Apesar de ser bastante crítico do chamado "mundo virtual" ainda me surpreendem as experiências internáutica e blogosférica, no sentido de aproximar pessoas que, de outro modo, dificilmente se conheceriam...
Eu, por exemplo, sou mineiro (de BH), economista e nunca fui à Europa. Apesar de gostar muito de música, não me considero um expert na matéria - e menos ainda em relação à poesia, que também admiro. Em meados do ano passado resolvi escrever uma série de postagens abordando o assunto, já até um pouco batido, da excepcional qualidade das letras da canção popular brasileira (AQUI para ver as 8 postagens). Sobretudo me interessava tratar de letristas extraordinários que por razões absolutamente fortuitas acabaram não tendo grande reconhecimento de suas obras. Assim acabei chegando ao grande poeta Cacaso e ao site da cantora Rosa Emília (link AQUI) de onde, inclusive, copiei várias das canções postadas.
Esta é baiana, cantora e mora na Europa. Além da beleza morena tem ainda o atributo de ter sido casada com o poeta e de dedicar a profissão à memória de sua obra. Bem, antes de escrever a postagem sobre o poeta não conhecia a cantora, que hoje deu-me o prazer de uma visita a esse bloguinho e de se inscrever como sua seguidora. Pura simpatia...
Todavia, a presente série trata de "vozes femininas" (o label é "a dona da voz": AQUI). E, independente de outras considerações, Rosa Emília tem uma voz notável: extensa, quente e, ao mesmo tempo, suave. Abaixo, num dos grandes clássicos da dupla Sueli Costa/Cacaso:
1º- Porque era dona de uma técnica vocal impecável Apesar de não ter formação de canto lírico e, portanto, não impostar a voz; impressiona o domínio que tinha da respiração; a capacidade, intuitiva, de dividir os compassos sem atravessar o ritmo; e, uma afinação perfeita, do princípio ao fim das frases musicais, sem nunca semitonar. Reparem nesses aspectos, por exemplo, em As Aparências Enganam (Tunai / Sérgio Natureza); Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (João Bosco / Aldir Blanc); Madalena (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro de Souza) e É Com Esse que Eu Vou (Pedro Caetano).
2º- Porque suas interpretações transbordavam emoções e sentimentos Por incrível que pareça, chegou a ser criticada por ter "apenas técnica". Convenhamos, precisa ser muito burro ou muito surdo... Talvez esse seja o aspecto que melhor a caracterize como intérprete, às vezes até com certo exagero dramático. Atentem ao escutar Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil); Me Deixas Louca (Armando Manzanero / Versão: Paulo Coelho) e Aos Nossos Filhos (Ivan Lins / Vitor Martins).
3º- Porque lançou grandes compositores, muitos inéditos Nada contra as novas gerações de cantoras-compositoras, mas cada vez menos grava-se novos autores. Foram os casos de João Bosco, Dori Caymmi, Milton Nascimento, Edu lobo, Ivan Lins e até alguns que talvez não fossem muito conhecidos se não lançados pela cantora, como Renato Teixeira, Tunai (irmão de João Bosco) e Belchior: Arrastão (Edu Lobo / Vinicius de Moraes); Upa Neguinho (Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri); Me deixa em paz (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza); Como Nossos Pais e Velha roupa colorida (Belchior); O Cantador (Dori Caymmi / Nelson Motta); Romaria (Renato Teixeira) e Maria Maria (Milton Nascimento / Fernando Brant).
4º- Porque formou um repertório com o que de melhor tinha a mpb Dos clássicos do choro ao rock brasileiro, passando pela bossa nova e pelo samba, inclusive aquele feito em São Paulo. Sempre com um toque pessoal e arranjos excepcionais: Chovendo na Roseira (Tom Jobim); Nega de Cabelo Duro (Rubens Soares / David Nasser); Aquarela do Brasil (Ary Barroso); Carinhoso (Pixinguinha / Braguinha); Fascinação (F.D.Marchetti / M.de Feraudy / Versão Armando Louzada) e Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa / Oswaldo Moles).
