OU PEDE COM JEITINHO QUE VAI (em tradução bem livre... rs)
Olhem que graça o pedidinho da Dra. Corinha:
"Que tal um post musical? ♫♪hein hein? ♪♫ Faz um dia tão lindo...quero entrar em sintonia com o moço da alma de músico. Ando com saudade dele, sabe?..."
Bem, aqui nas montanhas chove ininterruptamente faz dias, mas quem resiste a um pedido assim tão... gracioso? Como sempre, na série "baú 70", duas músicas (no mínimo) de cada grupo:
Com os The Doobie Brothers: Listen to the Music ((Johnston)), 1972; Long Train Runnin (Johnston), 1973 e What A Fool Believes (Michael Mcdonald/Kenny Loggins), 1978.
Com o Ten Years After: Love Like a Man (Alvin Lee), 1970 e I'd Love to Change the World (Alvin Lee), 1971.
Com o Kansas: Carry On My Wayward Son (Kerry Livgren), 1976 e Dust in the Wind (Kerry Livgren), 1977.
Com o Fleetwood Mac: Dreams (Stevie Nicks), 1977 e Go Your Own Way (Buckingham), 1977.
Com Alice Cooper: I Never Cry (Alice Cooper/Dick Wagner), 1976 e You and Me (Alice Cooper), 1977.
Bem, interpretem o título como quiserem... Mas entre as muitas versões de beatles songs in portuguese há coisas terríveis como "Quero Afagar Tuas Mãos" e "Lá Vem O Sol" e pequenas jóias como "Demais" e "Quando Te Vi". Não creio que tal ocorra em função da literalidade ou do excesso de imaginação das traduções, mas por causa da métrica e, claro, do talento de cada "tradutor". No fim das contas o que conta mesmo é a música (como diria Chico Buarque de Holanda). Enjoy it:
Com Renato e seus Blue Caps: Ana e Menina Linda, versões de Renato Barros para "Anna" (Lennon/McCartney) e "I Should Have Know Better" (Lennon/McCartney) respectivamente; Feche os Olhos, versão de Carlos Imperial e Eduardo Araújo para "All My Loving" e Meu Primeiro Amor, versão de Lilian Knapp para "You're Going To Lose That Girl" (Lennon/McCartney).
Com Rita Lee, em versos inspiradíssimos: Tudo Por Amor; Aqui, Ali, em Qualquer Lugar e Minha Vida, versões de Rita Lee para "Can't Buy Me Love"(Lennon/McCartney), "Here, There and Everywere" (Lennon/McCartney) e "In My Life" (Lennon/McCartney), respectivamente.
Com os Golden Boys: Michele (Lennon/McCartney/Rossini Pinto) e Quero Afagar Tuas Mãos, considerada a primeira versão em português de uma canção dos Beatles, no caso "I Want To Hold Your Hand", assinada por uma tal de Dominique.
Com Tunai, Meu Amor, versão dele mesmo para "My Love" (McCartney). Com Roberto Carlos, Eu Te Amo, versão do "Rei" para "And I Love Her" (Lennon/McCartney) que, infelizmente, virou um bolerão... Com Raul Seixas, Você Ainda Pode Sonhar, versão do Raulzito para "Lucy In The Sky With Diamonds" (Lennon/McCartney). Com Ronnie Von, Meu Bem, uma versão psicodélica, dele mesmo (e muito boa) de "Girl" (Lennon/McCartney). Com Beto Guedes, Quando Te Vi, uma extraordinária versão de Ronaldo Bastos para "Till There Was You" (Meredith Willson). Com Zizi Possi, O Amor Vem Pra Cada Um, versão de Beto Fae para "Love Comes to Everyone" (Harrison). Com Verônica Sabino, Demais, delicada versão de Zé Rodrix e Miguel Paiva para "Yes, It Is" (Lennon/McCartney). Com Lulu Santos, Lá Vem O Sol, versão insossa e do próprio para "Here Comes The Sun" (Harrison). Com Fagner, O! Meu Amor, versão do próprio Fagner e de Frederico para o clássico "Oh! My Love (Lennon/Ono), que vale pelo sotaque cearense...
Não no protesto... Seguem 6 artistas que se notabilizaram pelas chamadas "canções de protesto" nos anos 60/70. A temática variou dos chamados "direitos civis" à Guerra do Vietnã e transformou-se mesmo numa espécie de "gênero", com mercado segmentado... E subsiste ainda hoje, atualizado o ideário com causas relacionadas a minorias e ecologia.
Mas o critério de escolha, como soi acontece nesse bloguinho responde, única e exclusivamente, ao meu (modesto) gosto musical. Como de praxe, duas de cada:
Com Bob Dylan, Like a Rolling Stone (Bob Dylan), 1965 e Hurricane (Bob Dylan/Jacques Levy), 1976. A primeira é considerada uma das mais influentes canções de todos os tempos; a segunda uma fantástica crônica de um boxeador negro, preso em 1966, acusado de assassinato.
Joan Baez, uma espécie de "musa do protesto" gravou praticamente tudo o que foi produzido no mundo nessa vertente. Aqui: Blowin' in the Wind (Bob Dylan), 1963 e Di-Da (Joan Baez), 1974.
A banda americana The Association ficou famosa pelo hit contra a Guerra do Vietnã, "Requiem for the Masses". Aqui escolho Cherish (Terry Kirkman), 1966 e Never My Love (Donald Addrisi/Richard Addrisi,), 1967.
Bob Marley foi outro ícone da contestação na década de 70. No Woman, No Cry (Vincent Ford), 1974 e Is This Love (Bob Marley), 1978.
Com John Lennon, Give Peace a Chance (John Lennon), 1969 e Power to the People (John Lennon), 1971.
O trio Peter, Paul e Mary também notabilizou-se pelas canções e causas políticas abraçadas. Where Have All the Flowers Gone (Pete Seeger/Joe Hickerson), 1961 e Good Morning Starshine (James Rado/Gerome Ragni), 1969. Esta última do famoso musical Hair.
Como expresso na dedicatória, esta foi uma demanda da comentarista mais esperta do que Sherlock... Suponho, como era de se esperar, tratar-se apenas de uma curiosidade intelectual... Bem, como de costume depois dou os créditos:
De volta aos temas dos indefectíveis anos 70. Como nas postagens anteriores duas canções de cada banda. Algumas muito famosas, outras completamente esquecidas...
Da escocesa Nazareth(site oficial aqui): Love Hurts (Boudleaux Bryant/Felice Bryant), 1975, regravação de um sucesso do início dos anos 60 e Where Are You Now (Dan McCafferty/Manny Charlton/Peter Agnew/Darrell Sweet ), 1983.
