DD É POP

Ao longo dos seus aproximadamente 6 meses de existência, esse chalezinho nas montanhas recebeu várias sugestões (ou mesmo pedidos) de postagens e temas, os quais procurou atender dentro das suas limitações, que não são poucas. A mais recente vem de uma leitora, que prefere não se identificar, solicitando que eu aborde a personagem Daniel Dantas, sob a justificativa de que esse cidadão será objeto de uma prova em uma escola, suponho, de nível secundário.

Bem, conheço muito pouco a respeito dessa personalidade (o que torna quase irresistível minha vontade de escrever sobre o assunto... rss) mas, a bem da verdade, ela já havia sido objeto de uma postagem anterior (leiam aqui). Naquela ocasião externei minha opinião e debati com alguns leitores sobre o que representavam, politica e filosoficamente, os desdobramentos da chamada "Operação Satiagraha".

Não me foi informada exatamente a motivação para o tema, em caráter escolar; mas, suponho, deva relacionar-se com a imagem pública de Dantas após o rumoroso caso da referida "Operação". Imagino que queira-se debater sobre o caráter do banqueiro, se é culpado ou inocente, bandido ou mocinho...

Como avisado sei muito pouco sobre a pessoa física (e menos ainda sobre a "jurídica") Daniel Valente Dantas. Só tive conhecimento de sua existência quando alguns dos mais respeitados economistas brasileiros, especificamente André Lara-Rezende e Pérsio Arida, tiveram seus nomes associados ao do banqueiro em meados dos anos 90. Uma rápida consulta na web resulta em cerca de meio milhão de referências, apenas para a pesquisa "daniel dantas biografia". Dela sugiro a leitura de uma "biografia não-autorizada" no wikipédia (aqui) e de uma matéria da revista VEJA (aqui), ambas devendo ser lidas com os cuidados relativos à duvidosa isenção de seus conteúdos.

Filho de influentes famílias baianas, tanto no campo econômico quanto no político, nosso personagem teve destacada formação acadêmica. Doutorou-se em Economia pela FGV (Fundação Getúlio Vargas), sendo considerado um dos mais brilhantes discípulos do professor e ex-ministro Mário Henrique Simonsen e obteve titulação de pós-doutorado no prestigiado MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), sob os auspícios de um ganhador de Nobel de Economia, o professor Franco Modigliani. A propósito, mesma universidade americana na qual também se formaram Arida e Lara-Rezende.

No entanto nunca se dedicou propriamente à vida acadêmica tendo, outrossim, notável atuação no mercado financeiro, especialmente através dos bancos que fundou: o Icatu e o Opportunity. A fundação deste último coincide com a formatação e o início das privatizações da telefonia no Brasil, processo no qual teve participação ativa. Vem daí o primeiro grande escândalo envolvendo o seu nome, num episódio de espionagem que arrastou importantes figuras do primeiro governo FHC, como os ministros e presidentes do BNDES e Banco Central, Luis Carlos Mendonça de Barros, Pio Borges, André Lara-Rezende e Pérsio Arida. E o próprio presidente da República, acusado de interferir pessoalmente no processo de privatização das teles. Antes disso, na passagem do governo Sarney para o governo Collor, alega-se que tendo sido convidado (e recusado) a ocupar a pasta da Fazenda, teria se beneficiado de informações sigilosas, especificamente sobre as medidas de confisco de ativos financeiros (aqui e aqui, para um resumo das supostas irregularidades cometidas pelo banqueiro).

O grande escândalo seguinte, sempre tangenciado por sua relação com fundos de pensão estatais, refere-se à sua participação no esquema conhecido como "Mensalão", atualmente em processo tramitando no STF (Supremo Tribunal Federal). Sobre esse episódio recomendo as matérias disponíveis nesses dois links (aqui e aqui). Mas não deixo de notar, com certa ironia, que dependendo do escândalo, fontes ligadas aos governos anterior e atual, respectivamente prefiram subestimar ou mesmo se omitir.

O terceiro e último caso relaciona-se à referida "Satiagraha". Não sei exatamente do que ele é acusado, além da tentativa de suborno a um delegado federal. Nesses dois últimos casos "segredos de justiça" impedem que se forme juízo minimamente fundado sobre as acusações. No primeiro caso não tenho notícia de que resultou sequer em abertura de inquérito, a exemplo das outras dezenas de acusações que lhe são impostas.

Vamos ao que interessa: é bandido? Bem, a regra do jogo, ao menos nos países civilizados, é a de que só é "bandido" quem julgado e condenado, em última instância, é considerado culpado por conduta ou crime cometido. E mais, o ônus da prova, a mais elementar das práticas jurídicas, cabe a quem acusa. Isto parece ainda não ter ocorrido no caso do banqueiro. Então é "mocinho"? Bem, todos tem direito a acreditar em alguma coisa, fadas, duendes, Papai Noel...

Perguntinhas que não querem calar: por que o juiz do caso Satiagraha, o esquisitão De Sanctis, insiste em manter o processo sob "sigilo de justiça"? E, bem pior: por que o ministro do STF, Joaquim Barbosa, primeiro e ilustre afrodescendente daquela corte, ainda não deu continuidade ao processo do "Mensalão", cuja denúncia, por ele feita há quase 3 anos, foi aceita por aquele tribunal? Será que teremos um novo "engavetador-geral"?
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