"Só uma palavra me devora..."
Apesar de compartilhar a mesma geração com Chico, Caetano e outros grandes letristas, Abel Silva (Cabo Frio, 1943) só começou a compor em 1975. Antes disto foi professor de Literatura Brasileira na UFRJ e na PUC-Rio. Nesse período publicou "O afogado" (RJ: Ed. José Álvaro, 1971), "Açougue das almas" (SP: Ed. Ática, 1974) e "Asas" (RJ: Ed. Muro, 1975), respectivamente romance, contos e poesia, cujos títulos guardam curiosa relação com as datas de publicação... Foi também editor de cultura do jornal "Opinião" e lançou a revista "Anima". Atualmente é diretor da União Brasileira de Compositores.(aqui e aqui para biografias resumidas)
A partir daí teve profícua carreira, com centenas de letras produzidas com variados parceiros e gravadas por quase todos os grandes intérpretes da mpb. Compôs com Moraes Moreira, João Donato, Dominguinhos, João Bosco, Roberto Menescal, Ivan Lins, João do Vale, Nonato Luiz, Jards Macalé, Zé Renato, Cristóvão Bastos, Tunai; entre outros, e foi importante parceiro de Sueli Costa e Fagner. Sua primeira canção, Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva) explodiu nas vozes de Simone e Fagner, Raios de Luz (Cristóvão Bastos/Abel Silva) chegou a ser gravada por Barbra Streisand e Festa do Interior (Moraes Moreira/Abel Silva) teve mais de 20 gravações fora do Brasil. (aqui para uma seleção de suas obras)
Como já falei em outras postagens da série (cliquem no label "música e poesia" para ver os anteriores), não tenho a menor competência para analisar as obras dos letristas-poetas aqui apresentados, mas tão somente de nelas reconhecer o brilho. Mas talvez pudesse afirmar que a principal característica no presente caso seja a universalidade dos versos, certa flexibilidade que valeria para diferentes ritmos e temas, como são variados seus parceiros. Para os que desejem aprofundar na análise de sua obra sugiro a leitura de entrevista do autor ao pesquisador e historiador da música popular brasileira Carlos Didier, que publico abaixo:
De dezenas de letras a que mais gosto é Música, Música (Sueli Costa/Abel Silva) e suponho que só os que tem "alma de músico" comigo concordem:
"Música, Música
Companheira do quarto dos rapazes
Entre revistas e fumaça
Confidente do quarto das meninas
Entre calcinhas e sandálias
Música, música
Farol na cerração dos grandes medos
A força que levanta os bailarinos
Elétrica guitarra entre os dedos
Aflitos e quentes dos meninos
Música, música
Irmã, imã, irmã
Feroz como a ira do Irã
Ou mansa como o último carinho
Quando já chega a manhã
Música, Música"
Da lista: com Nana Caymmi, O Amor quando Acontece (João Bosco/Abel Silva) e Voz e Suor (Sueli Costa/Abel Silva). Com Rosa Passos, Desenho de Giz (João Bosco/Abel Silva). Com Gal Costa, Festa do Interior (Moraes Moreira/Abel Silva). Com Zélia Duncan, Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva). Com Dihelson Mendonça, Brisa do Mar (João Donato/Abel Silva). Com Pedro Mariano e César Camargo Mariano, Acaso (Ivan Lins/Abel Silva). Com Simone, Música, Música (Sueli Costa/Abel Silva). Com Angela Ro Ro, Simples Carinho (João Donato/Abel Silva). E com Elis Regina, O Primeiro Jornal (Sueli Costa/Abel Silva).
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Mais uma feliz e inspirada escolha! O homem é demais e fica até difícil escolher, dentre as escolhidas, qual a "melhor das melhores", mas tenho um carinho especial, por um "Simples carinho"... ( sempre gostei da Rô Rô!) Jura secreta dispensa comentários, e a sua preferida, já fazia uns 20m anos que não a ouvia, é mole?? rs
ResponderExcluirVou ficar me deliciando com todas elas!!
As minhas ouças agradecem!!rs
Primorosa postagem, como sempre, e achei perfeita a sua forma de tentar defini-lo...
rm
ResponderExcluirContinuo com a Mercedes a cantar SEM poder desligar essa ...