Da inglesa Yes(site oficial aqui): Yesterday and Today (Jon Anderson), 1969 e Owner of a Lonely Heart (Trevor Rabin/Chris Squire/Trevor Horn), 1983.
Da inglesa Genesis(site oficial aqui): I Know What I Like (Tony Banks/Phil Collins/Peter Gabriel/Steve Hackett/Mike Rutherford), 1973 e The Carpet Crawlers (Peter Gabriel/Steve Hackett/Tony Banks/Mike Rutherford/Phil Collins), 1974.
Da inglesa Supertramp(site oficial aqui): The Logical Song (Rick Davies/Roger Hodgson), 1979 e Dreamer (Rick Davies/Roger Hodgson), 1980.
Dos ingleses Emerson, Lake & Palmer(site oficial aqui): From The Beginning (Greg Lake), 1972 e C'est La Vie (Greg Lake), 1977.
Dos negões americanos The Commodores(site oficial aqui): Easy (Lionel Richie), 1977 e Nightshift (Clyde Orange/Dennis Lambert/Franne Golde), 1985.
elas são muitas, são exércitos de fêmeas e virão aos milhares, todas juntas; ocuparão os nossos reinos e nós tornar-nos-emos escravos delas. Estamos em decadência, my friend. Não há mais nada a fazer senão satisfazer os caprichos das moças. E mais: tudo o que façamos nunca será suficiente.
Vê só ao que chegamos: Temos de ser educados e selvagens, bons amantes e bons companheiros, não podemos falhar na cama e muito menos na escadaria, não podemos beber, fumar, nem sair à noite com os amigos, mas temos de gostar de putaria; temos de ser elegantes, ter o corpinho operacional, mas frequentar os melhores restaurantes; temos de ser inteligentes e cultos, mas temos de falar "vou te meter na boca, deita a língua de fora e faz cara alegre, hein?" como faziam os homens das cavernas... Enfim, estamos num enclave.
A verdade é que já não há mais gurias como as de antigamente, digo, dos anos setenta, que, qualquer que fosse o tamanho, falavam:
Exceto os versos acima, talvez até o ilustrado público desse chalezinho desconheça a obra (ou dela tenha poucas referências) de um dos principais letristas da música popular brasileira: Orestes Barbosa (1893-1966).
Filho de família pobre no Rio de Janeiro do início do século, não freqüentou escola e iniciou-se no jornalismo aos 19 anos, pelas mãos de ninguém menos que Rui Barbosa. Antes dos 30 anos já havia publicado vários livros de poesia. O talento chegou a valer-lhe indicação para uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, eleição que perdeu e a partir da qual dedicou-se às letras do jornalismo e da música (aqui para uma biografia resumida).
No centenário de seu nascimento, Sérgio Augusto publicou artigo na Folha de São Paulo, do qual extraio os seguintes excertos (aqui para o artigo na íntegra):
"Como boêmio e jornalista, sua vida também foi um palco iluminado. Sobretudo pelas luzes e pelas estrelas, as luzes naturais dos notívagos e as mais solidárias musas dos poetas.
Em seus versos, em suas letras e em suas crônicas, elas viviam brilhando num céu salpicado de metáforas. Um céu que um dia era 'um grande armarinho', noutro um 'jornal de sonho'. No primeiro o poeta comprava luar a metro; no segundo, lia 'todo o passado tristonho que não se pode escrever'.
Quase todos a sua volta o chamavam de mestre; respeito não tanto ditado por sua ascendência etária ( tinha mais 18 anos que Noel Rosa ), mas por ser o mais culto, viajado e exuberante membro da melhor confraria que Vila Isabel já abrigou. Em qualquer turma era o centro das atenções, fonte das observações mais sagazes, das tiradas mais desconcertantes, das imagens mais surpreendentes, muitas das quais se aninharam em suas canções de amor e ciúmes, de intriga e erro, de solidão e saudade. Boêmio singular, pouco bebia. 'Meu negócio é papo', dizia, com o cigarro permanentemente pendurado nos lábios.
Orestes foi o Vinícius dos anos 20 , 30 e 40. 'Um Vinícius muito mais radical', lembrando que, ao contrário do bardo da bossa nova, Orestes nunca mais voltou a poesia depois de abraçar o samba e a canção.
À música rendeu-se por inteiro, por quase toda a década de 30. Quando ela acabou, a canção romântica já era outra coisa, suspirando sem pieguice e invocando objetos nunca dantes ventilados, como tapete, telefone, rádio e anúncios luminosos. Até o sorriso e o pranto ficaram mais inteligentes depois que Orestes transformou a lágrima em "pérola nublada", a saudade em "círio aceso sem altar", a lua em "hóstia de mágoas" e "clichê dourado impresso em papel azul".
É mesmo verdade que Manoel Bandeira considerava o verso 'tu pisavas nos astros distraída' o mais bonito da língua portuguesa ( e dizia 'se ralar' de inveja de Orestes)."
Talvez o que melhor caracterize sua obra tenha sido uma resultante lufada de modernidade no samba, algo compartilhado com outras formas de expressão artística no Brasil dos anos 20 e 30. O mesmo ocorreria com a Bossa Nova - e Vinícius - em fins dos anos 50, levando a música popular e as letras das canções ao mais alto grau de apuro técnico e de estética fundamentalmente brasileira (aqui, aqui e aqui para mais informações sobre a vida e obra do poeta).
ATUALIZAÇÃO (19/10/09) às 8:45 hs.)
Cora, a simpática moça que se recusa, inexplicavelmente, a criar seu próprio blog, fez ótimo comentário a esse postinho, mostrando as ligações do poeta com outro extraordinário letrista da mpb, Noel Rosa. Reproduzo abaixo:
"Carlos Didier, músico e pesquisador carioca, biógrafo de Noel Rosa e de Orestes Barbosa informa numa entrevista que Orestes, contemporâneo,dezessete anos mais velho do que o Noel, teve o olhar agudo para detectar que o jovem Noel Rosa não era comum – “era, de fato, um ponto fora da curva” – “um mito”. Orestes escreveu a respeito de Noel:- “É um gênio”.
