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domingo, 21 de junho de 2009

MÚSICA E POESIA (4)

"As frases e as manhãs são espontâneas"



O mais carioca dos letristas de sua geração, Aldir Blanc compôs a maior parte de sua obra (cerca de 300 letras) com a harmonia e as sonoridades mineiras de João Bosco, numa parceria que durou décadas. Mas compôs também com Maurício Tapajós, Moacyr Luz, Guinga, Ivan Lins, Cristóvão Bastos e Paulinho da Viola, entre outros. Na melhor tradição inaugurada por Noel, contou um pouco do dia a dia carioca (brasileiro) dos últimos 40 anos, em letras recheadas de denúncia, mas também de bom humor (aqui para uma rápida biografia e aqui para uma seleção de letras).

Com marcado engajamento político, a exemplo da maioria dos letristas seus contemporâneos, são dele os versos que viraram uma espécie de hino da anistia política, em O Bêbado e a Equilibrista. Rompeu com o governo Lula após o escândalo do Mensalão e com o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, a quem acusou de não representar a classe.

Literato completo, publicou como cronista no Pasquim, Playboy, Tribuna da Imprensa, Última Hora, O Estado de São Paulo, O Dia, Bundas e Jornal do Brasil. Crônicas, contos e poesias foram publicados sob os títulos: Um Cometa Cravado em sua Coxas, O Calcanhar da Memória, Brasil Passado a Sujo e Rua dos Artistas e Transversais, entre outros.

Selecionei algumas letras, por temática: De Frente pro Crime e Escadas da Penha (ambas em parceria com João Bosco) retratam a violência crônica do Rio, que só se agravou desde quando as músicas foram compostas:

Nas escadas da Penha/Penou no cotoco de vela/Velou a doideira da chama/Chamou o seu anjo-de-guarda/Guardou o remorso num canto/Cantou a mentira da nega/Negou o ciúme que mata/Matou o amigo de ala

Tá lá o corpo/Estendido no chão/Em vez de rosto uma foto/De um golEm vez de reza/Uma praga de alguém/E um silêncio/Servindo de amém...

Uma sessão de bangue-bangue? Bala com Bala (parceria com João Bosco)

A sala cala e o jornal prepara quem está na sala/Com pipoca e com bala e o urubu sai voando/O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre/Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando./Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura)/Minha velha fuga em todo impasse;/Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura)/Quanto me custa dar a outra face.

Ou, contando a história da Revolta da Chibata (1910), retratando seu líder, o marinheiro negro e gaúcho, João Cândido, em Mestre Sala dos Mares (em parceria com João Bosco):

Há muito tempo nas águas/Da guanabara/O dragão no mar reapareceu/Na figura de um bravo/Feiticeiro/A quem a história/Não esqueceu/Conhecido como/Navegante negro/Tinha a dignidade de um/Mestre-sala/E ao acenar pelo mar/Na alegria das regatas/Foi saudado no porto/Pelas mocinhas francesas/Jovens polacas e por/Batalhões de mulatas/Rubras cascatas jorravam/Das costas/Dos santos entre cantos/E chibatas/Inundando o coração,/Do pessoal do porão/Que a exemplo do feiticeiro/Gritava então/Glória aos piratas, às/Mulatas, às sereias/Glória à farofa, à cachaça,/Às baleias/Glórias a todas as lutas/Inglórias/Que através da/Nossa história/Não esquecemos jamais/Salve o navegante negro/Que tem por monumento/As pedras pisadas do cais

Fecho com esta versão modernista de Dom Quixote: O Cavaleiro e Os Moinhos (com João Bosco).

Acreditar/Há existência dourada do sol/mesmo que em plena boca/nos bata o açoite contínuo da noite./Arrebentar/a corrente que envolve o amanhã,/despertar as espadas,/varrer as esfinges das encruzilhadas./Todo esse tempo/foi igual a dormir num navio:/sem fazer movimento,/mas tecendo o fio da água e do vento./Eu, baderneiro,/me tornei cavaleiro,/malandramente,/pelos caminhos./Meu companheiro/
tá armado até os dentes:/já não há mais moinhos/como os de antigamente.



Da lista: com Leila Pinheiro, Catavento e Girassol (parceria com Guinga). Com Maria Alcina, Kid Cavaquinho (parceria com João Bosco). Com Nana Caymmi, Resposta ao Tempo (parceria com Cristovao Bastos). Com o Quarteto em Cy, Querelas do Brasil (parceria com Mauricio Tapajos). Com Elis, Transversal do Tempo (parceria com João Bosco). Com o MPB4, Amigo É Pra Essas Coisas (parceria com Sílvio da Silva Júnior). Com João Bosco, Amigos Novos e Antigos, Incompatibilidade de Gênios, Siri Recheado e o Cacete, O Bêbado e a Equilibrista, O Rancho da Goiabada, Dois pra la Dois pra cá (todas em parceria com João Bosco). E na voz do próprio Aldir, Pra que pedir Perdão (parceria com Moacyr Luz) e Lua sobre Sangue (música e letra do autor).