5º- Porque transformou algumas canções em clássicos São muitas, cito da lista as que faltam: Casa no Campo (Zé Rodrix / Tavito); Me deixa em Paz (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro de Souza); O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco / Aldir Blanc); Aprendendo a Jogar (Guilherme Arantes); Só tinha de ser com Você (Tom Jobim /Aloysio de Oliveira) e Redescobrir (Gonzaguinha).
Incluí uma versão de Chega de Saudade (Tom Jobim / Vinícius de Morais), em dueto com Nara Leão, na qual o timbre metálico da cantora ameniza-se e prova, mais uma vez, que ela fazia o que queria com as cordas vocais...
ATUALIZAÇÃO (11/04/09 às 13:45 hs.)
Para aqueles que desejarem mais informações, encontrei dois bons sites com biografias e dados da carreira da cantora (aqui e aqui). Também dois blogs (aqui e aqui). Por fim, uma pesquisa nos blogs indica que a cantora é um dos temas mais postados na blogosfera (aqui).
Por sugestão dos meus amigos Cora e Marcos Rocha incluo vídeos de Atrás da Porta (Francis Hime / Chico Buarque) e a minha predileta, Na Batucada da Vida (Ary Barroso / Luiz Peixoto). Na barra lateral...
A maior cantora brasileira de todos os tempos, na modesta opinião desse modesto blogueiro. Acredito, a exemplo de Nelson Mota, que a cada nova cantora que aparece, ela canta melhor... Aqui, a cappella, interpretando uma das mais inspiradas composições de Gil. A motivar-me: o cessar-fogo em Gaza.
Tá legal, manjadésima esta, mas inevitável: clássico de um clássico (de George Gershwin), numa interpretação tocante - em mais de um sentido - e uma voz inacreditavelmente rouca... e bela de Janis Joplin.
Querem comparar? Ouçam aqui a eterna Billie Holiday e aqui a insuperável Ella Fitzgerald, acompanhada por ninguém menos que Louis Armstrong.
Das muitas disponíveis, escolhi esta versão, de show ao vivo, em Estocolmo, 1969. [Mas acho que vale a pena também ouvir esta aqui, dos ensaios da gravação original].
ATUALIZAÇÃO (24/11/08 às 19:00 hs.) BY CORA
Uau... Janis Joplin, a moça incendiária de voz marcante?...a personificação de "sexo, drogas e rock and roll"? a-do-ro!!! adoro essas transgressoras desajustadas que ousaram desafiar: Bessie Smith, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone... clássicas "manjadas" e amadas que dispensam qualquer comentário.
É bem verdade que a época dos “anos dourados” não se compara a essa pasmaceira dos dias de hoje, mas apesar dessa constatação, dentre as seguidoras das divas de todos os tempos, atualmente, em matéria de "female voice", tenho ouvido e gosto bastante da Tori Amos, Sarah Mclachlan , Norah Jones, Loreena Mckennitt, Katie Melua, Alanis Morrissette, Jill Socott, Índia Arie, Holly Cole... en fin =)
PS: sessão notalgia - e como uma coisa leva a outras que eu já tinha esquecido, mas que ficam irremediavelmente associadas a determinadas músicas, ouvindo "summertime" lembrei dos tempos em que eu "me achava" em plena adolescência (sim, ouvia boa música) e que ainda tenho dois dos LPs (sim, "LP") póstumos da Janis "hippie", inclusive Pearl, e na capa desse disco, depois dos agradecimentos especiais, está escrito: "e a todas as boas pessoas que nos fizeram sorrir" =) gracías, RM
. Ao contrário do que pensam algumas pessoas, sou um cara muito mal informado ou, no mínimo, um bocado desatualizado. Os últimos filmes que assisti, no cinema, e que me disseram alguma coisa, foram produzidos em meados dos 80, a baianinha Celine nem tinha nascido. Música? Pra trás um pouco, as gatíssimas K e Ju ainda não tinham dado o ar da graça. Literatura? Bom, aí só o decanão MR mesmo... (rsss)
Pois nunca tinha ouvido falar na famosa, objeto do post, até cerca de um ano atrás. Ocasião em que, preparando-me para uma siesta, liguei a TV para o sono chegar mais rápido. No canal passava um clipe de uma cantora, meio brega, mas muito bonita e com uma senhora voz. Ok, virei para o canto... Mas depois de algum tempo, eis que a moça começa a cantar a manjadésima ária "Nessun Dorma", de Puccini; aquela mesmo, que quase virou exclusividade de Pavarotti.