Compôs, em parceria com Noel Rosa:
- Araruta (1932)
Tu pedes, mandando Faça o favor A tua boca nunca diz Tu cedes, negando Com estes olhos Que pra mim são dois fuzis Sou mole, manhoso Teus impropérios Retribuo com brandura Pois água mole Na pedra dura Tanto bate até que fura Tu beijas, mentindo A tua boca Beija e mente sem sentir Desejas, sorrindo Que o teu perdão Humildemente eu vá pedir Não peço, espero Ainda a ver-te Entre lágrimas bem mal Meu bem, escuta A araruta Tem seu dia de mingau
- Positivismo (o próprio Noel gravou, setembro/1933
A verdade meu amor mora num poço É Pilatos, lá na Bíblia, quem nos diz E também faleceu por ter pescoço O infeliz autor da guilhotina de Paris Vai orgulhosa, querida Mais aceita esta lição No câmbio incerto da vida A libra sempre é o coração O amor vem por princípio, a ordem por base O progresso é que deve vir por fim Desprezastes esta lei de Augusto Comte E fostes ser feliz longe de mim Vai coração que não vibra Com teu juro exorbitante Transformar mais outra libra Em dívida flutuante A intriga nasce num café pequeno Que se toma para ver quem vai pagar Para não sentir mais o teu veneno Foi que eu já resolvi me envenenar
- Habeas-Corpus (1933)
No tribunal da minha consciência, O teu crime não tem apelação. Debalde tu alegas inocência, Não terás minha absolvição. Os autos do processo da agonia, Que me causaste em troca ao bem que te fiz, Chegaram lá daquela pretoria, No qual o coração foi o juíz. Tu tens as agravantes da surpresa E também as da premeditação, Mas na minh’alma tu não ficas presa Porque o teu caso é caso de expulsão. Tu vais ser deportada do meu peito Porque o teu crime encheu-me de pavor Talvez o habeas-corpus da saudade Consinta o teu regresso ao meu amor.
- Suspiro (1934)
Suspiro anseio secreto Revelação que o afeto Gemer que ninguém traduz Suspiro triste recado Que um coração ansiado Da desventura na cruz Suspiro vossa desgraça Vossa alegria que passa Dando lugar ao sofrer Suspiro o peito se cala Na dor que tanto apunhala E não se pode dizer Suspiro anseio secreto Revelação que o afeto Gemer que ninguém traduz Suspiro triste recado Que um coração ansiado Da desventura na cruz Suspiro que crueldade Tem que nascer da saudade Enquanto o amor quiser Eu já dei mais de mil giros E a fonte dos meus suspiros É sempre a mesma mulher
Mais aqui: http://www.brasileirinho.mus.br/menuradio.htm
:*"
É de se supor que tenha havido forte influência recíproca entre os autores, que trouxeram, entre outras coisas, a crônica da cidade do Rio de Janeiro para a música. Para ilustrar, segue gravação da parceria Positivismo, em performance do próprio Noel e de Pixinguinha (reparem na crítica velada à política de valorização do café, nos versos "Com teu juro exorbitante/Transformar mais outra libra/ Em dívida flutuante"). .
Em que se relacionam Beatles, progressive rock britânico e folk rock americano? Bem, é uma longa história; melhor escutar as musiquinhas:
Com The Byrds (site oficial aqui), que tinha David Crosby entre seus integrantes: Mr. Tambourine Man (Bob Dylan) e Turn! Turn! Turn! (Pete Seeger), ambas de 1965.
Com The Holies (site oficial aqui), que tinha Graham Nash entre seus integrantes: He Ain't Heavy, He's My Brother (Bobby Scott/Bob Russell) 1970, com Elton John ao piano e Sorry Suzanne (Geoff Stephens/Tony Macaulay), 1969.
Com The Marmalade (site informativo aqui): Reflections of my Life (Junior Campbell/Thomas McAleese), 1969 e Rainbow (Campbell/McAleese), 1971 (clipe de video).
Com Crosby, Stills, Nash & Young(sites oficiais aqui e aqui): Our House e Teach your Children, ambas de Nash e de 1970.
Com o América: Horse with no Name, 1971 e Ventura Highway, 1972, ambas de Dewey Bunnell.
Com o Yes(site oficial aqui): Soon (Jon Anderson/Steve Howe/Chris Squire/Patrick Moraz/Alan White), 1973 e a suíte And You And I (Anderson/Bruford/Howe/Squire), 1972.
Antonio Carlos Ferreira de Brito, o Cacaso (1944-1987), foi um dos principais ideólogos e expoentes da chamada "geração mimeógrafo" ou da "poesia maldita", que reuniu jovens poetas no início dos anos 70. Nascido em Uberaba (MG), terra adotada pelo meu amigo Marcos Rocha, ainda criança deixou Minas, mudando-se para o Rio; mas Minas não o deixou, como terão oportunidade de constatar ao ouvirem algumas de suas canções... (aqui e aqui para uma rápida biografia)
Sob o manto da poesia alternativa escondia-se, na verdade, intelectual de sólida formação (Direito e Filosofia), professor de literatura e crítico literário. Publicou diversos livros de poesia e colaborou nos famosos jornais alternativos MOVIMENTO e OPINIÃO. Suas obras completas estão reunidas em Lero-lero (Ed. 7 Letras: RJ, 2002).
Como letrista começou a compor ainda antes dos 20 anos, em parcerias com sambistas do porte de Élton Medeiros, Hermínio Belo de Carvalho e Maurício Tapajós. A seguir, seu leque de parcerias ampliou-se bastante, sendo mais frequentes Sueli Costa, Nelson Ângelo, Novelli e Edu Lobo; nas cerca de 200 letras registradas (aqui para uma seleção).
Há ampla bibliografia secundária sobre o autor, inclusive nos sites dedicados à literatura e poesia (por exemplo aqui, aqui e aqui), mas encontrar canções para postar não foi tarefa das mais fáceis. Só depois de descobrir o site da cantora Rosa Emília (aqui), segunda esposa do poeta, foi possível reunir um número razoável de músicas (e também depois de desenterrar caixas e caixas de CDs que nem me lembrava ter...). Creio que o que mais transparece na poesia do autor é o seu caráter "arredondado", justo e, ao mesmo tempo, claro e luminoso. Letra e música combinam muito bem e as idéias são tratadas com incomum clareza, fora o lirismo.
Escolhi os versos que seguem, para ilustrar:
Integração da Noite (1965) Meu neto prolonga meu filho: O mundo não tem conserto. Um latido ao longe me diz que é noite: O arrepio da memória. Há milênios alimentamos esta fogueira. À sombra de meu queixo A torre transfigurada e o cão: A língua nervosa lambendo o infinito.
