Não pretendia abordar a cerimônia de posse, já ultra-explorada pelos meios de comunicação e sobre a qual não teria muito a acrescentar (sobre a eleição de Obama, já havia me pronunciado, aqui). Mas mudei de idéia a partir de observações de duas blogueiras amigas, ambas talentosas jornalistas, Luciana G e Denise do Egito. A última chamou a atenção para o discurso de posse, que considerou bom demais para ser verdade e a primeira, além de ressaltar os gravíssimos problemas colocados ao novo presidente, sublinhou a magnífica participação da cantora Aretha Franklin na cerimônia.
Seguem trechos selecionados do discurso, com tradução de André Fontenelle para a Revista Época (leiam na íntegra aqui e o original em inglês aqui). Na sequência, o vídeo com a canção. Luciana tem razão, a rainha do soul cantou como quem faz uma pequena prece...
"É bem sabido que estamos no meio de uma crise. Nossa nação está bastante enfraquecida, uma consequência da ganância e da irresponsabilidade de alguns, mas também da nossa incapacidade coletiva de tomar decisões difíceis e preparar a nação para uma nova era. Lares foram perdidos; empregos foram cortados; empresas destruídas. Nossa saúde é cara demais; nossas escolas deixam muitos para trás; e cada dia traz novas evidências de que a forma como usamos a energia fortalece nossos adversários e ameaça nosso planeta.
Hoje eu lhes digo que os desafios diante de nós são reais. São sérios e são muitos. Eles não serão superados facilmente ou num curto período de tempo. Mas saiba disso, América: eles serão superados. (aplausos)
Ainda somos uma nação jovem, mas, nas palavras das Escrituras, chegou a hora de acabar com as coisas de menino. Chegou a hora de reafirmar nosso espírito resistente; de optar pela nossa melhor história; de levar adiante esse dom precioso, essa nobre ideia, passada de geração em geração: a promessa divina de que todos são livres, todos são iguais e todos merecem a chance de lutar por sua medida justa de felicidade.
Para onde quer que olhemos, há trabalho a fazer. O estado da economia exige ação, ousada e rápida, e nós vamos agir – não apenas para criar novos empregos, mas para estabelecer novas fundações para o crescimento. Construiremos as estradas e pontes, as linhas elétricas e digitais que alimentam nosso comércio e nos unem. Recolocaremos a ciência em seu devido lugar, e usaremos as maravilhas da tecnologia para elevar a qualidade de nosso atendimento de saúde e reduzir seu custo. Usaremos o sol, os ventos e o solo para abastecer nossos carros e fazer funcionar nossas fábricas. E transformaremos nossas escolas e universidades para atender as exigências de uma nova era.
A questão que se deve perguntar hoje não é se o governo é grande demais ou pequeno demais, mas se funciona – se ajuda as famílias a encontrar empregos com salários decentes, assistência que possam pagar, aposentadorias dignas. Onde a resposta for sim, nossa intenção é seguir em frente. Onde a resposta for não, os programas serão cortados. E aqueles que administram os dólares da população terão que assumir suas responsabilidades: gastar com sabedoria, mudar os maus hábitos, fazer negócios à luz do dia.
Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos como falsa a escolha entre nossa segurança e nossos ideais. Nossos pais fundadores, diante de perigos que mal conseguimos imaginar, elaboraram uma carta para assegurar o império da lei e os direitos do homem, uma carta difundida pelo sangue de gerações. Esses ideais ainda iluminam o mundo, e não vamos abandoná-los em nome da praticidade.
Começaremos de forma responsável a deixar o Iraque para seu povo, e forjaremos uma paz duramente conquistada no Afeganistão. Com velhos amigos e ex-inimigos, trabalharemos incansavelmente para reduzir a ameaça nuclear e fazer recuar o espectro de um planeta em aquecimento.
