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sábado, 12 de fevereiro de 2011

ÍNTEGROS

Discordo de quase tudo! Novidade... Sério: primeiro discordo do título, "Resíduos"! Nada ali é residual. Ela os chama de "fragmentos de contos, poesias, devaneios, filosofias baratas, surtos esquizóides e afins..." Mas, ao contrário, são escritos completos, íntegros, (auto)suficientes... Talvez ela não saiba, mas parecem ter sido escritos sob medida para as novas mídias, que economizam caracteres...

Gostei especialmente dos poemas e em particular deste que reproduzo:

Lácteos Lascivos


Seminal, teu pus
fecunda meu umbigo
e borbulham lácteos
os lascivos progênitos
da vida e da morte


Olhos, mãos, bocas,
quadris, coxas, cabelos,
braços, troncos, línguas,
homens, homens, homens.


Vozes...
a poesia dos homens é diferente.


Depois discordo do formato de e-book. Ou melhor, não discordo mas penso que nada impede ou exclui a possibilidade do livro em papel e mesmo do livro eletrônico não-gratuito, já que esta é uma tendência que parece ter vindo para ficar. Como sempre depende apenas de se adequar o "produto" à "mídia". Finalmente discordo da autora quando diz que os tais fragmentos foram por ela "selecionados e compactados" em boa medida "do livro de contos "A Última Estação", copyright© 2004." Desculpem mais uma vez, não discordo da autora, mas de ela não ter ao menos colocado um link para os interessados no citado livro.


Este último problema resolvo facilmente: cliquem aqui (para o novo livro, em formato eletrônico, cliquem aqui). De quem falo? De Simone. Não, não é a de Beauvoir, embora ela também tenha (e ofereça) uma bela vista e olhos e visão... Simone Maia é uma querida amiga que ainda não conheci pessoalmente (por isso invejo muito o Celso "Japa" Chorik, cujo blog pode ser conhecido aqui) e que apresentei aos caros amigos desse chalezinho nas montanhas uns dois anos atrás (aqui); é uma talentosa escritora e - disso não se pode discordar - uma linda mulher (confiram a última página do e-book):

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

SM

Não. Não são as iniciais de "sado-mazô", nem de Sua Majestade (ou sua mãe...). Mas de Simone Maia, a quem conheci na blogosfera e que responde por parte da culpa de eu ter aqui permanecido.

Explico: há pouco mais de um ano, só frequentava esse mundo paralelo para, exclusivamente, sacanear meu amigo MR, criando personagens e comentando anônimamente no seu blog. Numa dessas apareceu a Simone e, na mesma balada, a Luciana G. O clima cordial, bem-humorado e inteligente nos aproximou e chegamos a cogitar de criarmos um blog coletivo, projeto eternamente adiado por falta de tempo dos partícipes.

A Simone mantinha um blog muito interessante, no qual recortava notícias e temas, fazendo um trabalho digno dos chamados "pauteiros" de redações jornalísticas. O blog foi, infelizmente, desativado, mas o que pouca gente sabia é que a ex-blogueira também escreve muito bem, embora nunca tivesse publicado seus textos no próprio blog.

Dando continuidade à série "Mulheres que Escrevem" (leiam o primeiro aqui), tenho o prazer de apresentar Simone Maia, a nossa SM. Paulista de Santo André, 36 anos, formada em Artes, Simone tem seus contos e poemas publicados em livros, coletâneas, jornais e na web. Gosto muito de um conto que narra a história de uma moça com grandes e impressionistas olhos, mas ao ler este que segue, julguei que fosse de uma latente atualidade e mais apropriado para este espaço.


DO YOU UNDERSTAND O QUE EU DIGO?

Conheci um gringo que gostava de tudo pela metade: se tomasse café, era descafeinado; se tomasse cerveja, era sem álcool; se comesse chocolate, era sem açúcar; se iniciasse uma conversa, não concluía; se comesse peixe, era cru...


Ele, músico. Eu, admiradora de seu trabalho. Fã não, porque fã é coisa de obcecado.

De uma carta mal escrita num Inglês emporcalhado, surgiu o interesse dele por mim. Costumava dizer que me adorava porque o fazia rir, mas a verdade é que nunca pretendi fazê-lo. O que eu tentava dizer era sério, muito sério... mas ele achava graça. “Barreira de linguagem” – ele justificava.