Face a Face (Sueli Costa/Cacaso) São as trapaças da sorte, são as graças da paixão Pra se combinar comigo tem que ter opinião São as desgraças da sorte, são as traças da paixão Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração Morena quando repenso o nosso sonho fagueiro O céu estava tão denso, o inverno tão passageiro Uma certeza me nasce, e abole todo o meu zelo Quando me vi face a face fitava o meu pesadelo Estava cego o apelo, estava solto o impasse Sofrendo nosso desvelo, perdendo no desenlace No rolo feito um novelo, até o fim do degelo Até que a morte me abrace São as desgraças da sorte, são as traças da paixão Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração São as trapaças da sorte, são as graças da paixão Pra se combinar comigo tem que ter opinião Morena quando relembro aquele céu escarlate Mal começava dezembro, já ia longe o combate Uma lambada me bole, uma certeza me abate A dor querendo que eu morra, o amor querendo que eu mate Estava solta a cachorra que mete o dente e não late No meio daquela zorra, perdendo no desempate Girando feito piorra, até que a mágoa escorra Até que a raiva desate São as trapaças da sorte, são as graças da paixão Pra se combinar comigo tem que ter opinião São as desgraças da sorte, são as traças da paixão Quem quiser casar comigo tem que ter bom coração
Da lista: com Rosa Emília, Eu te Amo (Sueli Costa/Cacaso), Fazendeiro do Mar (Sergio Santos/Cacaso) e Triste Baía da Guanabara (M Tapajos/Cacaso). Com Edu Lobo, Lero-lero (E Lobo/Cacaso) e Quase Sempre (E Lobo/Cacaso). Com Milton Nascimento, Carro de Boi (M Tapajos/Cacaso) e Sem Fim (Novelli/Cacaso), lindíssima canção. Com Maria Dethânia, Amor, Amor (Sueli Costa/Cacaso). Com A Barca do Sol, Cavalo Marinho (Nando Carneiro/Cacaso). Com Djavan, Lambada de Serpente (Djavan/Cacaso). Com Tatiana Parra, Surdina (M Tapajos/Cacaso). E com Sueli Costa, Dentro de Mim Mora um Anjo (Sueli Costa/Cacaso).
"Só não lavei as mãos/E é por isso que eu me sinto/Cada vez mais limpo"
Vitor Martins forma com Ivan Lins (site oficial aqui) uma parceria de 35 anos, daquelas que ganham identidade própria, tais como pão com manteiga, Pelé e Vavá, Batman e Robin, Amèlie e Portuga (rss)... Quando começaram a compor Lins já era um compositor-cantor de sucesso e prestígio, mas a partir daí suas canções ganharam um peso poético que efetivamente não tinham. Compuseram juntos mais de 300 canções e dezenas de hits imortalizados nas vozes de grandes intérpretes.
Natural de Ituverava, no interior mais caipira de São Paulo é, não obstante, poeta de versos sofisticados, ricas rimas e métrica perfeita, ainda mais considerando-se a complexidade harmônica da obra de Lins. Nos anos 90, os parceiros se tornaram sócios na gravadora Velas (link aqui) e contribuíram para lançar novos talentos como Guinga e Chico César. Curiosamente nada mais encontrei sobre a biografia do autor na internet (para uma seleção de sua obra cliquem aqui), mas ressaltam de sua lira ao menos 3 características: a) um certo conteúdo dramático, talvez ligado às inúmeras composições feitas de encomenda para as telenovelas da TV Globo; b) uma vertente folclórica e regionalista, da qual são exemplos Bandeira do Divino e Minha Ituverava; e, c) muitas canções escritas no feminino, uma arte dominada por poucos homens.
Escolhi, para ilustrar estes aspectos, os versos que seguem:
Saindo de Mim (Ivan Lins/Vitor Martins) Você foi saindo de mim Com palavras tão leves De uma forma tão branda De quem partiu alegre Você foi saindo de mim Com sorriso impune Como se toda faca não tivesse Dois gumes Você foi saindo de mim Devagar e pra sempre De uma forma sincera Definitivamente Você foi saindo de mim Por todos os meus poros E ainda está saindo Nas vezes em que choro
Velas Içadas (Ivan Lins/Vitor Martins) Seu coração é um barco de velas içadas Longe dos mares do tempo, das loucas marés Seu coração é um barco de velas içadas Sem nevoeiros, tormentas, sequer um revés Seu coração é um barco jamais navegado Nunca mostrou-se por dentro abrindo os porões Seu coração é um barco que vive ancorado Nunca arriscou-se ao vento, às grandes paixões Nunca soltou as amarras Nunca ficou à deriva Nunca sofreu um naufrágio Nunca cruzou com piratas e aventureiros Nunca cumpriu o destino das embarcações
Da lista (sempre parcerias da dupla, exceto quando indicado): com Elis, Aos Nossos Filhos e Vinte anos Blue (Sueli Costa/ Vitor Martins). Com Nana Caymmi, Mudanca dos Ventos. Com Rosa Passos, Doce Presença. Com George Benson, Dinorah Dinorah. Com Sting, She Walks This Earth (Ivan Lins/Chico César/Vitor Martins/Brenda Russell). Com Ivan Lins e Mariana Aydar, Desesperar Jamais. Com Ivan Lins e Nana Caymmi, Bilhete. Com Ivan Lins e Djavan, Somos todos iguais nessa noite. E com Ivan Lins, A Noite, Começar de novo, Lembra de mim, Guarde nos olhos, Mãos de Afeto e Daquilo que eu sei.
Último da série que tratou da música dos integrantes da banda após a separação. Ao todo foram postadas 74 canções e ficaram de fora alguns sucessos históricos, por não constarem da base de dados ou por uma questão de gosto pessoal. No geral acho que é bastante representativa das obras-solo dos Four Fab (cliquem na tag "is over" para ver todas as postagens).
Da lista, com McCartney: Bluebird (1973); Coming Up (1980); Ebony and Ivory (1982), lindíssima canção gravada com Steve Wonder; So Bad (1983) e Hope of Deliverance (1993). Com Lennon: Whatever Gets You thru the Night (1974); Nobody Told Me (1980) e Watching The Wheels (1980), ambas só lançadas postumamente. Com Harrison: That Is All (1973), com um lindo solo de guitarra by Harrison e Teardrops (1981). Com Starr: You're Sixteen (R.B. Sherman/R.M. Sherman), 1973, com participação de McCartney e Only You (Buck Ram/Ande Rand), 1974.
Dos anos 70. Para aproveitar o restinho de fim de semana com música de primeira (ao menos eu acho), seguem hits de ótimas bandas daqueles tempos, em dose dupla:
Do trio America(site oficial aqui), que teve o "beatle" George Martin como produtor: Muskrat Love (Willis Alan Ramsey), 1973 e Tin Man (Dewey Bunnell), 1974.
Do grupo Chicago(site oficial aqui): If You Leave Me Now (Peter Cetera), 1976 e Hard to Say I'm Sorry (Peter Cetera), 1982.