Ao mundo muçulmano: buscamos uma nova trilha adiante, baseada em interesses mútuos e respeito mútuo. Àqueles líderes mundo afora que buscam semear o conflito, ou pôr no Ocidente a culpa pelos males de suas sociedades: saibam que o povo os julgará por aquilo que vocês podem construir não pelo que vocês destruírem. Àqueles que se agarram ao poder por meio de corrupção e trapaças, e que silenciam opositores: saibam que vocês estão do lado errado da história; mas que estendermos a mão se vocês estiverem dispostos a descerrar seus punhos.
Aos povos das nações pobres: comprometemo-nos a trabalhar ao lado de vocês para que suas fazendas floresçam e águas limpas possam fluir; para alimentar corpos esfomeados e mentes famintas. E àquelas nações como a nossa, que gozam de relativa abundância, dizemos que não podemos mais aceitar a indiferença ao sofrimento fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem pensar nos efeitos disso.
Este é o significado de nossa liberdade e de nosso credo - razão pela qual homens, mulheres e crianças de todas as raças e religiões podem reunir-se em celebração nesta magnífica avenida, e a razão pela qual um homem cujo pai, menos de 60 anos atrás, não poderia fazer um pedido num restaurante local, pode agora comparecer diante de vocês para prestar um sacratíssimo juramento."
Um breve comentário:
Sim, Luciana. Os desafios são hercúleos (ou bíblicos) e parecem-me temerários quaisquer prognósticos. Mas o fato de o presidente demonstrar capacidade para percebê-los, inclusive em sua dificuldade de superação, quer me sugerir que trata-se de alguém extremamente capacitado para o cargo. Em outro discurso, na mesma noite, foi mais enfático:
"Enquanto estamos aqui esta noite, sabemos que há americanos valentes que acordam nos desertos do Iraque e nas montanhas do Afeganistão para dar a vida por nós.
Há mães e pais que passarão noites em claro depois que as crianças dormirem e se perguntarão como pagarão a hipoteca ou as faturas médicas ou como economizarão o suficiente para a educação universitária de seus filhos.
Há novas fontes de energia para serem aproveitadas, novos postos de trabalho para serem criados, novas escolas para serem construídas e ameaças para serem enfrentadas, alianças para serem reparadas.
Haverá percalços e passos em falso. Muitos não estarão de acordo com cada decisão ou política minha quando assumir a presidência. E sabemos que o Governo não pode resolver todos os problemas." (leiam tradução completa aqui)
My Country 'Tis of Thee (David Crosby)
My country 'tis of thee
Sweet land of liberty
Of thee I sing
Land where my fathers died
Land of the pilgrim's pride
From every mountainside
Let freedom ring
Let freedom ring
Let it ring...
Bom, erre-eme, ainda não dá pra saber se o Obama vai virar santo e resolver milagre, mas confesso que ver o Bush indo embora foi bão... mas foi bão... :))))
ResponderExcluirBesitos,
Ei dona Srta,
ResponderExcluirficou mais feliz do que quando o Eurico Miranda saiu do Vasco?
(a propósito, a Srta tem origens portuguesas? rsss)
olá.
ResponderExcluirmesmo assim todos apostam nele. tb eu.
mas não sei
tem um quê
que nem bate tão bem
assim.
ahh... mas ver o Bush sair
bão mesmo!
abç,
Teresa:)
Como já afirmei em outro comentário, creio que esse moço vai fazer um bom governo sim, mas não podemos esquecer que ele está no maior centro do capitalismo mundial, e que o consumo dos americanos é um desastre para o mundo inteiro, ou seja vai ser "pedreira", ele é presidente dos EEUU, e nós...
ResponderExcluirSim, negão! Será que agora a gente pode falar nego, negão, neguinho, sem ser taxado de politicamente incorreto?
ResponderExcluirSim, negão! Foi bom demais ver a Aretha com aquele lação prata cheio de brilhos. E bom demais ouvi-la aqui
Bom demais ver a Michele, poderosíssima, naquele vestidão meio brega amarelo de brocados.
Ver dois milhões de pretos, pardos, brancos, amarelos, vermelhos, verdes, cinzas, tudo ali, celebrando uma mudança.