Queres dar um jeito nisso PLEASE... Se não posso ouvir as músicas novas :-(
Anne
"Aí, diz o meu coração
ResponderExcluirQue prazer tem bater
Se ele não vai ouvir
Aí minha boca me diz
Que prazer tem sorrir
Se ela não me sorri também
Quem pode querer ser feliz
Se não for por um grande amor"
ai ai ai...
"Nada do que posso me alucina
ResponderExcluirTanto quanto o que não fiz
Nada do que eu quero me suprime
Do que por não saber ainda não quis"
"Quem sabe até não é meu destino
ResponderExcluirAmor sem espinhos
Sou mel da sua boca, calor dos abraços
E tantos beijinhos
Se o sonho acabou, não sei meu amor
Nem quero saber
Só sei que ontem à noite
Sorrindo acordada
Sonhei com você"
Nem é preciso dizer que gostei do post, assim, completinho, né rm?...rs.
ResponderExcluirAdorei a entrevista:
É o "Beleleco" (como o chamava a Gal Costa(!), com centenas de composições, e "criador da poesia que se comunica e encontra expressão natural em música", segundo Carlos Drummond de Andrade:
Brisa do mar
Confidente do meu coração
Me sinto capaz de uma nova ilusão
Que também passará
Como ondas na beira de um cais
Juras, promessas, canções
Mas por onde andarás
...
Ou o Abel Silva (de nome tão brasileirinho), citando Roland Barthes, que define música popular como o conjunto de fragmentos de um discurso amoroso, é também, simples e sem preconceito, mais uma das sutis genialidades da nossa música popular que fala de amor de uma forma original e sofisticada:
"Quando uma mulher
deseja o coração
de um homem
toda a natureza
corre pra ajudar.
E pinta de beleza
o sorriso que artimanha
e faz que é sutileza
o gesto mais vulgar.
E esse homem, então,
vive o cerco mais feliz
que pode um animal sofrer.
- Cuidado! É perigoso! -
o coração lhe diz,
mas diz também que quer
se deixar prender.
Amor - ai, que capricho -
me tirou a paz,
me acende em arrepios,
me faz sufocar
Me deixa assim vazio,
me faz transbordar,
a dor não sei se dói,
se aquece,
não sei o que acontece
em mim
Só sei que é alegria,
desesperada luz,
a vida revelada
em mim!
(Capricho)
PS: Encontrei "Mundo Delirante", em parceria com a craque Sueli Costa e não resisti... porque ele tá, ainda que com sombra, um tantinho melhor que na fotinhA que você postou...:p
http://www.dailymotion.com/video/x32dm6_clarisse-grova
Ops, esqueci de citar a Clarisse Grova e sua bela voz:
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=b24paW1-sj0
Helô,
ResponderExcluirassim vou (mal) acostumando com seus sempre simpáticos e generosos comentários.
Pra falar a verdade essas postagens dão um trabalho do cão, mas também muito prazer e até alguma aprendizagem: nem eu sabia que a minha "preferida" tinha sido escrita pelo poeta...
Anne,
desculpe, nega; agora que entendi seu problema com a "Mercedes"...
Olha, não faço a menor idéia do que pode estar acontecendo mas peço que você tente trocar seu navegador (por exemplo, se usa o IE pelo Firefox e vice-versa) ou ajustar os controles no próprio player (os 2 botõezinhos que ficam abaixo da palavra "time").
Cora,
thanks, querida. Como sempre seus acréscimos e e sugestões à postagem a enriquecem e muito.
Assim que tiver um tempinho vou checar os links...
rm
ResponderExcluirPara variar um pouco o problema era com o IE ... Obigada pela dica 'cause although I love Mercedes Sosa, cansa sempre ouvir a mesma música rsrsrsrsrsr
Beijão
Anne
Mais uma escolha maravilhosa!
ResponderExcluirEstou ouvindo pela segunda vez e não me canso.
"O primeiro jornal" é quase uma crônica com data bem definida quando o jornal impresso ocupava um lugar diferente do atual, antes da internet. ...de repente deu "uma saudade à toa... numa boa"
;)
...você tirou os links pro "Verbo..."?
ResponderExcluirAnne,
ResponderExcluirinexplicável é como Bill Gates pode ser um dos caras mais ricos do mundo... rss
Udi,
muito obrigado, querida!
Hoje em dia seria "o primeiro twitter"... rss
Só tirei a seção destacada, os links permanecem...