Da banda Bread(aqui para um website de fãs): Baby I'm-a Want You (David Gates), 1971 e The Guitar Man (David Gates), 1972.
Do Badfinger, outra banda filhote dos Beatles (aqui para um fansite): Come And Get It (Paul McCartney), 1969 e No Matter What (Pete Ham), 1970.
Do Renaissance(aqui para um fansite): Let It Grow e Carpet of the Sun, ambas de Michael Dunford e ambas de 1973.
Do Creedence Clearwater Revival(site oficial aqui): Have You Ever Seen the Rain? e Long as I Can See The Light, ambas de John Fogerty e de 1970.
Quinto (e último?) da série que trata da música dos 4 sacanas de Liverpool depois do fim dos Beatles.
Com McCartney: Live and let die (1973); Let 'Em In, 1976; Somebody who cares, 1982; No more lonely nights, 1984, versão estendida, com guitarra solo de David Gilmour; e, Once Upon A Long Ago, 1987. Com Lennon: Instant Karma (We All Shine On), 1970; Mind Games, 1973; #9 Dream, 1974. Com Harrison: What Is Life, 1971 e Blow Away, 1979. Com Starr: Don't Be Cruel (Otis Blackwell), 1990, em regravação do clássico de Elvis de 1956.
"Porque se chamavam homens, também se chamavam sonhos e sonhos não envelhecem..."
Com Márcio Borges, somado a Ronaldo Bastos (aqui) e Fernando Brant (aqui) fecha-se o triunvirato de letristas do chamado Clube da Esquina - designação esta, inclusive, reivindicada pelo autor. Mas a famosa esquina entre as ruas Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Teresa em Belo Horizonte, é posterior ao início da parceria entre os jovens (a maioria teenagers) músicos que se encontraram na cidade, no início dos anos 60 (aqui para uma breve biografia e um resumo da obra).
Filho de um jornalista e uma professora, à família Borges, de onze irmãos acrescentou-se Bituca como "décimo segundo", ainda no tempo em que viviam em um prédio residencial no centro de Belo Horizonte. Além dele próprio também acabaram se dedicando à música Lô, Yé, Marilton, Nico, Solange e Telo.
Primeiro parceiro de Milton Nascimento, tem obra quantitativamente menor que às dos outros dois, porém, não raro, exercendo uma espécie de poder de síntese sobre o trabalho coletivo do grupo. Considerava-se "um cineasta frustrado fazendo letras de música" e aos outros dois, "verdadeiros poetas e letristas". Cinéfilo militante, algumas de suas letras são referências diretas a filmes de Truffaut e Kazan, entre outros.
Dedicou-se à crítica de cinema, à publicidade e à produção e direção musical e abandonou a atividade de letrista em meados dos anos 80. Na década seguinte lançou o livro Os sonhos não envelhecem (São Paulo: Geração Editorial, 1996), que recomendo vivamente e do qual reproduzo a divertida explicação de como surgiu a letra de Clube da Esquina 2:
"Certa noite, encontrei-me com Nana Caymmi no Diagonal, bar que freqüentávamos no Baixo Leblon. Ela estava com estúdio marcado para gravar seu LP daquele ano. — O seu porra, porque você não mete uma letra no "Clube da Esquina 2"? - foi me dizendo. (Esse era o instrumental criado por Lô e Bituca tempos atrás, no qual todos nós queríamos pôr letra, mas os dois nunca deixavam ("senão deixa de ser instrumental"). - Eu quero gravar essa merda mas sem letra não dá, né, porra."
Escolhi a letra de Vera Cruz (Milton Nascimento/Márcio Borges), que pode ser lida como a mulher amada ou como a "mulher-pátria" ou ainda a composição ferroviária homônima que fazia o trajeto BH-Rio:
Hoje fui que a perdi/Mas onde, já nem sei/Me levo para o mar/Em Vera me larguei/E deito nessa dor/Meu corpo sem lugar
Ah, quisera esquecer/A moça que se foi/De nossa Vera Cruz/E o pranto que ficou/Do Norte que sonhei/Das coisas de um lugar
Nos rios me larguei/Correndo sem parar/Buscava Vera Cruz/Nos campos e no mar/Mas ela se soltou/Pra longe se perdeu
Quero em outra mansidão/Um dia ancorar/E ao vento me esquecer/Que ao vento me amarrei/E nele vou partir
Atrás de Vera Cruz
Ah, quisera encontrar/A moça que se foi/Do mar de Vera Cruz/E o pranto que ficou
Da lista, com Bituca: Clube da Esquina (Milton Nascimento/Lô Borges/Márcio Borges), Tudo que você podia ser (Lô Borges/Márcio Borges), Quem sabe isso quer dizer amor (Lô Borges/Márcio Borges), e, com Maria Rita, Voa bicho (Telo Borges/Márcio Borges). Com Lô Borges: Clube da Esquina 2 (Milton Nascimento/Lô Borges/Márcio Borges) e Um girassol da cor do seu cabelo (Lô Borges/Márcio Borges). Com Stanley Turrentine: Vera Cruz (Milton Nascimento/Márcio Borges). Com Ron Carter: Canção do Sal (Milton Nascimento/Márcio Borges).
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ATUALIZAÇÃO (14/07/09 às 21:45 hs.)
A japinha Udi Tarora, parceirinha 100% pediu; vai aí uma versão recente de Paisagem da Janela (Lô Borges/Fernando Brant). Segundo Márcio Borges, a letra foi escrita em Diamantina (MG), em 1971:
"Antes das gravações do álbum duplo, voltamos a Diamantina. A revista O Cruzeiro queria realizar uma reportagem conosco e lá estávamos, sempre acompanhados pelo carro de reportagem da revista. Formávamos um bando barulhento que só se deslocava coletivamente: eu, Bituca, Fernando, Lô, o fotógrafo Juvenal Pereira e um estudante de direito amigo de Fernando, Ildebrando Pontes. Fomos hospedados num hotel colonial, muito bonito e bem-arrumado. Meu quarto ficava numa ala do velho casarão que dava para a praça principal, enquanto o de Fernando tinha janelas que se abriam para uma igreja e o cemitério da cidade. Com toda a certeza isso foi a inspiração que teve para nos mostrar, certa manhã, à mesa onde fazíamos o desjejum, a letra que havia escrito ali, durante a noite, sobre um tema que Lô lhe passara: PAISAGEM DA JANELA."
Atendendo a um pedido da simpática e sensual blogueira Helô Muller (conheçam o blog dela aqui), segue lista com canções de João Bosco. Não pretendo fazer uma postagem sobre o compositor mineiro, que está no primeiríssimo time da mpb, mas quem acha que não se faz samba em Minas "é ruim da cabeça ou doente do pé". Samba, bolero, Espanha (moura), África, samba... (vejam aqui o excelente site oficial do artista).