Depois de dois anos conversando muito mal, por telefone e carta, ele simplesmente decidiu: “I’ll see you”. Viria pro Brasil. Ignorou totalmente minhas recomendações: “NO! It’s very dangerous! Here are um monte de bandits!” Ele ria. “You’ll be seqüestrado and, and...” Minha reluta só serviu para convencê-lo ainda mais: “I love you! You’re so funny... lovely! I’ll see you soon!”. Entrei em pânico.

Comecei a assistir a todos aqueles seriados americanos e britânicos que bombardeiam a programação das emissoras a cabo. De Friends a “ER”, assisti de tudo, tomando nota dos diálogos. Li Snowman’s Squeaky Song, um livro para crianças de 5 a 8 anos de idade. Crianças americanas, naturalmente. Ou britânicas. Provavelmente havia sido escrito por uma delas. Era bonitinho: trazia na capa um bonequinho de neve que emitia um som agudo – feito aqueles que saem dos patinhos de borracha – se você o apertasse. Assisti a filmes legendados. Enchi dois cadernos universitários com diálogos estúpidos, retirados das ditas fontes. Eu não estava certa quanto à utilidade deles, pois achava que seria esquisito falar sobre homens de neve ou intervenções cirúrgicas no meio de uma conversa. Definitivamente, não pegaria bem. Sem contar que grande parte dos diálogos era traduzida de forma misteriosa, portanto eu não deveria me espantar se acaso soltasse um “Holy shit!” pensando estar dizendo algo como “Santo Deus!” e o surpreendesse me encarando, perplexo.

Nos encontramos no aeroporto. “Pense antes de dizer qualquer coisa” – eu pensava, antes de pensar em dizer qualquer coisa. “How are you?” – ele quis saber. Essa era fácil. Me lembrei das aulas de Inglês na escola: “I’m fine, and you?” – rebati. “I’m too, thanks, I’m fine!” Silêncio. O que vinha depois?

Enquanto ele tagarelava feito os enfermeiros do Plantão Médico em meio a uma emergência, eu tentava relaxar. Para isso, cantarolava aquela velha canção: “One, little two, little three, little indians...” que passou a ser minha tática para situações emergenciais. Ele ria. Não entendia minha aflição.

No segundo dia juntos, ele quis um beijo. Eu dei, pois estava apaixonada. Pensava: “Esse é o homem ideal... nunca vai entender o que digo e portanto nunca irá se aborrecer ou se entediar”. Ele era agradável, mas extremamente frio. “The snowman”, eu pensava.

No terceiro dia: “I wanna fuck you all night”. Caramba! Os americanos são mesmo muito práticos! “What?” – dei uma de desentendida. “I want you”. “Ah!”. Derrubei o café. “Are you ok?” – ele riu. “No”. Sou sincera. A noite veio. Ele queria. Eu também, mas tinha medo. “Are you fine?” “No. I’m confusa”. “What?” “Deixa pra lá!”.

All night long... Quer dizer, até o meio da noite, porque ele gostava de tudo pela metade. Isso eu já disse. Se tirasse a roupa, era só da cintura pra cima ou pra baixo, dependendo da intenção. Se estivéssemos no quarto, era à meia-luz. Se me servisse champanhe, era meia taça. Se desse um sorriso, era com um dos cantos da boca. Meias-palavras. “Barreira de linguagem” – ele justificava.

No último dia, arranjei um lugar para ele tocar. Uma banda o seguiria, mas só meia banda, porque o vocalista tinha viajado e o guitarrista estava de cama. Eles tocaram alguns clássicos do blues: partes de músicas emendadas umas às outras, feito medley. A casa estava cheia. Metade jovens, metade meia-idade. No meio do set, ele passou a alça da guitarra pela cabeça, colocou-a num canto do palco, virou-se para a platéia e disse: “Thank you. Good night”. Deixou o show pela metade.


Outros escritos da Simone podem ser lidos aqui, aqui ou aqui. Gentilmente a moça autorizou divulgar este e-mail para os que desejarem contatá-la.

[Infelizmente tivemos que escolher entre o e-mail e uma foto da moça: sendo uma mulher belíssima, correríamos o sério risco de superlotar sua caixa postal...]