sueli Costa/Abel Silva). Com Angela Ro Ro, Simples Carinho (João Donato/Abel Silva). E com Elis Regina, O Primeiro Jornal (Sueli Costa/Abel Silva).

12 comentários:

  1. Mais uma feliz e inspirada escolha! O homem é demais e fica até difícil escolher, dentre as escolhidas, qual a "melhor das melhores", mas tenho um carinho especial, por um "Simples carinho"... ( sempre gostei da Rô Rô!) Jura secreta dispensa comentários, e a sua preferida, já fazia uns 20m anos que não a ouvia, é mole?? rs
    Vou ficar me deliciando com todas elas!!
    As minhas ouças agradecem!!rs
    Primorosa postagem, como sempre, e achei perfeita a sua forma de tentar defini-lo...

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  2. rm
    Continuo com a Mercedes a cantar SEM poder desligar essa ...

    Queres dar um jeito nisso PLEASE... Se não posso ouvir as músicas novas :-(

    Anne

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  3. "Aí, diz o meu coração
    Que prazer tem bater
    Se ele não vai ouvir

    Aí minha boca me diz
    Que prazer tem sorrir
    Se ela não me sorri também
    Quem pode querer ser feliz
    Se não for por um grande amor"

    ai ai ai...

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  4. "Nada do que posso me alucina
    Tanto quanto o que não fiz
    Nada do que eu quero me suprime
    Do que por não saber ainda não quis"

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  5. "Quem sabe até não é meu destino
    Amor sem espinhos
    Sou mel da sua boca, calor dos abraços
    E tantos beijinhos
    Se o sonho acabou, não sei meu amor
    Nem quero saber
    Só sei que ontem à noite
    Sorrindo acordada
    Sonhei com você"

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  6. Nem é preciso dizer que gostei do post, assim, completinho, né rm?...rs.

    Adorei a entrevista:

    É o "Beleleco" (como o chamava a Gal Costa(!), com centenas de composições, e "criador da poesia que se comunica e encontra expressão natural em música", segundo Carlos Drummond de Andrade:

    Brisa do mar
    Confidente do meu coração
    Me sinto capaz de uma nova ilusão

    Que também passará
    Como ondas na beira de um cais
    Juras, promessas, canções
    Mas por onde andarás

    ...

    Ou o Abel Silva (de nome tão brasileirinho), citando Roland Barthes, que define música popular como o conjunto de fragmentos de um discurso amoroso, é também, simples e sem preconceito, mais uma das sutis genialidades da nossa música popular que fala de amor de uma forma original e sofisticada:

    "Quando uma mulher
    deseja o coração
    de um homem
    toda a natureza
    corre pra ajudar.
    E pinta de beleza
    o sorriso que artimanha
    e faz que é sutileza
    o gesto mais vulgar.
    E esse homem, então,
    vive o cerco mais feliz
    que pode um animal sofrer.
    - Cuidado! É perigoso! -
    o coração lhe diz,
    mas diz também que quer
    se deixar prender.
    Amor - ai, que capricho -
    me tirou a paz,
    me acende em arrepios,
    me faz sufocar
    Me deixa assim vazio,
    me faz transbordar,
    a dor não sei se dói,
    se aquece,
    não sei o que acontece
    em mim
    Só sei que é alegria,
    desesperada luz,
    a vida revelada
    em mim!
    (Capricho)

    PS: Encontrei "Mundo Delirante", em parceria com a craque Sueli Costa e não resisti... porque ele tá, ainda que com sombra, um tantinho melhor que na fotinhA que você postou...:p

    http://www.dailymotion.com/video/x32dm6_clarisse-grova

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  7. Ops, esqueci de citar a Clarisse Grova e sua bela voz:

    http://www.youtube.com/watch?v=b24paW1-sj0

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  8. Helô,
    assim vou (mal) acostumando com seus sempre simpáticos e generosos comentários.
    Pra falar a verdade essas postagens dão um trabalho do cão, mas também muito prazer e até alguma aprendizagem: nem eu sabia que a minha "preferida" tinha sido escrita pelo poeta...

    Anne,
    desculpe, nega; agora que entendi seu problema com a "Mercedes"...
    Olha, não faço a menor idéia do que pode estar acontecendo mas peço que você tente trocar seu navegador (por exemplo, se usa o IE pelo Firefox e vice-versa) ou ajustar os controles no próprio player (os 2 botõezinhos que ficam abaixo da palavra "time").

    Cora,
    thanks, querida. Como sempre seus acréscimos e e sugestões à postagem a enriquecem e muito.
    Assim que tiver um tempinho vou checar os links...

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  9. rm

    Para variar um pouco o problema era com o IE ... Obigada pela dica 'cause although I love Mercedes Sosa, cansa sempre ouvir a mesma música rsrsrsrsrsr

    Beijão
    Anne

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  10. Mais uma escolha maravilhosa!
    Estou ouvindo pela segunda vez e não me canso.
    "O primeiro jornal" é quase uma crônica com data bem definida quando o jornal impresso ocupava um lugar diferente do atual, antes da internet. ...de repente deu "uma saudade à toa... numa boa"
    ;)

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  11. ...você tirou os links pro "Verbo..."?

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  12. Anne,
    inexplicável é como Bill Gates pode ser um dos caras mais ricos do mundo... rss

    Udi,
    muito obrigado, querida!
    Hoje em dia seria "o primeiro twitter"... rss
    Só tirei a seção destacada, os links permanecem...

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