Estreando "player" novo, que traz os vídeos de lambuja, segue a seleção: Corsário, Pret-a-Porter de Tafetá, O Mestre Sala Dos Mares, Bala Com Bala, Linha De Passe, Plataforma, O Ronco Da Cuica e Incompatibilidade De Gênios (todas em parceria com Aldir Blanc). Desenho de Giz e Quando o Amor Acontece (parcerias com Abel Silva). Jade e Das Dores de Oratórios (músicas e letras do autor). Papel Marché (parceria com Capinam), Mano A Mano (parceria com Chico Buarque), Nação (parceria com Paulo Emílio e Aldir Blanc) e Memória Da Pele (parceria com Waly Salomão).
O mais carioca dos letristas de sua geração, Aldir Blanc compôs a maior parte de sua obra (cerca de 300 letras) com a harmonia e as sonoridades mineiras de João Bosco, numa parceria que durou décadas. Mas compôs também com Maurício Tapajós, Moacyr Luz, Guinga, Ivan Lins, Cristóvão Bastos e Paulinho da Viola, entre outros. Na melhor tradição inaugurada por Noel, contou um pouco do dia a dia carioca (brasileiro) dos últimos 40 anos, em letras recheadas de denúncia, mas também de bom humor (aqui para uma rápida biografia e aqui para uma seleção de letras).
Com marcado engajamento político, a exemplo da maioria dos letristas seus contemporâneos, são dele os versos que viraram uma espécie de hino da anistia política, em O Bêbado e a Equilibrista. Rompeu com o governo Lula após o escândalo do Mensalão e com o ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil, a quem acusou de não representar a classe.
Literato completo, publicou como cronista no Pasquim, Playboy, Tribuna da Imprensa, Última Hora, O Estado de São Paulo, O Dia, Bundas e Jornal do Brasil. Crônicas, contos e poesias foram publicados sob os títulos: Um Cometa Cravado em sua Coxas, O Calcanhar da Memória, Brasil Passado a Sujo e Rua dos Artistas e Transversais, entre outros.
Selecionei algumas letras, por temática: De Frente pro Crime e Escadas da Penha (ambas em parceria com João Bosco) retratam a violência crônica do Rio, que só se agravou desde quando as músicas foram compostas:
Nas escadas da Penha/Penou no cotoco de vela/Velou a doideira da chama/Chamou o seu anjo-de-guarda/Guardou o remorso num canto/Cantou a mentira da nega/Negou o ciúme que mata/Matou o amigo de ala
Tá lá o corpo/Estendido no chão/Em vez de rosto uma foto/De um golEm vez de reza/Uma praga de alguém/E um silêncio/Servindo de amém...
Uma sessão de bangue-bangue? Bala com Bala (parceria com João Bosco)
A sala cala e o jornal prepara quem está na sala/Com pipoca e com bala e o urubu sai voando/O tempo corre e o suor escorre, vem alguém de porre/Há um corre-corre, e o mocinho chegando, dando./Eu esqueço sempre nesta hora (linda, loura)/Minha velha fuga em todo impasse;/Eu esqueço sempre nesta hora (linda loura)/Quanto me custa dar a outra face.
Ou, contando a história da Revolta da Chibata (1910), retratando seu líder, o marinheiro negro e gaúcho, João Cândido, em Mestre Sala dos Mares (em parceria com João Bosco):
Há muito tempo nas águas/Da guanabara/O dragão no mar reapareceu/Na figura de um bravo/Feiticeiro/A quem a história/Não esqueceu/Conhecido como/Navegante negro/Tinha a dignidade de um/Mestre-sala/E ao acenar pelo mar/Na alegria das regatas/Foi saudado no porto/Pelas mocinhas francesas/Jovens polacas e por/Batalhões de mulatas/Rubras cascatas jorravam/Das costas/Dos santos entre cantos/E chibatas/Inundando o coração,/Do pessoal do porão/Que a exemplo do feiticeiro/Gritava então/Glória aos piratas, às/Mulatas, às sereias/Glória à farofa, à cachaça,/Às baleias/Glórias a todas as lutas/Inglórias/Que através da/Nossa história/Não esquecemos jamais/Salve o navegante negro/Que tem por monumento/As pedras pisadas do cais
Fecho com esta versão modernista de Dom Quixote: O Cavaleiro e Os Moinhos (com João Bosco).
Acreditar/Há existência dourada do sol/mesmo que em plena boca/nos bata o açoite contínuo da noite./Arrebentar/a corrente que envolve o amanhã,/despertar as espadas,/varrer as esfinges das encruzilhadas./Todo esse tempo/foi igual a dormir num navio:/sem fazer movimento,/mas tecendo o fio da água e do vento./Eu, baderneiro,/me tornei cavaleiro,/malandramente,/pelos caminhos./Meu companheiro/ tá armado até os dentes:/já não há mais moinhos/como os de antigamente.
Da lista: com Leila Pinheiro, Catavento e Girassol (parceria com Guinga). Com Maria Alcina, Kid Cavaquinho (parceria com João Bosco). Com Nana Caymmi, Resposta ao Tempo (parceria com Cristovao Bastos). Com o Quarteto em Cy, Querelas do Brasil (parceria com Mauricio Tapajos). Com Elis, Transversal do Tempo (parceria com João Bosco). Com o MPB4, Amigo É Pra Essas Coisas (parceria com Sílvio da Silva Júnior). Com João Bosco, Amigos Novos e Antigos, Incompatibilidade de Gênios, Siri Recheado e o Cacete, O Bêbado e a Equilibrista, O Rancho da Goiabada, Dois pra la Dois pra cá (todas em parceria com João Bosco). E na voz do próprio Aldir, Pra que pedir Perdão (parceria com Moacyr Luz) e Lua sobre Sangue (música e letra do autor).
Fernando Brant formou com Ronaldo Bastos (leiam aqui post anterior dessa série) e Márcio Borges o trio responsável pela maioria das letras do chamado Clube da Esquina (vejam aqui o site "oficial" do Clube). Foi o parceiro mais frequente de Milton Nascimento, com quem compôs mais de duzentas de um total de cerca de trezentas canções gravadas.
