domingo, 22 de novembro de 2009
EM QUE TETAS MAMA "O FILHO DO BRASIL"
Antes da edição da Lei 8.666/93 a forma mais fácil e segura de promover maracutaias no Brasil era através das empresas estatais e/ou de economia mista. Muito simples: de um lado ajustava-se o cabide de empregos; de outro contratos sem licitação com o setor privado. Depois da vigência da lei acabou esse tipo de sacanagem? Claro que não; ficou apenas um pouco mais trabalhoso: os contratos são regidos pela nova lei, que impõe limites (através das diversas modalidades de licitação) e a contratação de pessoal obriga-se a concurso público. Ora, então como se faz a maracutaia? Elementar: licitações podem ser fraudadas ou, no mínimo dirigidas; e, as contratações de pessoal passaram a ser feitas, diretamente, pelo setor privado. Um exemplinho: digamos que se deseje favorecer certa empresa num processo licitatório. O que ganha o agente público que o permitiu? Pode ganhar, por exemplo, empregos para indicados/apaniguados/parentes na empresa beneficiada ou, o que é ainda mais fácil, contratos dessa empresa com terceiras empresas sob sua influência...
Outra maneira trivial de exercer tráfico de influência é através da imposição de condicionantes para fornecedores do setor público. É o caso, clássico, das contribuições para campanhas políticas, por parte de empreiteiras, entre outros segmentos empresariais. E, claro, não há limites para a criação dessa forma de constrangimento, dependendo apenas da criatividade que, como todos sabem, abunda no caso brasileiro. Então, por que não obrigar empresas a comprarem cotas para a produção de um filme sobre a vida do presidente da República?
Pois eu não tenho qualquer dúvida em afirmar que, no caso do filme produzido por Luís Carlos Barreto sobre a vida de Lula, pesam graves suspeitas de que isto tenha ocorrido:
1) Segundo levantamento da Folha de São Paulo, o filme, orçado em cerca de R$ 16 milhões, recebeu patrocínio de 17 empresas, das quais "a maior parte mantém negócios com os ministérios e bancos do governo federal." Entre estas, sete empresas "receberam cerca de R$ 407 milhões em pagamentos diretos da União por conta de obras, aquisição de equipamentos e outros serviços. Outras cinco obtiveram financiamentos do BNDES e outra tem como sócio um banco estatal e o fundo de pensão a ele ligado, ambos controlados pela União" (mais aqui).
2) Outras fontes falam em 18 empresas patrocinadoras e 3 apoiadoras, inclusive 4 delas se recusando "a aparecer na lista de patrocinadores oficiais" (mais aqui). Entre os patrocinadores estão a AmBev, Camargo Corrêa, Embraer, GDF Suez, Hyundai, Nestlé, Neoenergia, OAS, Odebrecht, Oi, SENAI, Souza Cruz e Volkswagen. O empresário Eike Batista fez doação como pessoa física.
3) Camargo Corrêa, OAS e Odebrecht são 3 das maiores empreiteiras do país e mantém dezenas, senão centenas de contratos com a União. A empresa de telefonia OI foi, recentemente, beneficiada com a autorização para comprar a Brasil Telecom. A Neoenergia tem um fundo de pensão público como controlador e o SENAI é uma instituição paragovernamental, que vive de subsídios públicos.
4) Todos os patrocínios foram feitos fora da lei de incentivo à cultura, que permite deduções fiscais, mas impõe transparência na aplicação dos recursos e na contabilidade das empresas doadoras (mais aqui). Em relação a este incomum aspecto, o produtor do filme, num acesso de cinismo, disse que "a novidade é que o filme deverá ser inteiramente rodado sem receber um centavo de dinheiro público" (mais aqui e aqui).
Esse conjunto de evidências, por si só, bastaria para que o Ministério Público Federal abrisse inquérito e investigasse as circunstâncias nas quais ocorreram os patrocínios. Mas, antes disso - e em qualquer lugar civilizado do planeta - a opinião pública já teria reagido e exigido explicações do presidente da República...
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As televisões portuguesas noticiaram hoje o filme, apresentando o trailer e tecendo agradáveis comentários.
ResponderExcluirDo que vi pareceu-me que é um filme épico e de aventura, comparável aos recentes filmes (2004 e 2008) sobre Che Guevara, que foi já considerado umas das maiores personalidades do século XX.