Só espero que o negão não infarte... Ou não leve um tiro.
Marcos Valério, bom mesmo a gente não esquecer que o que é bom para os EUA nem sempre é bom para o Brasil...
Beijos, RM!
Teresa,
ResponderExcluirbem vinda! Mas o que não bate bem, na sua opinião?
Valério,
nós nunca estivemos no jogo, embora a diplomacia do atual governo se esforce, pateticamente, para demonstrar o contrário.
Mas, quanto antes os EUA sairem da crise, melhor para o resto do mundo, inclusos nosotros...
Luciana, querida,
bom mesmo é conversar com você. Pessoalmente ou através desses brinquedos virtuais...
Beijos!!!
Roney, peço licença para um assunto off topic. Infelizmente a depressão que eu julgava estar finalmente controlada me venceu por outra via. Fui demitido ontem e por essa razão estou bloqueando o blog pois não tenho ânimo algum para mantê-lo, mas tenho dó de deletá-lo. Se puder, agradeceria imensamente se pudesse avisar Eliana Mara, Mara, Luciana G, Marcos Rocha, Beth, Nicolau e Ana Paula. Como você foi o elo que me ligou a eles, agradeço a amizade ( se Deus quiser é só uma marola e consiguirei um novo emprego em breve).
ResponderExcluirAbraços e desculpe a forma de despedida. É que a situação ficou desesperadora.
Celso (Chorik)
Tenho o imenso desprazer de chegar aqui hoje e receber, através do espaço dos comments de RM, essa notícia, Celso.
ResponderExcluirJá percebi que a hipertensão e a depressão andam pertinho de você (como será que eu percebi???rsrsrs), mas o seu bom-humor sempre vence, felizmente.
Não vou dar conselho besta, da sua dor sabe você. O que me deixa tiquinho mais tranquila é saber que você tem uma família forte e linda. E que você é forte paca, mesmo quando não quer transparecer.
Nunca de te vi, sempre te amei, viu?
Conte com a gente, mande mail, vamos tomar alguns porres juntos!
Um grande abraço pra todos da família e até a volta do Chorik!
BEIJÃO!
PS: e não se esqueça da publicação de O Diário de um Japa, organização e seleção de Luciana e Nicolau.
Grande japa,
ResponderExcluira Luciana falou por todos nós.
rm
ResponderExcluirFechar Guantanamo foi muito bom e intervir nos funcionários que atendem a lobbies tb é importante. Querer transparência no governo é fundamental, meu Deus! Gostei muito. Aguardo com expectativa, mas como falei, ele é americano e eu tenho lá minhas ressalvas... Mas saber que ele é negro e se chama Hussein..ui, que delícia. Os estados do Sul estão se roendo...hehehe
Bjs
rm
ResponderExcluirSó pra brincar e apimentar meus comentários tão sérios desde sua última postagem:
Eu pegaria* o Obama... KAKAKAKAKAKA
* Vc entende o que é exatamente "pegaria"? Aqui no Rio é super comum...
Bjs
Denise,
ResponderExcluirnão faço a menor ideia (com ou sem acento) do que vem a ser o uso heterodoxo dessa singela expressão, mas posso garantir-lhe que eu não pegaria... rsss
E seus comentários, sérios ou não, fazem diferença aqui...
(mas a negona, brega ou não, ainda dá um senhor caldo... Você entende o que é exatamente "caldo"? Aqui em Minas é super comum...)
Kakakaka
ResponderExcluirEntão, vc pega ela e eu pego ele.
Pano rápido.
E eu? Não sobrou ninguém pra eu pegar e que dê um bom caldo??? rssrs
ResponderExcluirbjs e... estou de volta! rs
Não precisa mais puxar a orelha...rs
Grande (em mais de um sentido) Maroca,
ResponderExcluiré porque a senhora não merece "sobras"...
Que bom que voltou... Já tava achando que era algo pessoal comiguinho...
A propósito, já votou na enquete do "RM NO VERBO"? rsss