Nascido na pequena Caldas, no sul de Minas; filho de juiz, morou também em Diamantina, antes de vir para Belo Horizonte. Do tempo de Diamantina são testemunhos Paisagem da Janela (Lô Borges/F. Brant), Beco do Mota (M. Nascimento/F. Brant) e Paixão e Fé (Tavinho Moura/F. Brant), entre outras. Ainda estudante secundarista, conheceu Bituca em 1965, que encomendou sua primeira letra em 1967: simplesmente Travessia (M. Nascimento/F. Brant), talvez a mais importante canção feita na Minas contemporânea... Formou-se em Direito e trabalhou desde jovem como jornalista, inicialmente na revista O Cruzeiro: Durango Kid (Toninho Horta/F. Brant) fala desse tempo. Em 1975 escreveu o roteiro e as letras das músicas do espetáculo Maria Maria, que lançou o grupo mineiro de dança, O Corpo, para o mundo. Na década de 1980 dirigiu a rádio estatal mineira Inconfidência FM, quando inovou tocando, exclusivamente, música brasileira. Ainda hoje assina uma ótima coluna semanal no jornal O Estado de Minas, da qual é uma coletânea o livro O clube dos gambás(aqui para uma rápida biografia e aqui para um resumo de sua obra).
De longe o mais mineiro dos letristas, dialogou com a poesia de Drummond e expressou os sonhos de sua geração, assumindo em suas letras a luta pela redemocratização do país; como, por exemplo, em Sentinela, Coração Civil, Menestrel das Alagoas e Carta à República (todas em parceria com Bituca). Dono de versos simples; "palavras boas de cantar"; poeta que deu nome de gente a jipes e cadelas; de cidades onde "as mulheres são morenas, os homens serão felizes como se fossem meninos"; menestrel da amizade; "para a moça: flores, janelas e quintais"; cantor das marias de Minas, em "dose mais forte e lenta"... Lirismo puro!
Das dezenas de letras que selecionei, escolhi Canções e Momentos (Milton Nascimento e Fernando Brant):
Há canções e há momentos Eu não sei como explicar Em que a voz é um instrumento Que eu não posso controlar Ela vai ao infinito Ela amarra todos nós E é um só sentimento Na platéia e na voz Há canções e há momentos Em que a voz vem da raiz Eu não sei se quando triste Ou se quando sou feliz Eu só sei que há momentos Que se casa com canção De fazer tal casamento Vive a minha profissão
Na voz de Bituca, a verdadeira "The Voice": Encontros e Despedidas, Beco do Mota, Maria Maria, Canção da América, San Vicente, Itamarandiba, Travessia (todas em parceria com Bituca) e Durango Kid (T. Horta/F. Brant). Com o Boca Livre, Diana (T. Horta/F. Brant) e Ponta de Areia (M. Nascimento/F. Brant). Com o 14-Bis e Samuel Rosa, Bola de meia - bola de gude (M. Nascimento/F. Brant). Na linda interpretação de Nana Caymmi, Fruta Boa (Sueli Costa/F. Brant). Com Beto Guedes, Maria Solidária (M. Nascimento/F. Brant). Numa bela versão com Monica Albuquerque, Manuel, o Audaz (T. Horta/F. Brant). E com os Paralamas do Sucesso, Feira Moderna (Lô Borges/Beto Guedes/F. Brant).
É bastante conhecida a rivalidade musical entre Lennon e McCartney, ao tempo dos Beatles. A rigor, esta saudável concorrência (e, diga-se de passagem e ao contrário do que pensam certas empresas petrolíferas quase-monopolistas, a concorrência é sempre saudável) foi a responsável, em última instância, pelo número espetacular de grandes canções gravadas pela banda.
Mas a disputa continuou após o término do conjunto. A provocação, atribuída a McCartney ainda no primeiro álbum solo, veio com Too many People, 1971 (bem como por outras canções que, segundo se diz, Lennon considerou a ele dirigidas: "Dear Boy" e "The Back Seat Of My Car"). A resposta de Lennon, em termos quase grosseiros, veio com How do you sleep?, 1971. Tempos depois McCartney retomaria o tema, em Silly Love Songs, 1976, numa referência sutil ao engajamento político de Lennon, como em Woman is the Nigger of the World, 1972.
Completam esta seleção, de Lennon: Love, 1970 (uma balada digna de McCartney) e One Day (At a Time), 1973. De McCartney: Maybe I'm Amazed, 1970 (escrita ainda em 1968) e The Girl is Mine (Michael Jackson), 1982, que lembra bastante a nossa "Teresa da Praia" (Tom Jobim e Billy Blanco), imortalizada nas vozes de Dick Farney e Lúcio Alves.
De Harrison (que pouca chance teve de mostrar suas músicas no tempo da banda): Bangladesh, 1971 (feita para o show beneficente em New York, em favor dos exilados daquele país); Love Comes To Everyone, 1979 (em gravação ao vivo, com Eric Clapton, com o qual disputou o amor de "Layla"); This is love, 1987 e When We Was Fab (em parceria com Jeff Lynne), 1987.
Amigos, por motivo de força menor (by Luciana G) este chalezinho fará breve recesso. Volto na próxima semana. Hasta la vista, babies!
Calma, muita calma nesta hora! Não se trata de nenhuma proposta indecorosa, mas de um dos muitos versos que Lennon dedicou à sua mulher, Yoko Ono, a japinha. Estão na canção Oh Yoko, 1971, do álbum Imagine. Do mesmo álbum é Gimme Some Truth, 1971, uma das muitas canções de protesto feitas pelo compositor (no caso específico, contra a Guerra do Vietnã) sobre uma belíssima construção melódica. Anterior às duas é Isolation, 1970, do primeiro álbum solo. Beautiful Boy (Darling Boy), 1980, feita para um dos filhos do compositor, completa a seleção dessa série. Um de seus versos, "Every day in every way/It's getting better and better", dialoga com o clássico dos Beatles, escrito por McCartney...
Deste último selecionei canções mais recentes, exceto Too many People, 1971 e Jet. 1973. Pipes of peace, 1983, nada tem a ver com divergências blogosféricas e Young Boy, 1997, não previra, suponho, que as pessoas demorariam cada vez mais para amadurecer.... rss. Por último, Ever Present Past, 2007, sugere que pouco sobra da velocidade e superficialidade dos tempos atuais.
De Harrison (desta feita não vou postar nenhuma de Starr): Dark Horse, 1974, que não se relaciona com passeios de Lady Godiva nem outras damas "avassaladoras"; Got My Mind Set on You (Rudy Clark), 1988 e This Song, 1989.
ATUALIZAÇÃO (09/05/09 às 11:50 hs.)
Aos amigos beatlemaníacos de plantão (e sei que são muitos e de todas as idades): meu chapa Dom Marcos Rocha I (e único), seguindo linha de postagens de utilidade pública, ensina como ter orgasmos múltiplos escutando a velha e boa música dos 4 sacaninhas de Liverpoll (link aqui).