Pareceu-me também que há a intenção de criar um herói, uma lenda viva, um culto ao nome e à personalidade.
Os heróis fazem-se por um processo idêntico ao vírus H1N1 - em laboratório, ainda que ali o laboratório seja a máquina de filmar que os petistas usaram para fazer o cinema.
Tem razão, Portuga. Nem vou discutir os aspectos relacionados à propaganda política, mas só lembrar que o mesmo fez parte da trajetória de Mussolini, Hitler e Stalin, entre outros.
ResponderExcluirAgora, se empresas que tem negócios com o governo, financiaram o filme, quer me parecer que houve grave equívoco político (sem falar nos crimes tipificados no Código Penal).
Ah, RM...quanta maldade da tua parte! O filme só mostra a história de vida de um menino que veio do nada e transformou-se em presidente (poderia ser qualquer outra coisa, como astro da música sertaneja, por exemplo). É apenas uma história de superação, dessas que brasileiro adora, não trata-se de politicagem alguma, nem houve maracutaia na produção. Tsc-tsc-tsc.
ResponderExcluirVai dizer que não vai sentir orgulho de ver a vida do Lula mostrada na telona, han, han? Que programão, hein?
Rs
Lamentável.
ℓυηα
Rss
ResponderExcluirDepois eu é que sou venenoso...
O fato, Luna, é que é mesmo extraordinário alguém com a origem e a trajetória de Lula chegar ao poder. Pena que ele não respeite a própria biografia.
Respeito é algo que passou longe dessa trajetória!!! O embróglio neste país está tão denso que o a ponta do fio da meada sumiu!!!
ResponderExcluirBeijos
Anne
Ei Anne,
ResponderExcluirassim não tem jeito de "tricotar", né? rss
É rm, fica difícil!!!! rsrsrsrsr
ResponderExcluirGente!
ResponderExcluir"Devagar com o andor que o santo é de barro"
É só mais um filme biográfico com a bonita história-ficção de um brasileiro, acima de tudo um forte, um líder?!
De quantos de nós a própria vida daria um filme?
Goste ou não, o homem é uma personalidade da história do país e, a exemplo de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, que também tiveram suas histórias contadas nas telas, tem tudo para dar certo como estratégia: nasce o mito do herói...
Ponto para o Lula! O “burburinho” de oposição política com o jogo de imagem cinematográfica parece que vai render muito.
Ah Corinha, pega leve, nega!
ResponderExcluirNão fiz qualquer acusação, mas tão somente demonstrei, com ARGUMENTOS, que não faltam indícios para que o MP instaure investigação...
A propósito, quais são mesmo os seus ARGUMENTOS contrários?
RM,
ResponderExcluirNão é importante saber quem custeou, financiou ou patrocinou o filme, e ainda bem.
O importante mesmo é o que o filme pretende, e isso já comentei - houve outros filmes: do Che, do Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek (thanks, Cora), etc, de heróis mortos. O Lula é um herói vivo?
Portuga,
ResponderExcluirposso estar enganado, mas não consta que filmes ficcionais tenham sido feitos sobre Getúlio e JK.
Ademais, mão importaria quem patrocinou se não houvessem fundadas suspeitas de tráfico de influência, entre outros ilícitos cometidos...
Pego! E pega você também! rs
ResponderExcluirApenas deixando um comentário bem ligeirinho...
ResponderExcluirO duro é que vamos ter de engolir!!... Afinal a trajetória de sucesso do homem é inegável!!! Vir de onde veio, como veio, e até onde chegou, é incontestável, certo?? Como já disseram muito bem dito aí acima, o homem venceu e ascendeu na vida, tornando-se um mito vivo... Se está fazendo "por onde" aí já são outros quinhentos, mas fique certo, RM, que no exterior ele é visto como um herói mesmo e a coisa é séria!! O Homem está sendo cultuado no mundo todo... ( apesar da imprensa americana o ter desmerecido, um pouco, face a "inestimável" visita do "doido fanático" e "desmemoriado por conveniência" aí de cima!!)
A roupa suja está sendo lavada em casa, pois lá fora a imagem do moço "faz bonito"... Esta é a dura realidade, doa a quem doer!!
Helô
Ei Helô,
ResponderExcluirsabemos que a imagem internacional do presidente é muito boa, embora a política externa seja um desastre. Mas uma hora os gringos vão entender melhor.
Como dizia o velho Churchill, não dá pra enganar a todos, todo o tempo...