Bem, o que aconteceu depois é que não dormi aquela tarde; não consigo dormir totalmente arrepiado... Descobri que Sarah Brightman é uma pop star, figura carimbada da Broadway e dona de uma voz maravilhosa (e, no meu caso, arrepiante).
O clipe do arrepio infelizmente não está disponível para incorporar ao blog, mas pode ser assistido aqui. Entre vários outros escolhi o de uma apresentação em Shangai, sem superprodução, para destacar a voz da dona: "... la luce splenderà!"
. Mais um da série de lindas vozes femininas. Também dos suspeitos anos 70...
Dessa feita a dona da voz chama-se Annie Haslame integrou, como lead vocal, o famoso grupo inglês de rock progressivo, o Renaissance. Considerada a musa do progressivo, sua voz de soprano alcança cinco oitavas, semelhante a Maria Callas.
As canções do Renaissance flertavam com a chamada "música erudita" (Debussy, Rachmaminoff, Prokofiev, entre outros) e muitas das letras foram escritas pela poetisa inglesa Betty Tatcher. A que mais gosto é a que segue, em vídeo de 1977,"Carpet of the Sun".
(Se alguém quiser conferir a voz e o resto da loiraça, vinte anos depois, clique aqui)
Karen Anne Carpenter (1950-1983) era o nome da dona de uma das mais lindas vozes femininas que já ouvi. De suave e doce timbre, mais para contralto, mas com longa extensão até as notas mais agudas. Inconfundível e díficil de ser imitada.
Foi pop star nos anos 70 e 80, integrando a famosa dupla The Carpenters com o irmão e morreu precocemente, vitimada pela anorexia nervosa. Sua morte talvez tenha sido razão para que se pesquisasse mais sobre essa doença, tipicamente feminina e de causas ainda controversas. As explicações recaem, em geral, sobre as pressões culturais impostas pelo padrão feminino de beleza, sobre fatores psicológicos ligados à baixa auto-estima e, mais recentemente, sobre fatores genéticos.
Podia ter escolhido trocentas músicas. Escolhi "Calling Occupants of Interplanetary Craft" porque: a) gosto da música; b) a música ficou meio perdida ali nos anos 70; c) achei um clipe fantástico, que mescla o original com cenas de filmes de ficcção científica famosos.
Ainda sobre o clipe, em seu final há explicações sobre o nome da música. Ah, escolhi a versão legendada em favor dos leitores que eventualmente tenham alguma dificuldade com o idioma dos piratas, por exemplo, a Amèlie, a Beth, a Patty, o Mr Almost... (rsss)
Acho que tenho alma de músico. Algumas canções me marcaram profundamente, mesmo sem nenhuma aparente razão objetiva. Sequer musical.
É o caso de "Cantiga por Luciana" (Edmundo Souto / Paulinho Tapajós), linda composição lançada no (e ganhadora do) Festival Internacional da Canção, em 1969; quando eu tinha pouco mais de 6 anos. Não me lembro da primeira vez em que a escutei, mas recordo-me bem de um episódio que ilustra meu fascínio pela música: ainda muito criança, no único parque de diversões de BH (que ficava à beira da Lagoa da Pampulha), interrompi todas as brincadeiras apenas para escutar a música que tocava no sistema de alto-falantes do Parque Mangueiras...
Enchia-me - e ainda hoje o faz - de uma tristeza inexplicável. Não sei se pela melodiosa valsa em tom menor; não sei se pela linda voz de Evinha; não sei se pelo bonito arranjo em que sobressaiam os clarinetes; não sei se pela bela letra... Ousarei chamar aqui de tristeza pela beleza.
Nesse vídeo de 2007, quase quarenta anos depois do festival, a cantora mostra que sua voz - e ela mesma - continuam lindas. (De quebra vai antes, no mesmo vídeo, outra famosa "música de festival", "Andança", dos mesmos autores e ainda Danilo Caymmi)
Quem quiser conferir a versão original clique aqui ou aqui.
Postinho dedicado às minhas amigas, mais que virtuais, Luciana G e Luletras (Luciana Carvalho).