E aproveitando o ensejo - e já que a japinha, gostem ou não, fez sucesso mesmo -, segue lista com The Ballad Of John And Yoko (Lennon/McCartney), 1969; Dear Yoko, 1980 e Oh Yoko, as duas últimas em versão acústica.
Ano que vem, exatamente no dia 10 de abril, completar-se-ão 40 anos do fim dos Beatles. Eu disse fim? Bem, mera força de expressão, a julgar pelo recorrente interesse das novas gerações pela música produzida pelos chamados 4 fabulosos de Liverpool... Veja-se, por exemplo, esse post da Sayonara, uma das mais jovens integrantes da "Confraria".
Mas mesmo depois da dissolução da banda os 4 continuaram a produzir ótima música, independente do gênero que se deseje confiná-la. Dezenas das canções produzidas após a separação tornaram-se novos clássicos da chamada pop music; muitas clássicos da música universal. Esta seleção traz algumas delas e tenho material para meia dúzia de postagens, por baixo...
De McCartney: Every Night, 1970; Ram On, 1971; Another Day, 1971; My Love, 1973 e Distractions, 1989. De Lennon: Mother, 1970; Jealous Guy, 1971; Oh My Love, 1971 e Womam, 1980. De Harrison: All Things Must Pass, 1970 e Someplace Else, 1987. De Starr: Photograph (Harrison), 1973.
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E bom fim de semana a todos...
ATUALIZAÇÃO (26/04/09 às 11:40)
Amigos, cometi um grosseiro erro de avaliação ao julgar que algumas ilustres leitoras estavam a praticar greve de sexo, ops, de comentários em relação a este postinho. Esse meu cartesianismo vulgar ainda me mata... Na verdade, como pude depreender, depois de alguns conselhos kantianos doMr Portuga, tratava-se de um protesto contra a fórmula que adotei de fazer uma postagem por semana sobre esse assunto.
Rendendo-me às evidências e comprovando a tese de que as leitoras sempre tem razão, antecipo em uma semana a segunda postagem sobre as carreiras-solo dos 4-fab:
Com Lennon: How?, 1970; Imagine, 1971; Stand by Me (Leiber/Stoller/King), 1975 e (Just Like) Starting Over, 1980. Com McCartney: Uncle Albert, 1970; Mrs. Vandebilt, 1974; Here Today*, 1982 e My brave face, 1989. Com Harrison: My Sweet Lord, 1970; Give me Love, 1973 e All those Years Ago*, 1981. Com Starr: It don't Come Easy (Harrison), 1973.
(*) As duas canções foram compostas em homenagem à Lennon, depois de sua morte.
1º- Porque era dona de uma técnica vocal impecável Apesar de não ter formação de canto lírico e, portanto, não impostar a voz; impressiona o domínio que tinha da respiração; a capacidade, intuitiva, de dividir os compassos sem atravessar o ritmo; e, uma afinação perfeita, do princípio ao fim das frases musicais, sem nunca semitonar. Reparem nesses aspectos, por exemplo, em As Aparências Enganam (Tunai / Sérgio Natureza); Dois Pra Lá, Dois Pra Cá (João Bosco / Aldir Blanc); Madalena (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro de Souza) e É Com Esse que Eu Vou (Pedro Caetano).
2º- Porque suas interpretações transbordavam emoções e sentimentos Por incrível que pareça, chegou a ser criticada por ter "apenas técnica". Convenhamos, precisa ser muito burro ou muito surdo... Talvez esse seja o aspecto que melhor a caracterize como intérprete, às vezes até com certo exagero dramático. Atentem ao escutar Se eu quiser falar com Deus (Gilberto Gil); Me Deixas Louca (Armando Manzanero / Versão: Paulo Coelho) e Aos Nossos Filhos (Ivan Lins / Vitor Martins).
3º- Porque lançou grandes compositores, muitos inéditos Nada contra as novas gerações de cantoras-compositoras, mas cada vez menos grava-se novos autores. Foram os casos de João Bosco, Dori Caymmi, Milton Nascimento, Edu lobo, Ivan Lins e até alguns que talvez não fossem muito conhecidos se não lançados pela cantora, como Renato Teixeira, Tunai (irmão de João Bosco) e Belchior: Arrastão (Edu Lobo / Vinicius de Moraes); Upa Neguinho (Edu Lobo/Gianfrancesco Guarnieri); Me deixa em paz (Ivan Lins e Ronaldo Monteiro de Souza); Como Nossos Pais e Velha roupa colorida (Belchior); O Cantador (Dori Caymmi / Nelson Motta); Romaria (Renato Teixeira) e Maria Maria (Milton Nascimento / Fernando Brant).
4º- Porque formou um repertório com o que de melhor tinha a mpb Dos clássicos do choro ao rock brasileiro, passando pela bossa nova e pelo samba, inclusive aquele feito em São Paulo. Sempre com um toque pessoal e arranjos excepcionais: Chovendo na Roseira (Tom Jobim); Nega de Cabelo Duro (Rubens Soares / David Nasser); Aquarela do Brasil (Ary Barroso); Carinhoso (Pixinguinha / Braguinha); Fascinação (F.D.Marchetti / M.de Feraudy / Versão Armando Louzada) e Tiro ao Álvaro (Adoniran Barbosa / Oswaldo Moles).
5º- Porque transformou algumas canções em clássicos São muitas, cito da lista as que faltam: Casa no Campo (Zé Rodrix / Tavito); Me deixa em Paz (Ivan Lins / Ronaldo Monteiro de Souza); O Bêbado e a Equilibrista (João Bosco / Aldir Blanc); Aprendendo a Jogar (Guilherme Arantes); Só tinha de ser com Você (Tom Jobim /Aloysio de Oliveira) e Redescobrir (Gonzaguinha).
Incluí uma versão de Chega de Saudade (Tom Jobim / Vinícius de Morais), em dueto com Nara Leão, na qual o timbre metálico da cantora ameniza-se e prova, mais uma vez, que ela fazia o que queria com as cordas vocais...
ATUALIZAÇÃO (11/04/09 às 13:45 hs.)
Para aqueles que desejarem mais informações, encontrei dois bons sites com biografias e dados da carreira da cantora (aqui e aqui). Também dois blogs (aqui e aqui). Por fim, uma pesquisa nos blogs indica que a cantora é um dos temas mais postados na blogosfera (aqui).
Por sugestão dos meus amigos Cora e Marcos Rocha incluo vídeos de Atrás da Porta (Francis Hime / Chico Buarque) e a minha predileta, Na Batucada da Vida (Ary Barroso / Luiz Peixoto). Na barra lateral...